Monday 27 December 2010

Mudança Cerebral Induzida

Mudando seu cérebro, pode mudar muita coisa em você. O cérebro humano opera em dois hemisférios, direito e esquerdo. Veja esse vídeo:



Se você conseguir ver a bailarina dançando no sentido dos ponteiros do relógio, você opera com o lado direito do cérebro. Se for no sentido contra os ponteiros do relógio, opera o esquerdo. Meu lado esquerdo se afirmou mais dominante do que o direito. Nenhum dos lados se pode classificar como sendo melhor ou pior que o outro - o segredo, para mim, reside no equilíbrio entre as duas partes.

Uma mudança cerebral pode se tornar um processo longo, e que ao final dele, você nem note diferença nenhuma. No entanto, pessoas que não o/a vejam durante alguns anos irão notar a diferença. Você pode mudar seu cérebro de muitas maneiras. O iôga, drogas psicodélicas ou alimentação - todos eles podem mudar a forma como seu cérebro opera.

Desde a escola nos ensinam que devemos escrever usando apenas uma mão. Conheço várias pessoas que, antes dos professores os limitarem a usar uma mão, usavam ambas. Adquirir ambidextria pode significar mais do que a habilidade de escrever usando as duas mãos - significa também o uso dos dois hemisférios cerebrais. Aleister Crowley aconselhava muitas vezes seus alunos a adquirirem a habilidade de escrever de igual forma com ambas as mãos, ou não tivesse Crowley também incorrido numa profunda mudança cerebral. O vídeo seguinte descreve de alguma forma como e de que se compõem os dois hemisférios cerebrais.





O ponto descrito com a transição das sociedades antigas, onde existia não apenas um equilíbrio das partes como uma dominância do hemisfério direito, mostra como a supressão de nosso lado feminino aconteceu. O lado esquerdo do cérebro, como o vídeo descreve, originou uma sociedade patriarcal, assente no desprezo pela mulher. Mas não apenas a mulher, o lado feminino que em todos nós existe. E a supressão do lado feminino produz agressividade. Essa agressividade pode ser vistam, por exemplo, no comportamento homofóbico e machismo.

Isso mostra que a mudança cerebral (qualquer que ela seja) pode operar também ela mudanças profundas numa sociedade.

Algumas técnicas que você pode utilizar e que poderão operar mudanças no modo de funcionamento do seu cérebro:

- Pranayama, uma técnica de controle respiratório. Robert Anton Wilson aconselha vivamente a respiração de narinas alternadas (inspirar por uma narina, expirar pelas duas, e inspirar pela outra, expirar pelas duas). O exercício, quanto mais tempo por dia for praticado, melhores os resultados. Para começar, 7 a 10 minutos chegam;

- Meditação - Quatro sessões diárias de 15 minutos (manhã, depois de almoço, final de tarde, noite) fazem seu cérebro funcionar melhor;

- Exercício físico - sim, o exercício físico importa. Segundo a New Scientist, algum exercício físico ajuda a circulação sanguínea e como tal ao sangue chegar em melhores condições ao cérebro;

- Alimentação - Você se torna naquilo que come. Mas alguns alimentos se mostram particularmente bons para o cérebro. Mirtilos, cajus, alimentos contendo hidratos de carbono, frutos - todos eles contribuem para um cérebro melhor. Substituição do açúcar comum por mel ou frutos também importante.

- Ambidextria - a tecnologia parece estar fazendo isso por nós, com a introdução do teclado.
Em "A Ascensão de Prometeus", Robert Anton Wilson aborda as diferenças entre os hemisférios direito e esquerdo do cérebro humano, e sua relação com a escrita:

"Neurologia recente nos tem mostrado que nossa tendência a ser destros se encontra intimamente ligada com o fato de usarmos mais o hemisfério esquerdo do cérebro que o direito. De fato, tão raramente usamos o hemisfério direito que ele era antigamente descrito como o hemisfério silencioso.
Portanto, existe uma preferência genética na maioria dos humanos para manipulações destras e execuções esquerdinas. Essas coneções parecem intimamente envolvidas no nosso circuito verbal e semântico, porque o hemisfério esquerdo é o cérebro "falante". Se pode descrever como linear, analítico, computacional e bastante verbal. Portanto, existe uma base neurológica para a ligação entre mapeamento e manipulação. A mão direita manipula o universo (e faz artefatos) e o cérebro esquerdo mapeia os resultados num modelo, o que permite previsões acerca de comportamentos futuros dessa parte do universo. (...)
Os esquerdinos (canhotos), pelo contrário, se especializam em funções do cérebro direito, que se descrevem como holísticas, supra-verbais, "intuitivas", musicais e "místicas". Leonardo da Vinci, Beethoven e Nietzsche, por exemplo, escreviam todos com a mão esquerda. Tradicionalmente, os canhotos têm sido alvo de medo e reverência - descritos como esquisitos, xamânicos e provavelmente capazes de comunicar com "Deus" ou "o Diabo"."
Você pode fazer uma pesquisa e notar facilmente que as percentagens de "gênios" que escrevem com a mão esquerda se mostra superior aos que escrevem com a mão direita. Isso deve se considerar mais que mera coincidência.

Elaborei essa lista após leituras de Robert Anton Wilson, Chrisopher Hyatt e alguns artigos na New Scientist. Não importa se você pensa que isso irá ou não funcionar, experimente e logo verá. Como diz Crowley, ao fazer certas coisas, certos resultados se seguirão.

Wednesday 15 December 2010

Religião e a Mente Bicameral

Um dos responsáveis pela minha recente alteração de posição relativamente ao papel da religião na sociedade humana - Alister Hardy. Tudo por causa da entrevista que dele ouvi nesse site.

De fato muito se tem dito que a religião se trata de um problema, mas como diz Hardy, "O homem é um animal religioso".

Em A Origem da Consciência no Colapso da Mente Bicameral, Julian Jaynes mostra como a religião sempre foi um meio de organização social, e que as perspectivas sobre os deuses nem sempre foram as mesmas. A idéia principal do livro se mostra efetivamente apocalíptica. Tal qual como afirma William Harrington na contracapa do livro, a obra de Jaynes torna "estantes inteiras de livros obsoletas". E talvez sim.

A idéia principal passa pelo seguinte: e se o homem nem sempre tiver tido consciência de suas ações? E se a consciência não for, como pensava Darwin, um fator evolutivo, mas cultural? Através de diversos relatos e provas consistentes, Jaynes mostra que a consciência humana não terá começado até à cinco mil anos atrás. E o que aconteceu portanto, à cerca de cinco mil anos?
A resposta é, a invenção da escrita.

Então o que haveria antes disso? Segundo Jaynes, antes do "eu", havia a mente bicameral.
A mente bicameral, ou mente de duas câmeras, consistia no seguinte: consciência se dividia em duas partes distintas, o deus e o homem. A parte direita do cérebro alucinava o "deus" (que sempre representava uma entidade superior ao que tinha a alucinação) e a parte esquerda recebia as ordens dessa alucinação. Os homens não pensavam no sentido que hoje entendemos. Respondiam simplesmente a estímulos alucinatórios.

Jaynes dá o exemplo da Ilíada, em que nenhum dos personagens pensa ou interioriza o pensamento, mas simplesmente obedece aos deuses. Temos vivendo interpretando os deuses como uma coisa exterior, mas e se representarem antes uma coisa interior?

