Wednesday 20 October 2010

Teoria da Inovação - Terence McKenna

Ou como esses três vídeos superam tudo o que eu possa escrever por aqui. Indispensável.






Wednesday 6 October 2010

Meditação da Chama Branca

"Existe um enigma: como pode você retirar o ganso da garrafa sem partir a garrafa ou matar o ganso? Alguns estudantes passam anos refletindo nele. Não há nenhum ganso, Jack - nem garrafa. Apenas palavras. Veja! O ganso está livre!"

El Fayed, em Os Invisíveis.



Como anunciara anteriormente, hoje me venho debruçar sobre aquele que considero um dos livros mais importantes do meu túnel de realidade: Psicologia Quântica, de Robert Anton Wilson (RAW).

Em Psicologia Quântica, RAW se debruça sobre muitos temas, todos eles convergentes: linguagem, mecânica quântica, psicologia, relatividade, etc. Acho Psicologia Quântica um livro de tal modo importante que julgo se justificaria sua presença nas escolas de todos os países. Explicarei porquê.

Nesse livro, RAW resgata muitas teorias meio esquecidas (como as de Korzybski) com outras tantas das quais apenas a comunidade científica tem plena noção.

Já alguma vez você pensou que talvez grande parte das forças negativas que povoam nosso mundo podem ter origem na linguagem? Veja esses dois excertos de Psicologia Quântica:

«Em 1933, em Ciência e Sanidade, Alfred Korzybski propôs a abolição do "is de identidade" do inglês. Em 1949, D. David Bourland Jr. propôs a abolição completa de todas as formas da palavra "is" ou "to be" e a Proposta Bourland (o inglês sem "is") foi chamada E-Prime, ou English-Prime»


«O E-Prime parece resolver muitos problemas que de outra forma pareceriam intratáveis, e também serve como antibiótico contra aquilo que Korzybski definia como "pensamento demonológico." »


Que significa tudo isso, do E-Prime?
Imagine que, no português, todas as formas do verbo "ser" se aboliam.
Imagine.
Imagine o que isso implicaria.

O que Korzybski e Bourland defendem, em termos simples, se trata em primeiro lugar da eliminação da lógica aristotélica de nossas linguagens. Defendem uma transição de nossas linguagens de acordo com as descobertas científicas atuais, ou seja, gerar uma linguagem assente nos princípios básicos da Mecânica Quântica. Ainda não entendeu? Outro excerto:

«A civilização Ocidental chegou à certeza prematura com Platão e/ou Aristóteles, atingiu outro tipo de certeza prematura com Tomás de Aquino e restantes teólogos medievais, atingiu uma terceira certeza prematura com Newton e a Idade da Razão, etc. Hoje em dia, aqueles com melhores níveis educacionais aparentam ter chegado a um estado de "tentar pôr suas cabeças no lugar" e "correndo num vazio." A civilização Ocidental também não tem quaisquer suspeitas de que as revoluções das próximas duas décadas a irão transformar e ao presente túnel de realidade em dezenas de maneiras incapazes de prever em 1990...»


«Aristóteles nos deixou com duas escolhas: "Verdadeiro" ou "Falso". John Von Neumann acrescentou um Talvez


Acontece que nossas linguagens, mesmo à luz do conhecimento científico atual, continuam se comportando como se existisse uma realidade absoluta. Como se uma coisa "fosse" algo apenas, completa e absolutamente.

O verbo ser, em todas suas formas, implica a atribuição de uma verdade absoluta a um universo relativo que nos rodeia. A lógica aristotélica, dogmática, permite que frases como a seguinte, simples e perigosas, continuem incólumes e acima de qualquer crítica:

A relva é verde


Mas como diz RAW, cada frase contendo o verbo ser contém igualmente uma falácia. A relva, em si, não "é" verde. Nossos olhos, um dos cinco instrumentos biológicos que possuímos para interpretar a realidade que nos rodeia, através da luz, geram aquilo que designamos pela cor verde.

Uma das críticas que RAW faz em Psicologia Quântica se dirige ao recente dogmatismo científico, em que cientistas se comportam como bichos dogmáticos de religião e política. No capítulo "Culto dos Instrumentos", RAW enaltece a forma como pessoas do meio científico julgam ter uma interpretação absoluta da realidade através de novos instrumentos de análise como raios-X, infra-vermelhos ou microscópio, se esquecendo de que tudo o que esses instrumentos nos dizem não diz nada absoluto do universo, mas apenas a parte desse universo que nossos instrumentos biológicos (sentidos) conseguem interpretar.

