Monday 27 December 2010

Mudança Cerebral Induzida

Mudando seu cérebro, pode mudar muita coisa em você. O cérebro humano opera em dois hemisférios, direito e esquerdo. Veja esse vídeo:



Se você conseguir ver a bailarina dançando no sentido dos ponteiros do relógio, você opera com o lado direito do cérebro. Se for no sentido contra os ponteiros do relógio, opera o esquerdo. Meu lado esquerdo se afirmou mais dominante do que o direito. Nenhum dos lados se pode classificar como sendo melhor ou pior que o outro - o segredo, para mim, reside no equilíbrio entre as duas partes.

Uma mudança cerebral pode se tornar um processo longo, e que ao final dele, você nem note diferença nenhuma. No entanto, pessoas que não o/a vejam durante alguns anos irão notar a diferença. Você pode mudar seu cérebro de muitas maneiras. O iôga, drogas psicodélicas ou alimentação - todos eles podem mudar a forma como seu cérebro opera.

Desde a escola nos ensinam que devemos escrever usando apenas uma mão. Conheço várias pessoas que, antes dos professores os limitarem a usar uma mão, usavam ambas. Adquirir ambidextria pode significar mais do que a habilidade de escrever usando as duas mãos - significa também o uso dos dois hemisférios cerebrais. Aleister Crowley aconselhava muitas vezes seus alunos a adquirirem a habilidade de escrever de igual forma com ambas as mãos, ou não tivesse Crowley também incorrido numa profunda mudança cerebral. O vídeo seguinte descreve de alguma forma como e de que se compõem os dois hemisférios cerebrais.





O ponto descrito com a transição das sociedades antigas, onde existia não apenas um equilíbrio das partes como uma dominância do hemisfério direito, mostra como a supressão de nosso lado feminino aconteceu. O lado esquerdo do cérebro, como o vídeo descreve, originou uma sociedade patriarcal, assente no desprezo pela mulher. Mas não apenas a mulher, o lado feminino que em todos nós existe. E a supressão do lado feminino produz agressividade. Essa agressividade pode ser vistam, por exemplo, no comportamento homofóbico e machismo.

Isso mostra que a mudança cerebral (qualquer que ela seja) pode operar também ela mudanças profundas numa sociedade.

Algumas técnicas que você pode utilizar e que poderão operar mudanças no modo de funcionamento do seu cérebro:

- Pranayama, uma técnica de controle respiratório. Robert Anton Wilson aconselha vivamente a respiração de narinas alternadas (inspirar por uma narina, expirar pelas duas, e inspirar pela outra, expirar pelas duas). O exercício, quanto mais tempo por dia for praticado, melhores os resultados. Para começar, 7 a 10 minutos chegam;

- Meditação - Quatro sessões diárias de 15 minutos (manhã, depois de almoço, final de tarde, noite) fazem seu cérebro funcionar melhor;

- Exercício físico - sim, o exercício físico importa. Segundo a New Scientist, algum exercício físico ajuda a circulação sanguínea e como tal ao sangue chegar em melhores condições ao cérebro;

- Alimentação - Você se torna naquilo que come. Mas alguns alimentos se mostram particularmente bons para o cérebro. Mirtilos, cajus, alimentos contendo hidratos de carbono, frutos - todos eles contribuem para um cérebro melhor. Substituição do açúcar comum por mel ou frutos também importante.

- Ambidextria - a tecnologia parece estar fazendo isso por nós, com a introdução do teclado.
Em "A Ascensão de Prometeus", Robert Anton Wilson aborda as diferenças entre os hemisférios direito e esquerdo do cérebro humano, e sua relação com a escrita:

"Neurologia recente nos tem mostrado que nossa tendência a ser destros se encontra intimamente ligada com o fato de usarmos mais o hemisfério esquerdo do cérebro que o direito. De fato, tão raramente usamos o hemisfério direito que ele era antigamente descrito como o hemisfério silencioso.
Portanto, existe uma preferência genética na maioria dos humanos para manipulações destras e execuções esquerdinas. Essas coneções parecem intimamente envolvidas no nosso circuito verbal e semântico, porque o hemisfério esquerdo é o cérebro "falante". Se pode descrever como linear, analítico, computacional e bastante verbal. Portanto, existe uma base neurológica para a ligação entre mapeamento e manipulação. A mão direita manipula o universo (e faz artefatos) e o cérebro esquerdo mapeia os resultados num modelo, o que permite previsões acerca de comportamentos futuros dessa parte do universo. (...)
Os esquerdinos (canhotos), pelo contrário, se especializam em funções do cérebro direito, que se descrevem como holísticas, supra-verbais, "intuitivas", musicais e "místicas". Leonardo da Vinci, Beethoven e Nietzsche, por exemplo, escreviam todos com a mão esquerda. Tradicionalmente, os canhotos têm sido alvo de medo e reverência - descritos como esquisitos, xamânicos e provavelmente capazes de comunicar com "Deus" ou "o Diabo"."
Você pode fazer uma pesquisa e notar facilmente que as percentagens de "gênios" que escrevem com a mão esquerda se mostra superior aos que escrevem com a mão direita. Isso deve se considerar mais que mera coincidência.