O livro de Jaynes faz qualquer pessoa como eu, que duvida da religião, pensar duas vezes. E à medida que se lê, se compreende o porquê das coisas terem chegado ao ponto que chegaram. Quando a mente bicameral deu origem à consciência moderna, houve caos.
Muita gente morreu. As pessoas não compreendiam porquê os "deuses" as tinham "abandonado" e se gerou na mente coletiva o pensamento de que os deuses partiram porque a humanidade tinha feito algo de incorreto. Aí se geraram esses conceitos de pecado, das coisas que os deuses querem que façamos e não façamos. Se gerou o mito de que os deuses tinham partido para uma morada "no céu" e então se geraram os intermediários alados entre deuses e homens, também chamados de anjos. Tudo isso faz enorme sentido.

Se compreende então também o porquê da existência da autoridade religiosa, como padres. No momento do colapso da mente bicameral, nem todos os homens a perderam. Durante talvez um milênio continuaram a existir este tipo de mente, mas em menor escala. Estas mentes talvez fossem tidas como "oráculos" e lhes era dada uma autoridade religiosa. Em suas mentes bicamerais, eles conseguiam ainda "contactar" com os deuses, e as pessoas, sofrendo o choque de uma alteração mental, procuravam essas pessoas para orientação.

Existem fatos bastante curiosos sobre a posição dos deuses em relação aos homens há cinco mil anos. Na Suméria, desenhos representativos dos homens e deuses nunca mostravam os homens como hoje, se ajoelhando perante os deuses, lhes pedindo clemência. Pelo contrário, o homem era visto antes de pé, sendo que o deus se sentava numa cadeira o aconselhando sobre o que fazer. Com o colapso da mente bicameral, se originou no mundo o que temos hoje. A noção de pecado, de penitência.

O que o colapso da mente bicameral coloca em xeque? Uma série de coisas. Por exemplo, na minha opinião, a história se torna obsoleta. Sim. Nos ensinaram que "a história se repete". Mas e se não repetir? Se a consciência humana for sempre sofrendo alterações, a história dos homens nunca se repetirá. Mais: me parece inútil olhar para exemplos históricos passados porque suas circunstâncias devem se entender sempre como diferentes das nossas. O que eu acho que esse colapso nos ensina sim algo que há muito devíamos ter aprendido, a viver no presente.

Isso pode indicar que outros colapsos, ao longo da história, irão existir. O colapso de 2012 indicado por McKenna e narrado em Os Invisíveis por Grant Morrison pode acontecer. "O complexo de múltipla personalidade como opção de vida", pode se tornar algo real.

E agora voltando a Alister Hardy, ele fala nessa entrevista de coisas bastante curiosas. Por exemplo, como o homem parece sempre procurar aconselhamento em algum ser superior. Com o colapso da mente bicameral, e na ausência de alucinações, a noção de "deus" se tornou abstracta. "Deus" perdeu sua antropomorfização e se tornou para a mente humana uma entidade diferente, mais complexa. Hardy compara a relação dos homens com "deus" com a relação que o cão tem com os homens. Esta é uma relação sobre a qual sei muito pouco, mas me parece muito curioso, como indica Hardy, que a certa altura os cães terem deixado de seguir o líder de sua matilha para seguir um ser de outra espécie. Isso me parece muito curioso.

Muito curioso também as palavras inglesas para cão e deus (dog e god) se mostrarem uma inversão uma da outra. Mera coincidência? Eu lhe chamaria sincronicidade.

No discurso de Hardy se encontra algo que comecei a pensar recentemente. Que o problema da religião não está na religião em si, mas nos seus líderes. E realmente, a diferença entre um Papa e um Dalai Lama me parece atroz. Como diz Hardy, "se Jesus Cristo vivesse hoje em dia, dificilmente seria um cristão". Mas esse fenômeno, a que chamarei a decadência das elites, existe em todas as outras áreas.

Gosto do que Alain de Botton diz nessa palestra no Ted Talks. Que pela primeira vez na história, vivemos numa sociedade em que o homem se venera a si mesmo. Esta nova religião, também conhecida como narcisismo, talvez seja um dos motivos de nossa decadência. Ela deu origem à aberração da chamada "celebridade", mas nem todos os egos parecem estar preparados para enfrentar semelhante coisa. Portanto, alguns entram em decadência.

This is my truth, tell me yours.

Friday 10 December 2010

Makrolexicon, parte I

Para estruturar o Makrolexicon, que anunciei no post anterior, será necessária alguma pesquisa, não apenas minha como dos leitores, para sugestões que tornem esse um projeto mais ambicioso. As palavras nos parecem 'coisas' tão óbvias, tão reais, que nunca pensámos que elas pudessem ser criadas. E das maiores dificuldades com que já me deparei foi sobretudo essa: como criar palavras?

Em "A Origem da Consciência no Colapso da Mente Bicameral" (tradução minha), Julian Jaynes tem um livro de idéias absolutamente apocalípticas e que devia ser lido por todos os que pretendem ter outra perspectiva sobre a origem das religiões, fora de conspirações e coisas do gênero. Mais tarde farei um post sobre ele. Mas logo no início do livro, Jaynes nos fornece algumas dicas sobre a criação da linguagem que penso se mostrarão essenciais. Senão vejamos:

"Metáfora e Linguagem

Falemos então de metáforas. A mais fascinante propriedade da linguagem é sua capacidade de fazer metáforas. Mas isto é minimizar tudo isso! Pelo que a metáfora não é apenas um mero truque extra da linguagem como é comum ser descrita nos velhos livros escolares, mas o verdadeiro assento da linguagem. Eu estou usando a metáfora aqui no sentido mais geral: o uso de um termo por uma coisa para descrever outra porque existe algum tipo de semelhança entre elas ou entre suas relações com outras coisas. Existem portanto sempre dois termos numa metáfora, a coisa a ser descrita - a que chamarei o metaphrand - e a coisa ou relação usada para a elucidar, à qual chamarei o metaphier. A metáfora é sempre um conhecido metaphier operando num metaphrand menos conhecido. Inventei esses termos híbridos simplesmente para fazer eco da multiplicação onde o multiplicador opera num multiplicando.
É pela metáfora que a linguagem cresce. A resposta comum à questão "O que é isso?" é, quando a resposta é difícil ou a experiência algo de único, "Bem, é como --." Em estudos laboratoriais, quando ambos crianças e adultos descrevem objetos absurdos (ou metaphrands) a outras pessoas que não os conseguem ver, usam metaphiers que com a repetição se acabam por transformar em rótulos. A grande e vigorosa função da metáfora é a geração de nova linguagem quando ela é precisa, à medida que a cultura humana se torna mais e mais complexa."

Esse excerto deve servir como introdução. Aqui Jaynes nos anuncia que a metáfora não só se usa como ferramenta linguística como é a verdadeira base de toda a linguagem. E nos adianta dois termos:
- Metaphrand - A coisa/ação/acontecimento/sensação a ser descrita
- Metaphier - A relação utilizada para descrever.
Seguimos com mais um excerto do livro de Jaynes.

"Mesmo uma palavra que soe tão pouco metafórica quanto o verbo 'to be' (ser e/ou estar) foi gerado por uma metáfora. Ela vem do Sânscrito bhu, "crescer, ou fazer crescer," enquanto que as formas inglesas de 'am' e 'is' evoluíram da mesma raíz que o Sânscrito asmi, "respirar". (...)
As palavras abstractas são moedas antigas cujas imagens concretas, no atribulado dá-e-toma da conversa se gastaram com o uso. (...)
Porque durante nossas breves vidas nós captamos tão pouco da vastidão da história, tendemos a pensar na linguagem como algo sólido como um dicionário, de uma permanência granítica, em vez do mar sem descanso de metáfora que na realidade ela é. (...) Mas se alguma vez atingirmos uma linguagem que tenha o poder de exprimir tudo, então a metáfora não mais será possível. (...) O léxico da linguagem é, então, um conjunto finito de termos que através da metáfora conseguimos esticar até um conjunto infinito de circunstâncias, criando mesmo novas circunstâncias. "


E agora para dois termos essenciais para completar uma metáfora e portanto criar linguagem - os paraphiers e paraphrands.