RAW apresentava constantemente, em suas palestras, o seguinte enigma Zen:

Quem "é" o mestre que faz a relva verde?


A resposta, passa pelo sistema nervoso humano. No fundo, somos nós que criamos nossa realidade, mas achamos que essa realidade "é" absoluta. Pois, parece que não.

No fundo, o E-Prime equivale àquilo a que faríamos no português se abolíssemos o verbo ser.
Aí você veria a inteligência crescer a uma escala impressionante, como esperava Korzybski.
Alguns exemplos de português normal e de português de inspiração E-Prime (aceitam-se sugestões para um nome, para agora lhe chamarei PT Prime) retirados de Psicologia Quântica:

Português Normal:

1 - O fotão é uma onda;


2 - O fotão é uma partícula;


3 - O João é infeliz;


4 - O João é feliz;


5 - Isso é uma idéia fascista;


6 - Beethoven é melhor que Mozart;


7 - A relva é verde;




PT Prime:


1 - O fotão se comporta como uma onda quando observado por certos instrumentos                 
                                                          
2 - O fotão parece uma partícula quando observado por certos instrumentos;


3 - O João parece infeliz no escritório;


4 - O João parece feliz na praia;


5 - Isso me parece uma ideia fascista;


6 - No meu presente estado de educação musical e ignorância, Beethoven me parece melhor que Mozart;


7 - A relva parece possuir a cor verde de acordo com a maior parte dos olhos humanos.




A fraqueza da Aristotélica "isness" ou como lhe chamarei, "faculdade de ser" (também se aceitam sugestões melhores) permanece no fato de assumir uma inegável "coisice" -- a assunção de que todo o "objeto" contém aquilo que o filósofo alemão Max Stirner chamava "spooks", uma caraterística intrínseca, algures entre o fantasmagórico e a aldrabice pura.

O universo Aristotélico assume uma reunião de "coisas" com "essências" ou "spooks" dentro delas, onde o universo científico moderno assume uma rede de relações estruturais.

Quer ver o pensamento Aristotélico (pior que medieval) funcionando? Leia a frase seguinte:

Esse pão é o corpo de Cristo.


Ora o que essa frase, produzida pelo dogma de Aristóteles, nos diz que um pedaço de pão "é" na realidade o corpo de um homem que morreu há mais de 2000 anos. E nesse pensamento funcionam todas as religiões e políticas - mas por uma razão, como indica RAW:

«O hábito dogmático Aristotélico reforça e se reforça pelos antigos imperativos territoriais dos mamíferos. Os primatas selvagens, como outros vertebrados, clamam territórios físicos; os primatas domesticados (humanos) clamam territórios "mentais" - ideologias e religiões.»


Confesso que muita luz se fez na minha cabeça quando li isso em Psicologia Quântica.

A questão que se põe com o E-Prime (pelo menos, uma delas) me parece ser a seguinte:

Se você entender seu corpo como um computador, você sabe o que acontece a seu computador quando nele funciona software de merda. Agora veja, se estivermos utilizando software de merda em nossos cérebros, talvez aí esteja um dos motivos pelos quais não somos capazes de funcionar plena e racionalmente.

Ainda de Psicologia Quântica:

«No geral, as pessoas julgam tratar-se de algo "varonil" pronunciar vereditos dogmáticos e lutar por eles, e admitir incerteza quântica (o talvez de Von Neumann) parece "efeminado". O feminismo normalmente desafia este machismo, mas, tal como aquele com quem luta, certas feministas parecem pensar que vão aparentar maior força se falarem e se comportarem tão dogmaticamente e anticientíficamente como os mais estúpidos machos machistas.»


«As pessoas ignoram o talvez quântico, possivelmente porque eles nunca ouviram falar de lógica quântica ou psicologia transaccional, mas também o ignoram porque a política e religião tradicionais têm continuamente condicionado as pessoas por milênios - e ainda as treinam hoje - para agir com intolerância e certeza prematura.»


Quando dizemos "O João é" qualquer coisa, abrimos sempre as portas a debate insensato e metafísico.

Agora, gostaria de saber o que você pensa sobre esse post. Que reflita nisso.

Gostaria também que, de acordo com tudo o que aqui foi dito do E-Prime, comecemos nós trabalhando num português não dogmático e mais científico. Portando, se aceitam sugestões.

Tente banir o verbo ser de sua linguagem, talvez para sempre. Tente o mais que puder e observe sua inteligência aumentando - e sobretudo sua maior compreensão para com o universo que o rodeia.

Se você se treinar no E-Prime (ou PT-Prime) verá que terá maiores precauções em lançar julgamentos acerca de outras pessoas ou coisas.

"There is no spoon."