Elaborei essa lista após leituras de Robert Anton Wilson, Chrisopher Hyatt e alguns artigos na New Scientist. Não importa se você pensa que isso irá ou não funcionar, experimente e logo verá. Como diz Crowley, ao fazer certas coisas, certos resultados se seguirão.

Wednesday 15 December 2010

Religião e a Mente Bicameral

Um dos responsáveis pela minha recente alteração de posição relativamente ao papel da religião na sociedade humana - Alister Hardy. Tudo por causa da entrevista que dele ouvi nesse site.

De fato muito se tem dito que a religião se trata de um problema, mas como diz Hardy, "O homem é um animal religioso".

Em A Origem da Consciência no Colapso da Mente Bicameral, Julian Jaynes mostra como a religião sempre foi um meio de organização social, e que as perspectivas sobre os deuses nem sempre foram as mesmas. A idéia principal do livro se mostra efetivamente apocalíptica. Tal qual como afirma William Harrington na contracapa do livro, a obra de Jaynes torna "estantes inteiras de livros obsoletas". E talvez sim.

A idéia principal passa pelo seguinte: e se o homem nem sempre tiver tido consciência de suas ações? E se a consciência não for, como pensava Darwin, um fator evolutivo, mas cultural? Através de diversos relatos e provas consistentes, Jaynes mostra que a consciência humana não terá começado até à cinco mil anos atrás. E o que aconteceu portanto, à cerca de cinco mil anos?
A resposta é, a invenção da escrita.

Então o que haveria antes disso? Segundo Jaynes, antes do "eu", havia a mente bicameral.
A mente bicameral, ou mente de duas câmeras, consistia no seguinte: consciência se dividia em duas partes distintas, o deus e o homem. A parte direita do cérebro alucinava o "deus" (que sempre representava uma entidade superior ao que tinha a alucinação) e a parte esquerda recebia as ordens dessa alucinação. Os homens não pensavam no sentido que hoje entendemos. Respondiam simplesmente a estímulos alucinatórios.

Jaynes dá o exemplo da Ilíada, em que nenhum dos personagens pensa ou interioriza o pensamento, mas simplesmente obedece aos deuses. Temos vivendo interpretando os deuses como uma coisa exterior, mas e se representarem antes uma coisa interior?

O livro de Jaynes faz qualquer pessoa como eu, que duvida da religião, pensar duas vezes. E à medida que se lê, se compreende o porquê das coisas terem chegado ao ponto que chegaram. Quando a mente bicameral deu origem à consciência moderna, houve caos.
Muita gente morreu. As pessoas não compreendiam porquê os "deuses" as tinham "abandonado" e se gerou na mente coletiva o pensamento de que os deuses partiram porque a humanidade tinha feito algo de incorreto. Aí se geraram esses conceitos de pecado, das coisas que os deuses querem que façamos e não façamos. Se gerou o mito de que os deuses tinham partido para uma morada "no céu" e então se geraram os intermediários alados entre deuses e homens, também chamados de anjos. Tudo isso faz enorme sentido.

Se compreende então também o porquê da existência da autoridade religiosa, como padres. No momento do colapso da mente bicameral, nem todos os homens a perderam. Durante talvez um milênio continuaram a existir este tipo de mente, mas em menor escala. Estas mentes talvez fossem tidas como "oráculos" e lhes era dada uma autoridade religiosa. Em suas mentes bicamerais, eles conseguiam ainda "contactar" com os deuses, e as pessoas, sofrendo o choque de uma alteração mental, procuravam essas pessoas para orientação.

Existem fatos bastante curiosos sobre a posição dos deuses em relação aos homens há cinco mil anos. Na Suméria, desenhos representativos dos homens e deuses nunca mostravam os homens como hoje, se ajoelhando perante os deuses, lhes pedindo clemência. Pelo contrário, o homem era visto antes de pé, sendo que o deus se sentava numa cadeira o aconselhando sobre o que fazer. Com o colapso da mente bicameral, se originou no mundo o que temos hoje. A noção de pecado, de penitência.