"Paraphiers e Paraphrands

Se olharmos com maior cuidado para a natureza da metáfora (notando a natureza metafórica de quase tudo o que dizemos), nós descobrimos que é composta de um metaphier e metaphrand. Existem também na sua base as mais complexas associações metafóricas ou atributos do metaphier, aos quais chamarei paraphiers. E esses paraphiers se projetam no metaphrand naquilo que eu chamarei os paraphrands do metaphrand. Algo confuso, mas absolutamente necessário se quisermos ser claros sobre nossos referentes. (...)
Considere a metáfora que a neve cobre o chão num manto.
O metaphrand é algo acerca da plenitude e mesmo grossura com que o chão é coberto de neve. O metaphier é o manto cobrindo uma cama.
Mas as nuances agradáveis desta metáfora estão nos paraphiers do metaphier, manto. Estas são sobre proteção, aquecimento e sono até o acordar. Estas associações de manto então se tornam automaticamente as associações ou paraphrands do metaphrand original, a forma como a neve cobre o chão. E assim criámos através desta metáfora a idéia da terra dormindo e protegida pela neve até seu acordar na Primavera. Tudo isso empacotado no simples uso da palavra 'manto' para descrever a forma que a neve cobre o chão."

Portanto:
- Metaphrand - A coisa/ação/acontecimento/sensação a ser descrita - Neve cai no chão.
- Paraphrands - Associações feitas a partir do metaphrand - a forma como a neve cai.
- Metaphier - A relação utilizada para descrever - Neve cobrindo o chão como o manto cobre uma cama.
- Paraphiers - Sensações provocadas pelo metaphier - proteção, segurança, aquecimento, etc.

E assim sugiro isso como ponto de partida para a criação de cada palavra. Cada palavra deve ser entendida, antes de mais como uma metáfora de uma realidade percepcionada. Olhemos outra metáfora, de Camões:

"Amor é fogo que arde sem se ver"

Você pode descrever um amor que sente/sentiu de outra qualquer maneira, mas o que aqui importa é a descrição de amor dada pelo poeta. Portanto:

- Metaphrand - Amor.
- Paraphrand - A forma como se sente o amor.
- Metaphier - Amor como fogo invisível.
- Paraphier - Calor, segurança, conforto, dor.

Precisamente nos paraphiers do metaphier reside a força da metáfora. Porque o fogo, podendo ser algo que dá aquecimento e conforto, pode também se tornar uma força destrutiva, que consome.

Mas você pode dizer: isso são apenas palavras. Eu lhe respondo que talvez não. Porque pensamos pela palavra, e se estivermos ela em nosso controle, controlamos o pensamento. Como diz Jaynes em seu livro:

"(...) mudanças de palavras são também mudanças concetuais e mudanças concetuais são mudanças comportamentais. Toda a história das religiões e política e mesmo ciência é testemunha disso mesmo. Sem palavras como alma, liberdade ou verdade, o aparato dessa condição humana teria sido preenchido com diferentes papéis, diferentes clímaxes. E assim também com as palavras que temos designado como hipóstases pré-conscientes, que pelo processo gerador de metáforas ao longo dos séculos se uniram naquilo que chamamos operador da consciência."

Portanto já temos alguma noção de como criar palavras. Agora outra parte: como as tornar em linguagem corrente? Em Caminho Crucial, um dos livros de Buckminster Fuller, ele refere a história de um rapaz de dez anos chamado Michael que lhe escreveu uma carta perguntando se ele se achava "um fazedor ou pensador." Ele respondeu o seguinte:

"Caro Michael,
Muito obrigado pela sua carta mais recente dizendo respeito ao tema "pensadores e fazedores."
As coisas a fazer são: as coisas que são necessárias fazer; aquilo que você vê que precisa ser feito, e que mais ninguém consegue ver que precisa ser feito. Depois você vai conceber sua própria forma de fazer aquilo que precisa ser feito - algo que ninguém lhe disse para ou como fazer. Isso fará desabrochar seu verdadeiro eu que normalmente se encontra enterrado dentro na personalidade, que adquiriu uma grande camada de comportamentos superficiais induzidos ou impostos ao indivíduo por outros.
Tente fazer experiências de qualquer coisa que você concebe e se encontra intensamente interessado. Não fique desapontado se algo não funcionar. Isso é o que você quer saber - a verdade sobre todas as coisas - e depois a verdade sobre as combinações das coisas. Algumas combinações têm tal lógica e integridade que elas podem funcionar coerentemente apesar de elementos no seu sistema que não funcionam na perfeição.
Quando você encontrar uma palavra com a qual você não tem familiaridade, encontre-a no dicionário e escreva uma frase que use essa nova palavra. As palavras são ferramentas - e uma vez que você tenha aprendido a utilizar uma ferramenta você nunca mais o irá esquecer. Procurar apenas o que a palavra significa não é suficiente. Se seu vocabulário é extenso, você pode conter nele pequenos e grandes padrões da experiência.
Você tem o que mais importa na vida - iniciativa. E por causa disso, você me escreveu. estou lhe respondendo no melhor das minhas capacidades. Você encontrará o mundo respondendo às suas sérias iniciativas.

Cumprimentos,

Buckminster Fuller."


Sugiro portanto que a idéia de Fuller para as palavras existentes seja aplicada às palavras criadas para e através do Makrolexicon. Para cada palavra nova, para cada nova realidade, você deve fazer uma frase, um poema, ou um texto grande, em que a use. Assim ela passará a fazer sentido.

Me tenho questionado sobre qual a melhor maneira de fazer isso funcionar.
O ideal, penso, seria um site do género desse, com um índice alfabético onde as novas palavras seriam colocadas pelos utilizadores registados.

O problema maior se prende com o fato de eu não ter menor idéia de como fazer uma coisa dessas. Se algum dos leitores souber, e pudermos aplicá-lo a algo como um blogue, que deixe algo na caixa de comentários.

Talvez por agora as novas palavras que começarmos a criar possam ficar pelo twitter. Usando a hashtag (# seguido de palavra) #Makrolexicon, cada um pode lançar uma nova palavra. Cada sequência de vinte palavras será publicada aqui no blogue sobre forma de post.

Para os tweets sugiro a seguinte fórmula:

"#Makrolexicon + PALAVRA (em maiúsculas) + classificação gramatical + definição"

Em matéria de classificação gramatical acho melhor se utilizar a fórmula do dicionário, que opera com abreviaturas: adj. para adjetivo; v. para verbo; adv. para advérbio, etc.

Portanto aqui fica o exemplo de um tweet do Makrolexicon, se o neologismo fosse "verdade":

"#Makrolexicon VERDADE s.f. - conformidade da idéia com o objeto, realidade"

E pronto, por hoje ficamos por aqui. Para inspiração, deixo mais um excerto do livro de Julian Jaynes, sobre o papel dos poetas na antiga Grécia:

"A primeira coisa a dizer acerca deles (poetas) é que eles não são simplesmente poetas como hoje os vemos. Como grupo, eles são algo como os seus contemporâneos profetas de Israel, professores sagrados de homens, chamados por reis para resolver disputas e liderar exércitos, se assemelhando de alguma forma suas funções aos xamãs das culturas tribais contemporâneas".

Sunday 14 November 2010

Manifesto Para o Assalto à Realidade

«Vamos dar algo à cultura que ela não seja capaz de engolir»
Grant Morrison

Posso dizer que este blog foi criado em particular para este post. Após a leitura de 'Os Invisíveis', como já aqui tive oportunidade de dizer, um multiverso de coisas parece ter explodido em minha mente. A mente foi reabastecida, rejuvenescida, renascida. Sentiu vida.

Como Neo, tomei o comprimido vermelho e desde então comecei caíndo, rapidamente, na toca do coelho. Diria que não terei ainda ido muito longe, mas Morrison me trouxe Robert Anton Wilson, que trouxe Leary, Alfred Korzybski, Buckminster Fuller, McKenna, Crowley e muitos mais.

Essa palestra de Morrison me introduziu ao conceito de mágicka crowleyana, e todo um multiverso se abriu perante mim. Foi então que li numa entrevista de Terence McKenna o seguinte trecho:

«Nós precisamos criar uma linguagem emocional mais rica (...) Tem havido períodos na língua inglesa em que certas emoções não existem mais, porque as palavras para as descrever se perderam. Isso chega muito perto daquela noção de que nossa realidade é criada pela linguagem. Conseguiremos recuperar uma emoção perdida, através da criação de uma palavra para ela? Existem cores que não existem mais porque as palavras se perderam. Estou pensando por exemplo na palavra "jacinth", que descrevia um certo tipo de laranja. Quando você sabe a palavra "jacinth", você sempre é capaz de reconhecer a cor, mas se você não a tem, então essa cor é apenas um laranja mais escuro. Nós nunca tentámos evoluir nossa linguagem conscientemente, apenas a deixamos evoluir, mas hoje temos esse nível cultural e de perceção onde podemos planear quando as novas palavras devem ser geradas. Existem áreas onde nos devíamos livrar de certas palavras, pois elas fortalecem o pensamento politicamente errado. Os propagandistas e fascistas já compreenderam isso, eles sabem que se você tornar algo "indizível", isso o torna também impensável. (...) Portanto a evolução planeada da linguagem é o caminho para o qual acelerar na direção de expressar as fronteiras da consciência

O que esse texto despertou em mim várias coisas: primeira - me fez lembrar todo o semanticismo referido por Robert Anton Wilson deixado por Korzybski, do E-Prime. O E-Prime pode se considerar como a primeira tentativa consciente de fazer evoluir a linguagem. Quando você começa utilizando o E-Prime, primeiro na escrita e depois na oralidade, você experiencia um aumento da inteligência.

Segunda: Essa coisa de os propagandistas e fascistas já terem compreendido a importância do controle da linguagem. Aí você lembra da Novilíngua (Newspeak) de 1984 e compreende o quão assustador se pode tornar o controle da linguagem.

Terceira: A questão da realidade criada pelas palavras. Qualquer pessoa bilíngue que esteja lendo o blog lembrará quão difícil se torna tentar explicar para alguém que fale outra língua - que não o português - a palavra saudade. Mas você, com a linguagem operando em seu cérebro, sabe as sensações que a palavra evoca. Já uma pessoa que fale japonês, inglês ou mesmo espanhol - uma língua semelhante ao português - não. Podemos ir mais longe: a linguagem pode definir mesmo a forma de viver de um povo. Veja nisso, pouca gente gosta de estar só. Eu acho que isso não é um problema do animal humano, mas da linguagem. Na língua inglesa existem duas palavras para definir o ato de estar só: loneliness e solitude. Loneliness equivale exatamente à "solidão" presente na língua portuguesa, uma coisa terrível, exasperante. Mas e solitude? Solitude simboliza um acto voluntário de estar só, uma coisa positiva, um encontro consigo mesmo. Se isso não define um "povo", o que define então?

Mesmo antes de ler Buckminster Fuller, já tinha tomado uma decisão: abolir do meu vocabulário o verbo acreditar e crença. Porque "acreditar" implica assumir uma verdade sem qualquer prova. Como "acreditar em Deus". Posso admitir a possibilidade da existência de Deus, mas não posso simplesmente acreditar. Posso confiar em alguém, acreditar não.

Não sou crente portanto. No entanto, acho esse trecho bíblico uma das passagens literárias mais poderosas de todos os tempos:


"No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas coisas foram feitas por meio dele; e sem ele nada do que foi feito se fez. nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens. E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam."

Na tradução portuguesa, a palavra logos aparece traduzida como Verbo, quando aliás, devia vir como Palavra. Como na versão da bíblia de King James, por exemplo:

"In the beginning was the Word, and the Word was with God, and the Word was God. The same was in the beginning with God. All things were made by him; and without him nothing was made. In him was life, and life was the light of men. And the light shineth in the darkness, and the darkness comprehended it not."

Exclua desse trecho bíblico as considerações religiosas e pense nele livremente. O que nele me supreende é a possível noção de que a palavra equivale a Deus. Não à divindade da mitologia cristã, mas uma força universal. Para mim essa passagem diz respeito não ao nascimento/aparecimento de Deus (como divindade) mas ao aparecimento da linguagem nos humanos, e como ela se tornou Deus, uma força invisível e que, sem ela, nada poderia ser feito. E se cada palavra for um deus?

Um dia desses, abri o I Ching para colocar uma questão que todos nós colocamos a nós mesmos : "Qual é o meu propósito nesta vida?". O livro me respondeu com o Hexagrama 7, "O Exército". Não acredito no I Ching, mas minha mente aberta me permite experimentar. O livro tem sido utilizado pela cultura chinesa por milênios, e sempre que o utilizei se mostrou supreendemente acertado. Aí achei ter compreendido a mensagem.

Reunir um exército. Não literalmente, não um grupo de militares, mas um grupo de pessoas que esteja disposto a lutar por algo, sem que lutar seja recorrer a qualquer violência.

Então lembrei das palavras de Grant Morrison nessa palestra:
"Vamos dar algo à cultura que ela não seja capaz de engolir".

E por fim, eis o que proponho:

O oposto da Novilíngua Orwelliana. Um dicionário ativo, vivo, completo, diário, de todos, para todos. Novas palavras, novos significados, sendo criados, todos os dias, pelas pessoas. Se os fascistas querem limitar as palavras, nós as multiplicaremos ao infinito. Proponho um leviatã lexical, capaz de ultrapassar as barreiras de cultura, raça e nacionalidade. Adoção de palavras de outras línguas que não existam nesta é essencial. Criação de outras palavras, outras realidades, a pedra base desse projeto. A palavra grega para grande é "makros". Para já, lhe chamemos o Makrolexicon.

Agora vocês, amigos que lêem o blogue, entendam isso como uma convocação. Seremos o exército invisível do caos e anarquia, soldados-poetas armados de canetas-armas tendo a realidade quântica como alvo primário? Demoliremos ideologias, demagogias e os demais auto-destruidores sistemas operativos cerebrais? Daremos à cultura algo que ela seja incapaz de engolir?

Se lembre que nosso mundo precisa de novas e boas palavras. Portanto, é caso para dizer...

Benvindos ao apocalipse. Linguístico? Podem apostar.

Quem alinha?


Friday 12 November 2010

O Modelo de 8 Circuitos da Inteligência Humana- Parte II

Continuando:

"A função evolutiva do circuito VI passa por nos permitir comunicar a relatividades Einsteinianas e acelerações neuro-elétricas, não usando símbolos laríngico-manuais do terceiro circuito mas diretamente via experiência, telepatia e link-up computacional. Os sinais neuro-elétricos irão consequentemente substituir o "discurso" (grunhidos de hominídeo) depois da migração para o espaço.

Quando os humanos tiverem deixado o poço atmosférico-gravitacional da vida terrestre, a conteligência acelerada do circuito VI tornará possível comunicação de alta energia com "Inteligências Superiores", ou seja, nós-no-futuro e outras raças pós-terrestres.

A rutura neurosomática do Circuito V nos prepara para o próximo passo em nossa evolução: migração do planeta. Circuito VI nos prepara para o passo depois disso, comunicação interespécies com entidades avançadas possuindo túneis-de-realidade eletrônicos (pós verbais).