O que o colapso da mente bicameral coloca em xeque? Uma série de coisas. Por exemplo, na minha opinião, a história se torna obsoleta. Sim. Nos ensinaram que "a história se repete". Mas e se não repetir? Se a consciência humana for sempre sofrendo alterações, a história dos homens nunca se repetirá. Mais: me parece inútil olhar para exemplos históricos passados porque suas circunstâncias devem se entender sempre como diferentes das nossas. O que eu acho que esse colapso nos ensina sim algo que há muito devíamos ter aprendido, a viver no presente.

Isso pode indicar que outros colapsos, ao longo da história, irão existir. O colapso de 2012 indicado por McKenna e narrado em Os Invisíveis por Grant Morrison pode acontecer. "O complexo de múltipla personalidade como opção de vida", pode se tornar algo real.

E agora voltando a Alister Hardy, ele fala nessa entrevista de coisas bastante curiosas. Por exemplo, como o homem parece sempre procurar aconselhamento em algum ser superior. Com o colapso da mente bicameral, e na ausência de alucinações, a noção de "deus" se tornou abstracta. "Deus" perdeu sua antropomorfização e se tornou para a mente humana uma entidade diferente, mais complexa. Hardy compara a relação dos homens com "deus" com a relação que o cão tem com os homens. Esta é uma relação sobre a qual sei muito pouco, mas me parece muito curioso, como indica Hardy, que a certa altura os cães terem deixado de seguir o líder de sua matilha para seguir um ser de outra espécie. Isso me parece muito curioso.

Muito curioso também as palavras inglesas para cão e deus (dog e god) se mostrarem uma inversão uma da outra. Mera coincidência? Eu lhe chamaria sincronicidade.

No discurso de Hardy se encontra algo que comecei a pensar recentemente. Que o problema da religião não está na religião em si, mas nos seus líderes. E realmente, a diferença entre um Papa e um Dalai Lama me parece atroz. Como diz Hardy, "se Jesus Cristo vivesse hoje em dia, dificilmente seria um cristão". Mas esse fenômeno, a que chamarei a decadência das elites, existe em todas as outras áreas.

Gosto do que Alain de Botton diz nessa palestra no Ted Talks. Que pela primeira vez na história, vivemos numa sociedade em que o homem se venera a si mesmo. Esta nova religião, também conhecida como narcisismo, talvez seja um dos motivos de nossa decadência. Ela deu origem à aberração da chamada "celebridade", mas nem todos os egos parecem estar preparados para enfrentar semelhante coisa. Portanto, alguns entram em decadência.

This is my truth, tell me yours.

Friday 10 December 2010

Makrolexicon, parte I

Para estruturar o Makrolexicon, que anunciei no post anterior, será necessária alguma pesquisa, não apenas minha como dos leitores, para sugestões que tornem esse um projeto mais ambicioso. As palavras nos parecem 'coisas' tão óbvias, tão reais, que nunca pensámos que elas pudessem ser criadas. E das maiores dificuldades com que já me deparei foi sobretudo essa: como criar palavras?

Em "A Origem da Consciência no Colapso da Mente Bicameral" (tradução minha), Julian Jaynes tem um livro de idéias absolutamente apocalípticas e que devia ser lido por todos os que pretendem ter outra perspectiva sobre a origem das religiões, fora de conspirações e coisas do gênero. Mais tarde farei um post sobre ele. Mas logo no início do livro, Jaynes nos fornece algumas dicas sobre a criação da linguagem que penso se mostrarão essenciais. Senão vejamos:

"Metáfora e Linguagem

Falemos então de metáforas. A mais fascinante propriedade da linguagem é sua capacidade de fazer metáforas. Mas isto é minimizar tudo isso! Pelo que a metáfora não é apenas um mero truque extra da linguagem como é comum ser descrita nos velhos livros escolares, mas o verdadeiro assento da linguagem. Eu estou usando a metáfora aqui no sentido mais geral: o uso de um termo por uma coisa para descrever outra porque existe algum tipo de semelhança entre elas ou entre suas relações com outras coisas. Existem portanto sempre dois termos numa metáfora, a coisa a ser descrita - a que chamarei o metaphrand - e a coisa ou relação usada para a elucidar, à qual chamarei o metaphier. A metáfora é sempre um conhecido metaphier operando num metaphrand menos conhecido. Inventei esses termos híbridos simplesmente para fazer eco da multiplicação onde o multiplicador opera num multiplicando.
É pela metáfora que a linguagem cresce. A resposta comum à questão "O que é isso?" é, quando a resposta é difícil ou a experiência algo de único, "Bem, é como --." Em estudos laboratoriais, quando ambos crianças e adultos descrevem objetos absurdos (ou metaphrands) a outras pessoas que não os conseguem ver, usam metaphiers que com a repetição se acabam por transformar em rótulos. A grande e vigorosa função da metáfora é a geração de nova linguagem quando ela é precisa, à medida que a cultura humana se torna mais e mais complexa."