O Circuito VI pode se definir como o "tradutor universal" imaginado pelos escritores de ficção científica, já escrito nos nossos cérebros pela fita do DNA. Assim como os circuitos da futura borboleta já se encontram escritos na lagarta.

VII. O Circuito Neurogenético. o sétimo cérebro entra em ação quando o sistema nervoso começa recebendo sinais de dentro do neurônio individual, do diálogo DNA-RNA. Os primeiros a atingir essa mutação falam de "memórias de vidas passadas", "reencarnação," "imortalidade," etc. Que esses peritos estavam gravando algo real pode se provar pelo fato de muitos deles (em especial Hindus e Sufis) deram visões poéticas certíssimas acerca da evolução humana 1000 ou 2000 anos antes de Darwin, e previram a Superhumanidade antes de Nietzsche.

Exercícios específicos para despoletar o circuito VII não se encontram no ensino do ioga; normalmente ocorre, após largos anos de rajah ioga, em que esse circuito se desenvolve.

O neurotransmissor específico do circuito VII se trata, obviamente, do LSD. (Peyote e psilocibina produzem algumas experiências de circuito VII também.)

O Circuito VII deve se considerar como os arquivos genéticos, ativados por proteínas anti-histona. A memória DNA serpenteando de volta ao amanhecer da humanidade. Uma sensação de inevitabilidade da imortalidade e simbiose interespécies vem a todos os mutantes do Circuito VII; agora todos conseguimos ver que isso se trata, sobretudo, de uma previsão evolutiva, uma vez que nos encontramos agora à porta da longevidade que levará à imortalidade.


VIII. O Circuito Neuro-atômico.

A consciência provavelmente precede a unidade biológica ou fita do DNA. "Projeção astral", contato com 'entidades' alienígenas (extra-terrestres?) ou com uma Supermente Galática, etc., como eu tenho experienciado, têm sido relatadas por milhares de anos, não meramente pelos ignorantes, os supersticiosos, os crédulos, mas frequentemente pelas melhores mentes entre nós - Sócrates, Giordano Bruno, Thomas Edison, Buckminster Fuller, etc.)

O Dr. Leary sugere que o circuito VIII se trata literalmente de algo neuro-atômico - infra, supra e meta-fisiológico - um sistema de comunicação quanto-mecânico que não requer recipiente biológico.

Quando o sistema nervoso se liga a esse circuito de nível quântico, o tempo-espaço se oblitera. A barreira einsteiniana da velocidade da luz se transcende; na metáfora do Dr. Sarfatti, escapamos do "chauvinismo eletromagnético".

A conteligência dentro da cabine de projeção quântica é o cérebro local guiando a evolução planetária. Como Lao-Tse disse da sua perspetiva de circuito VIII, "o maior se encontra no mais pequeno".

O circuito VIII se despoleta através da ketamina, um neuro-químico alvo de pesquisa pelo Dr. John Lilly, que também os astronautas recebem para os preparar para o espaço.

Esta conteligência neuro-atômica se encontra quatro mutações adiante da domesticidade terrestre. Quando nossa necessidade de maior inteligência, mais rico envolvimento no manuscrito cósmico, uma futura transcendência não ficará mais satisfeita com corpos físicos, nem mesmo com corpos imortais galopando através do espaço-tempo a Warp 9. Novos universos e realidades.

Se mostra portanto possível que as misteriosas "entidades" monótonamente relatadas por visionários do circuito VIII sejam membros de raças já evoluídas a este nível. Mas também se mostra possível, como sugeriram recentemente Leary e Sarfatti, que eles se tratam de nós mesmos no futuro.

Os circuitos terrestres do lobo-esquerdo contêm as lições aprendidas de nosso passado evolutivo (e presente). O lobo-direito e seus circuitos extra-terrestres se tratam de nosso manuscrito evolutivo para o futuro.

Uma teoria mais plausível, elaborada pelo psiquiatra Norman Zinberg através do trabalho de Marshall McLuhan, diz que os média eletrônicos modernos mudaram de tal forma os parâmetros de nosso sistema nervoso que os jovens não mais encontram nada de especial em drogas "lineares" como álcool e encontram significado apenas nas "não-lineares" maconha e psicodélicos.

A série Star Trek se trata de um melhor guia para a emergente realidade que qualquer coisa na New York Review of Books. O engenheiro de suporte-vital e sistema de defesas Scotty, representa o Circuito I; o emocional-sentimental Dr. McCoy representa o Circuito II, o lógico oficial-científico Mr Spock representa o Circuito III e o alternadamente paternalista e romântico Capitão Kirk representa o Circuito IV. Sua Enterprise viaja perpetuamente através de nossa futura história neurológica, encontrando inteligências de circuitos V, VI, VII e VIII.

Em resumo, os vários níveis de consciência e circuitos que vimos discutindo e ilustrando, se tratam todos de impressões bioquímicas na evolução do sistema nervoso. Cada impressão cria um maior túnel-de-realidade. Nós estamos portanto evoluindo para inteligência-estudando-inteligência (o sistema nervoso estudando o sistema nervoso) e temos maior e mais capacidade de acelerar nossa evolução.

A Lei dos Oitavos foi sugerida em primeiro por Pitágoras na antiga Grécia. Leary, Crowley e Buckminster Fuller se descreveram como Pitagóricos modernos.

R. Buckminster Fuller, em sua geometria sinergética-energética, reduz todo o fenômeno a arquiteturas geométrico-energéticas baseadas no tetrahedron (de 4 lados), o "octet truss" (de 8 lados) e o coupler (8-faces com 24 fases). Fuller discute especificamente que o coupler de 8-faces e 24 fases estão na base da divisão em oito partes dos elementos químicos na Tabela Periódica de Mendeleyev.

Em 1973, inconsciente do coupler de Fuller - Dr leary começou dividindo seus oito circuitos em uma Tabela Periódica da Evolução, distribuída por 24 estágios. Leary também tentou correlacionar isso com a tabela periódica dos elementos na química.
As oito famílias de elementos:

1. Alcalis
2. Alcalinos
3. Borons.
4. Carbonos
5. Nitrogénios
6. Oxigénios
7. Halogénios
8. Gases nobres

As primeiras quatro famílias, segundo Leary, são terrestres; ou seja, têm peso e tendência para cair na Terra. As segundas quatro famílias são extraterrestres; ou seja, tendem a voar para o espaço. Da mesma forma, ele afirma, os primeiros quatro circuitos do sistema nervoso são terrestres, sua função passa por controlar a sobrevivência e reprodução no fundo do poço gravitacional de 4 mil milhas em que vivemos. Os segundos quatro circuitos se tratam portanto de extraterrestres; eles entrarão em jogo apenas quando vivermos normalmente em gravidade-zero - no espaço."

O Modelo de 8 Circuitos da Inteligência Humana- Parte I

Segundo Robert Anton Wilson e Timothy Leary, retirado de Gatilho Cósmico:

"Para que entendamos o espaço neurológico, Timothy Leary nos diz que o sistema nervoso humano consiste de oito circuitos potenciais.

I. O Circuito de Bio-Sobrevivência. Este cérebro invertebrado se tratou do primeiro a evoluir (2 a 3 bilhões de anos atrás) e se activa pela primeira vez quando a criança humana nasce. Ele programa a perceção para reações de positivas a coisas de alimentação-ajuda e negativas a coisas nocivas-perigosas. A impressão deste circuito cria a atitude básica de verdade ou suspeição que dura para o resto da vida. Também identifica qualquer estímulo externo, que criará uma reação ora de aproximação ou fuga.

II. O Circuito Emocional. Este segundo bio-computador, mais avançado, se formou quando apareceram os primeiros vertebrados e começaram a competir por território. No indivíduo, este grande túnel-de-realidade se activa quando o DNA despoleta a metamorfose de gatinhar para caminhar. Como todos os pais têm conhecimento, a criança que começa a andar deixa sua atitude passiva (de bio-sobrevivência) para se tornar num político mamífero, repleto de exigências territoriais físicas e psíquicas, que rapidamente influenciam o negócio familiar e decisões. De novo, a primeira impressão desse circuito permanece constante por toda a vida e identifica o estímulo que irá despoletar automaticamente um comportamento dominante, agressivo, submissivo ou cooperante. Quando dizemos que uma pessoa se comporta emocionalmente, de modo egoísta ou como "um menino de dois anos," queremos dizer que ele/ela se encontra seguindo cegamente um dos túneis-de-realidade impressos neste circuito.

III. O Circuito de Destreza e Simbolismo. Este terceiro cérebro se formou quando os vários tipos de hominídeo se começaram a diferenciar de outros primatas e se activa quando a criança mais velha começa a lidar com artefatos e enviando/recebendo sinais da laringe (unidades de discurso humano). Se o seu ambiente for estimulante para o terceiro circuito, a criança recebe uma impressão "esperta" e se torna habilidosa e articulada; Se o ambiente estiver repleto de pessoas "estúpidas", a criança recebe uma impressão "estúpida", ou seja, permanece mais ou menos num estado de como se tivesse cinco anos, desajeitada com artefatos e cega na leitura de símbolos.

Em termos evolutivos, a "consciência" do primeiro cérebro se define como basicamente invertebrada, flutuando passivamente na direção de alimento e recuando perante qualquer perigo. O segundo cérebro, "ego", se classifica de mamífero, sempre lutando por estatuto na ordem da tribo onde vive. O terceiro cérebro, "mente", tem origem paleolítica. Tem tendência para se viciar na cultura humana e lidar com a vida através de uma matriz de ferramentas e simbolismo criado por humanos. O quarto cérebro se deve classificar como pós-hominídeo, especificamente caraterístico do Homo Sapiens:

IV. O Circuito Sócio-Sexual. Este quarto cérebro se formou quando bandos de hominídeos evoluíram para sociedades e programaram papéis sexuais específicos para seus membros. Este circuito fica activo na puberdade, quando os sinais de DNA despoletam uma libertação de neuroquímicos sexuais e a metamorfose para o estado adulto se inicia. Os primeiros orgasmos ou experiências de acasalamento imprimem um papel sexual caraterístico que, de novo, se encontra ligado bioquimicamente e permanece constante por toda vida, a não ser que se consiga alguma forma de lavagem cerebral ou re-impressão química.
Em discurso corrente, as impressões e túneis-de-realidade do quarto circuito ficaram conhecidos como "personalidade adulta."

Normalmente estes quatro circuitos são todos os que o cérebro alguma vez vai ativar. Isso acontece por uma razão - Leary lhes chama "terrestres". Eles evoluíram e têm sido formados por condições gravitacionais, climáticas e energéticas, que determinam sobrevivência e reprodução neste tipo de planeta que orbita este tipo específico de estrela.

Organismos inteligentes nascidos no espaço, que não vivam num poço de gravidade, que não entrem em competição por território numa superfície planetária finita, não limitados pelos parâmetros de vida terrestre frente-trás, cima-baixo ou direita-esquerda, iriam inevitavelmente desenvolver circuitos diferentes, imprimidos de diferente forma, não tão inflexivemente Euclidianos.

Frente-trás se trata da escolha digital básica programada pelo bio-computador operando no Circuito I: Avançar, ir à frente, cheirar, tocar, provar, morder - ou retirar, se afastar, fugir, escapar.

Cima-baixo, o sentido gravitacional básico, aparece em todos os relatórios etológicos de combate animal. Inchar o corpo para o tamanho máximo, grunhir, uivar, guinchar - ou se tornar servil, murmurar suavemente, se esconder, gatinhar e diminur o tamanho corporal. Esses sinais de dominação e submissão acontecem também na iguana, cão, pássaro e gerente do banco local. Esses reflexos fazem o circuito II "ego".

Direita-esquerda deve se ver como algo básico à polaridade do desenho-corporal na superfície planetária. Domínio da mão direita, e preferência associada com as funções lineares do lobo esquerdo do cérebro, determinam nossos modos normais de manufatura de artefatos e pensamento concetual, ou seja, a "mente" do terceiro circuito.

Uma vez que cada um desses túneis-de-realidade consiste de impressões bioquímicas ou matrizes no sistema nervoso, cada um delespode ser especificamente despoletado por neuro-transmissores ou outras drogas.

  • Para ativar o primeiro cérebro tome um opiáceo. A mãe ópio e irmã morfina o levam de volta à inteligência celular, passividade bio-sobrevivente, à consciência flutuante do recém-nascido. (Por isso Freudianos relacionam a viciação em ópio com o desejo de voltar à infância);
  • Para ativar o segundo túnel-de-realidade tome uma quantidade abundante de álcool. Os padrões territoriais dos vertebrados e as políticas emocionais tipicamente mamíferas aparecerão quando o álcool lhe "subir à cabeça". De resto, como Thomas Nashe compreendeu ao adjetivar os vários estados alcoólicos com nomes de animais: "bebâdo burro", "bêbado urso","bêbado porco" etc;
  • Para ativar o terceiro circuito tente café ou chá, uma dieta elevada em proteínas, cocaína ou speed;
  • O neurotransmissor específico para o circuito número quatro ainda não se encontra sintetizado, mas é gerado pelas glândulas depois da puberdade e flui vulcanicamente através das veias dos adolescentes.
Nenhuma dessas drogas terrestres mudam impressões bioquímicas básicas.

Mas todo este robotismo pavloviano-skinneriano muda drástica e dramaticamente quando ligamos o lobo direito, os circuitos futuros e químicos extraterrestres.


V. O Circuito Neurosomático. Quando este quinto "cérebro-corpo" se ativa, todas as configurações Euclideanas explodem multi-dimensionalmente. Os Gestalts mudam, em terminologia de McLuhan, de espaço visual linear para um espaço sensorial. Uma ligação hedônica ocorre, um divertimento arrebatador, um distanciamento do mecanismo previamente compulsivo dos primeiros quatro circuitos. Eu liguei este circuito com maconha e tantra.

A abertura e impressão deste circuito tem sido uma das preocupações dos "técnicos do oculto" - xamãs tântricos e hatha yogis. Enquanto o quinto túnel-de-realidade pode ser atingido por privação sensorial, isolação social, estresse fisiológico ou choque severo, tem sido tradicionalmente reservado à aristocracia educada de sociedades que já resolveram os primeiros quatro problemas de sobrevivência terrestres.

Não se trata porventura de um acidente o fato de o maconheiro, em inglês, definir seu estado como "high" (alto) ou "spaced-out" (fora, no espaço). A transcendência das orientações planetárias - gravitacional, digital, linear ou aristotélica, newtoniana e euclideana (circuitos I-IV) - se trata de, numa perspetiva evolutiva, parte de nossa preparação neurológica para a inevitável migração do nosso planeta atual , começando já. Por isso muitos maconheiros também adoram Star Trek e se vêem como amantes de Ficção-Científica.


VI. O Circuito Neuro-elétrico. O sexto cérebro consiste do sistema nervoso se tornando consciente de si mesmo à parte dos mapas-de-realidade gravitacionais imprimidos (circuitos I-IV) e mesmo à parte da fuga-corporal (circuito V). Alfred Korzybski, o semanticista, chamou este estado "consciência da abstração". O doutor John Lilly chama isso de "metaprogramação", ou seja, consciência da programação de seus próprios programas. Este circuito reconhece, por exemplo, que os mapas-de-realidade aristotélicos, euclideanos ou newtonianos se tratam apenas de três entre bilhões de possíveis programas ou modelos para a experiência humana.