Esse excerto deve servir como introdução. Aqui Jaynes nos anuncia que a metáfora não só se usa como ferramenta linguística como é a verdadeira base de toda a linguagem. E nos adianta dois termos:
- Metaphrand - A coisa/ação/acontecimento/sensação a ser descrita
- Metaphier - A relação utilizada para descrever.
Seguimos com mais um excerto do livro de Jaynes.

"Mesmo uma palavra que soe tão pouco metafórica quanto o verbo 'to be' (ser e/ou estar) foi gerado por uma metáfora. Ela vem do Sânscrito bhu, "crescer, ou fazer crescer," enquanto que as formas inglesas de 'am' e 'is' evoluíram da mesma raíz que o Sânscrito asmi, "respirar". (...)
As palavras abstractas são moedas antigas cujas imagens concretas, no atribulado dá-e-toma da conversa se gastaram com o uso. (...)
Porque durante nossas breves vidas nós captamos tão pouco da vastidão da história, tendemos a pensar na linguagem como algo sólido como um dicionário, de uma permanência granítica, em vez do mar sem descanso de metáfora que na realidade ela é. (...) Mas se alguma vez atingirmos uma linguagem que tenha o poder de exprimir tudo, então a metáfora não mais será possível. (...) O léxico da linguagem é, então, um conjunto finito de termos que através da metáfora conseguimos esticar até um conjunto infinito de circunstâncias, criando mesmo novas circunstâncias. "


E agora para dois termos essenciais para completar uma metáfora e portanto criar linguagem - os paraphiers e paraphrands.

"Paraphiers e Paraphrands

Se olharmos com maior cuidado para a natureza da metáfora (notando a natureza metafórica de quase tudo o que dizemos), nós descobrimos que é composta de um metaphier e metaphrand. Existem também na sua base as mais complexas associações metafóricas ou atributos do metaphier, aos quais chamarei paraphiers. E esses paraphiers se projetam no metaphrand naquilo que eu chamarei os paraphrands do metaphrand. Algo confuso, mas absolutamente necessário se quisermos ser claros sobre nossos referentes. (...)
Considere a metáfora que a neve cobre o chão num manto.
O metaphrand é algo acerca da plenitude e mesmo grossura com que o chão é coberto de neve. O metaphier é o manto cobrindo uma cama.
Mas as nuances agradáveis desta metáfora estão nos paraphiers do metaphier, manto. Estas são sobre proteção, aquecimento e sono até o acordar. Estas associações de manto então se tornam automaticamente as associações ou paraphrands do metaphrand original, a forma como a neve cobre o chão. E assim criámos através desta metáfora a idéia da terra dormindo e protegida pela neve até seu acordar na Primavera. Tudo isso empacotado no simples uso da palavra 'manto' para descrever a forma que a neve cobre o chão."

Portanto:
- Metaphrand - A coisa/ação/acontecimento/sensação a ser descrita - Neve cai no chão.
- Paraphrands - Associações feitas a partir do metaphrand - a forma como a neve cai.
- Metaphier - A relação utilizada para descrever - Neve cobrindo o chão como o manto cobre uma cama.
- Paraphiers - Sensações provocadas pelo metaphier - proteção, segurança, aquecimento, etc.

E assim sugiro isso como ponto de partida para a criação de cada palavra. Cada palavra deve ser entendida, antes de mais como uma metáfora de uma realidade percepcionada. Olhemos outra metáfora, de Camões:

"Amor é fogo que arde sem se ver"

Você pode descrever um amor que sente/sentiu de outra qualquer maneira, mas o que aqui importa é a descrição de amor dada pelo poeta. Portanto:

- Metaphrand - Amor.
- Paraphrand - A forma como se sente o amor.
- Metaphier - Amor como fogo invisível.
- Paraphier - Calor, segurança, conforto, dor.

Precisamente nos paraphiers do metaphier reside a força da metáfora. Porque o fogo, podendo ser algo que dá aquecimento e conforto, pode também se tornar uma força destrutiva, que consome.