- Este circuito pode ser ligado com peyote, LSD e os metaprogramas de mágicka de Crowley.

Não existe ainda um químico disponível que ative especificamente o sexto circuito, mas psicodélicos fortes como a mescalina e psilocibina abrem o sistema nervoso a uma série de canais de Circuito V e VI. Se dá apropriadamente o nome "tripping" em inglês, que significa "viajando", que se distingue dos nomes do circuito V, "turning on" (se ligando) ou "getting high" (subindo no alto).

A supressão da pesquisa científica nesta área teve como infeliz resultado a criminalização da cultura das drogas, retornando as pessoas ao hedonismo do quinto circuito e túneis-de-realidade pré-científicos. Sem suficiente disciplina e metodologia, poucos podem com sucesso descodificar os normalmente assustadores signais metaprogramadores do circuito número seis. Os cientistas que continuam a estudar esse assunto não se atrevem a publicar seus resultados (ilegais) e discutem esses túneis-de-realidade cada vez mais vastos apenas em conversas privadas - como os cientistas da Era Inquisitorial."

Continua no próximo post.


Monday 8 November 2010

Fernando Pessoa e a dissolução do ego

Intermináveis vezes se fala de Fernando Pessoa e o descrevem ora como um gênio, ora como um louco. Como se os adjetivos chegassem para descrever semelhante ser humano. Para além de gênio e/ou louco, que "era" Pessoa? Qual sua "mensagem", aquando de sua passagem pelo mundo?

Desde sempre senti uma atração por sua obra, por sua tendência para a despersonalização. E após as leituras de Os Invisíveis, onde Grant Morrison defende a personalidade múltipla como opção de vida; A Ascensão de Prometeus e Psicologia Quântica de Robert Anton Wilson, compreendendo que a personalidade não funciona como algo estático e o ego pode ser abandonado em favor de uma multiplicidade de "eu". Como acrescenta RAW em A Ascensão de Prometeus, nossas sociedades são organizadas pelo modelo dos insectos, em que cada um deles tem uma função e sempre deverá desempenhar a mesma. Mas nós, da classe dos hominídeos, funcionamos de forma diferente dos insectos. Porquê então copiar os modelos falhados e outras espécies e não apostar num modelo civilizacional mais de acordo com nossa natureza?

De fato, Pessoa me parece ter compreendido como ninguém a multiplicidade do ser humano. Se costuma dizer que em todos nós existe o potencial para ator. E porquê isso? Porque dependendo das circunstâncias, você poderia "ser" um milhão de pessoas diferentes, mas se tornou naquilo que hoje descreve como "eu". Pessoa ficou também marcado pelo seu interesse no ocultismo, algo que geralmente passa ignorado. Mas não será bem mais que uma coincidência o fato de Pessoa se ter encontrado em Lisboa com Aleister Crowley, ocultista inglês que acabou por influenciar Robert Anton Wilson, Timothy Leary e Grant Morrison?


«Ah não ser eu tôda a gente e tôda a parte!», assim termina Álvaro de Campos a Ode Triunfal.
E que mais não representa Álvaro de Campos senão essa necessidade de expandir, aumentar, estender o potencial humano ao infinito?

Sunday 7 November 2010

O Cogumelo do Espaço

Em 'O Revivalismo Arcaico', Terence McKenna (entre outras tantas teorias) explicita uma de que hoje vou falar. Um ávido explorador no campo das 'drogas' psicodélicas e alucinógenas, McKenna fala de que, numa das suas 'viagens' sob o efeito de psilocibina, teve uma espécie de diálogo com uma suposta inteligência contida no cogumelo Psylocibe cubensis.

Sim, leram bem, inteligência no cogumelo. E sim, diálogo. Loucura? Veremos mais à frente. Continuemos. Nessa viagem, McKenna fica a saber (pela inteligência no cogumelo) que esse mesmo teve origem extraterrestre. Uma idéia facilmente descrita como louca, mas não aconteceu a mesma coisa a Charles Darwin? Ainda mais, McKenna apresenta razões plausíveis para sua teoria.

Para McKenna, o cogumelo Psylocibe cubensis se trata de um simbiote que procura cria uma relação de profundidade com a raça humana. O cogumelo sempre foi visto como uma parte saudável da alimentação humana, até sua demonização pela Igreja Católica. Não por acaso, obviamente. Descobrindo a Santa Sé a existência de um cogumelo no Novo Mundo a quem os nativos chamavam teonanacatl (carne dos deuses) ela se apressou a demonizá-lo o mais que pudesse. Senão vejamos, que há de mais ameaçador para os comandantes de uma organização religiosa que uma substância que lhes retira a importância, uma substância que permite um contato imediato com uma entidade a quem alguns chamariam "Deus"? Decerto sua posição hipócrita, de intermediários entre os homens e Deus, cairia por terra.

Uma das sustentações que McKenna apresenta para sua teoria se prende com o fato de não existir qualquer registo de fungos fossilizados com idades superiores a 40 milhões de anos. A explicação mais ortodoxa defende que isso acontece pelo fato do cogumelo possuir um corpo suave que não ajuda a fossilização. Mas como se explica o fato de se encontrarem fósseis de larvas - que também possuem corpos moles - com mais de um bilhão de anos?

McKenna não defende que aquilo que o cogumelo lhe 'diz' seja a verdade, o que quer que isso seja. Terence não pode se descreve como um cientista, antes um explorador, o equivalente de um Sócrates ou Platão. Quando, em transe, o cogumelo lhe disse que se tratava de um extraterrestre, ele ficou sem compreender se o extraterrestre 'é' de fato o cogumelo em si ou este funciona apenas como um transmissor inter-espécies para contatar outras inteligências do Universo.

Nos anos setenta e oitenta tudo isso que McKenna falou não passou dessa conotação mesmo - loucura. Ainda assim, ao ler seus escritos, não consigo deixar de ter um certo fascínio e otimismo de que grande parte de suas idéias (mesmo o Apocalipse) se venham a concretizar. E daí encontro o seguinte vídeo no Ted Talks. Paul Stamets, um micólogo estadunidense que vem alertando para os potenciais usos dos cogumelos, até hoje ignorados. Tudo aquilo que McKenna fala, Paul Stamets explica numa linguagem própria de um cientista. O cogumelo parece ser bastante mais do que aparenta.

Wednesday 20 October 2010

Teoria da Inovação - Terence McKenna

Ou como esses três vídeos superam tudo o que eu possa escrever por aqui. Indispensável.






Wednesday 6 October 2010

Meditação da Chama Branca

"Existe um enigma: como pode você retirar o ganso da garrafa sem partir a garrafa ou matar o ganso? Alguns estudantes passam anos refletindo nele. Não há nenhum ganso, Jack - nem garrafa. Apenas palavras. Veja! O ganso está livre!"

El Fayed, em Os Invisíveis.



Como anunciara anteriormente, hoje me venho debruçar sobre aquele que considero um dos livros mais importantes do meu túnel de realidade: Psicologia Quântica, de Robert Anton Wilson (RAW).

Em Psicologia Quântica, RAW se debruça sobre muitos temas, todos eles convergentes: linguagem, mecânica quântica, psicologia, relatividade, etc. Acho Psicologia Quântica um livro de tal modo importante que julgo se justificaria sua presença nas escolas de todos os países. Explicarei porquê.

Nesse livro, RAW resgata muitas teorias meio esquecidas (como as de Korzybski) com outras tantas das quais apenas a comunidade científica tem plena noção.