Mas você pode dizer: isso são apenas palavras. Eu lhe respondo que talvez não. Porque pensamos pela palavra, e se estivermos ela em nosso controle, controlamos o pensamento. Como diz Jaynes em seu livro:

"(...) mudanças de palavras são também mudanças concetuais e mudanças concetuais são mudanças comportamentais. Toda a história das religiões e política e mesmo ciência é testemunha disso mesmo. Sem palavras como alma, liberdade ou verdade, o aparato dessa condição humana teria sido preenchido com diferentes papéis, diferentes clímaxes. E assim também com as palavras que temos designado como hipóstases pré-conscientes, que pelo processo gerador de metáforas ao longo dos séculos se uniram naquilo que chamamos operador da consciência."

Portanto já temos alguma noção de como criar palavras. Agora outra parte: como as tornar em linguagem corrente? Em Caminho Crucial, um dos livros de Buckminster Fuller, ele refere a história de um rapaz de dez anos chamado Michael que lhe escreveu uma carta perguntando se ele se achava "um fazedor ou pensador." Ele respondeu o seguinte:

"Caro Michael,
Muito obrigado pela sua carta mais recente dizendo respeito ao tema "pensadores e fazedores."
As coisas a fazer são: as coisas que são necessárias fazer; aquilo que você vê que precisa ser feito, e que mais ninguém consegue ver que precisa ser feito. Depois você vai conceber sua própria forma de fazer aquilo que precisa ser feito - algo que ninguém lhe disse para ou como fazer. Isso fará desabrochar seu verdadeiro eu que normalmente se encontra enterrado dentro na personalidade, que adquiriu uma grande camada de comportamentos superficiais induzidos ou impostos ao indivíduo por outros.
Tente fazer experiências de qualquer coisa que você concebe e se encontra intensamente interessado. Não fique desapontado se algo não funcionar. Isso é o que você quer saber - a verdade sobre todas as coisas - e depois a verdade sobre as combinações das coisas. Algumas combinações têm tal lógica e integridade que elas podem funcionar coerentemente apesar de elementos no seu sistema que não funcionam na perfeição.
Quando você encontrar uma palavra com a qual você não tem familiaridade, encontre-a no dicionário e escreva uma frase que use essa nova palavra. As palavras são ferramentas - e uma vez que você tenha aprendido a utilizar uma ferramenta você nunca mais o irá esquecer. Procurar apenas o que a palavra significa não é suficiente. Se seu vocabulário é extenso, você pode conter nele pequenos e grandes padrões da experiência.
Você tem o que mais importa na vida - iniciativa. E por causa disso, você me escreveu. estou lhe respondendo no melhor das minhas capacidades. Você encontrará o mundo respondendo às suas sérias iniciativas.

Cumprimentos,

Buckminster Fuller."


Sugiro portanto que a idéia de Fuller para as palavras existentes seja aplicada às palavras criadas para e através do Makrolexicon. Para cada palavra nova, para cada nova realidade, você deve fazer uma frase, um poema, ou um texto grande, em que a use. Assim ela passará a fazer sentido.

Me tenho questionado sobre qual a melhor maneira de fazer isso funcionar.
O ideal, penso, seria um site do género desse, com um índice alfabético onde as novas palavras seriam colocadas pelos utilizadores registados.

O problema maior se prende com o fato de eu não ter menor idéia de como fazer uma coisa dessas. Se algum dos leitores souber, e pudermos aplicá-lo a algo como um blogue, que deixe algo na caixa de comentários.

Talvez por agora as novas palavras que começarmos a criar possam ficar pelo twitter. Usando a hashtag (# seguido de palavra) #Makrolexicon, cada um pode lançar uma nova palavra. Cada sequência de vinte palavras será publicada aqui no blogue sobre forma de post.

Para os tweets sugiro a seguinte fórmula:

"#Makrolexicon + PALAVRA (em maiúsculas) + classificação gramatical + definição"

Em matéria de classificação gramatical acho melhor se utilizar a fórmula do dicionário, que opera com abreviaturas: adj. para adjetivo; v. para verbo; adv. para advérbio, etc.

Portanto aqui fica o exemplo de um tweet do Makrolexicon, se o neologismo fosse "verdade":

"#Makrolexicon VERDADE s.f. - conformidade da idéia com o objeto, realidade"

E pronto, por hoje ficamos por aqui. Para inspiração, deixo mais um excerto do livro de Julian Jaynes, sobre o papel dos poetas na antiga Grécia:

"A primeira coisa a dizer acerca deles (poetas) é que eles não são simplesmente poetas como hoje os vemos. Como grupo, eles são algo como os seus contemporâneos profetas de Israel, professores sagrados de homens, chamados por reis para resolver disputas e liderar exércitos, se assemelhando de alguma forma suas funções aos xamãs das culturas tribais contemporâneas".