Já alguma vez você pensou que talvez grande parte das forças negativas que povoam nosso mundo podem ter origem na linguagem? Veja esses dois excertos de Psicologia Quântica:

«Em 1933, em Ciência e Sanidade, Alfred Korzybski propôs a abolição do "is de identidade" do inglês. Em 1949, D. David Bourland Jr. propôs a abolição completa de todas as formas da palavra "is" ou "to be" e a Proposta Bourland (o inglês sem "is") foi chamada E-Prime, ou English-Prime»


«O E-Prime parece resolver muitos problemas que de outra forma pareceriam intratáveis, e também serve como antibiótico contra aquilo que Korzybski definia como "pensamento demonológico." »


Que significa tudo isso, do E-Prime?
Imagine que, no português, todas as formas do verbo "ser" se aboliam.
Imagine.
Imagine o que isso implicaria.

O que Korzybski e Bourland defendem, em termos simples, se trata em primeiro lugar da eliminação da lógica aristotélica de nossas linguagens. Defendem uma transição de nossas linguagens de acordo com as descobertas científicas atuais, ou seja, gerar uma linguagem assente nos princípios básicos da Mecânica Quântica. Ainda não entendeu? Outro excerto:

«A civilização Ocidental chegou à certeza prematura com Platão e/ou Aristóteles, atingiu outro tipo de certeza prematura com Tomás de Aquino e restantes teólogos medievais, atingiu uma terceira certeza prematura com Newton e a Idade da Razão, etc. Hoje em dia, aqueles com melhores níveis educacionais aparentam ter chegado a um estado de "tentar pôr suas cabeças no lugar" e "correndo num vazio." A civilização Ocidental também não tem quaisquer suspeitas de que as revoluções das próximas duas décadas a irão transformar e ao presente túnel de realidade em dezenas de maneiras incapazes de prever em 1990...»


«Aristóteles nos deixou com duas escolhas: "Verdadeiro" ou "Falso". John Von Neumann acrescentou um Talvez


Acontece que nossas linguagens, mesmo à luz do conhecimento científico atual, continuam se comportando como se existisse uma realidade absoluta. Como se uma coisa "fosse" algo apenas, completa e absolutamente.

O verbo ser, em todas suas formas, implica a atribuição de uma verdade absoluta a um universo relativo que nos rodeia. A lógica aristotélica, dogmática, permite que frases como a seguinte, simples e perigosas, continuem incólumes e acima de qualquer crítica:

A relva é verde


Mas como diz RAW, cada frase contendo o verbo ser contém igualmente uma falácia. A relva, em si, não "é" verde. Nossos olhos, um dos cinco instrumentos biológicos que possuímos para interpretar a realidade que nos rodeia, através da luz, geram aquilo que designamos pela cor verde.

Uma das críticas que RAW faz em Psicologia Quântica se dirige ao recente dogmatismo científico, em que cientistas se comportam como bichos dogmáticos de religião e política. No capítulo "Culto dos Instrumentos", RAW enaltece a forma como pessoas do meio científico julgam ter uma interpretação absoluta da realidade através de novos instrumentos de análise como raios-X, infra-vermelhos ou microscópio, se esquecendo de que tudo o que esses instrumentos nos dizem não diz nada absoluto do universo, mas apenas a parte desse universo que nossos instrumentos biológicos (sentidos) conseguem interpretar.

RAW apresentava constantemente, em suas palestras, o seguinte enigma Zen:

Quem "é" o mestre que faz a relva verde?


A resposta, passa pelo sistema nervoso humano. No fundo, somos nós que criamos nossa realidade, mas achamos que essa realidade "é" absoluta. Pois, parece que não.

No fundo, o E-Prime equivale àquilo a que faríamos no português se abolíssemos o verbo ser.
Aí você veria a inteligência crescer a uma escala impressionante, como esperava Korzybski.
Alguns exemplos de português normal e de português de inspiração E-Prime (aceitam-se sugestões para um nome, para agora lhe chamarei PT Prime) retirados de Psicologia Quântica:

Português Normal:

1 - O fotão é uma onda;


2 - O fotão é uma partícula;


3 - O João é infeliz;


4 - O João é feliz;


5 - Isso é uma idéia fascista;


6 - Beethoven é melhor que Mozart;


7 - A relva é verde;




PT Prime:


1 - O fotão se comporta como uma onda quando observado por certos instrumentos                 
                                                          
2 - O fotão parece uma partícula quando observado por certos instrumentos;


3 - O João parece infeliz no escritório;


4 - O João parece feliz na praia;


5 - Isso me parece uma ideia fascista;


6 - No meu presente estado de educação musical e ignorância, Beethoven me parece melhor que Mozart;


7 - A relva parece possuir a cor verde de acordo com a maior parte dos olhos humanos.




A fraqueza da Aristotélica "isness" ou como lhe chamarei, "faculdade de ser" (também se aceitam sugestões melhores) permanece no fato de assumir uma inegável "coisice" -- a assunção de que todo o "objeto" contém aquilo que o filósofo alemão Max Stirner chamava "spooks", uma caraterística intrínseca, algures entre o fantasmagórico e a aldrabice pura.

O universo Aristotélico assume uma reunião de "coisas" com "essências" ou "spooks" dentro delas, onde o universo científico moderno assume uma rede de relações estruturais.

Quer ver o pensamento Aristotélico (pior que medieval) funcionando? Leia a frase seguinte:

Esse pão é o corpo de Cristo.


Ora o que essa frase, produzida pelo dogma de Aristóteles, nos diz que um pedaço de pão "é" na realidade o corpo de um homem que morreu há mais de 2000 anos. E nesse pensamento funcionam todas as religiões e políticas - mas por uma razão, como indica RAW:

«O hábito dogmático Aristotélico reforça e se reforça pelos antigos imperativos territoriais dos mamíferos. Os primatas selvagens, como outros vertebrados, clamam territórios físicos; os primatas domesticados (humanos) clamam territórios "mentais" - ideologias e religiões.»


Confesso que muita luz se fez na minha cabeça quando li isso em Psicologia Quântica.

A questão que se põe com o E-Prime (pelo menos, uma delas) me parece ser a seguinte:

Se você entender seu corpo como um computador, você sabe o que acontece a seu computador quando nele funciona software de merda. Agora veja, se estivermos utilizando software de merda em nossos cérebros, talvez aí esteja um dos motivos pelos quais não somos capazes de funcionar plena e racionalmente.

Ainda de Psicologia Quântica:

«No geral, as pessoas julgam tratar-se de algo "varonil" pronunciar vereditos dogmáticos e lutar por eles, e admitir incerteza quântica (o talvez de Von Neumann) parece "efeminado". O feminismo normalmente desafia este machismo, mas, tal como aquele com quem luta, certas feministas parecem pensar que vão aparentar maior força se falarem e se comportarem tão dogmaticamente e anticientíficamente como os mais estúpidos machos machistas.»


«As pessoas ignoram o talvez quântico, possivelmente porque eles nunca ouviram falar de lógica quântica ou psicologia transaccional, mas também o ignoram porque a política e religião tradicionais têm continuamente condicionado as pessoas por milênios - e ainda as treinam hoje - para agir com intolerância e certeza prematura.»


Quando dizemos "O João é" qualquer coisa, abrimos sempre as portas a debate insensato e metafísico.

Agora, gostaria de saber o que você pensa sobre esse post. Que reflita nisso.

Gostaria também que, de acordo com tudo o que aqui foi dito do E-Prime, comecemos nós trabalhando num português não dogmático e mais científico. Portando, se aceitam sugestões.

Tente banir o verbo ser de sua linguagem, talvez para sempre. Tente o mais que puder e observe sua inteligência aumentando - e sobretudo sua maior compreensão para com o universo que o rodeia.

Se você se treinar no E-Prime (ou PT-Prime) verá que terá maiores precauções em lançar julgamentos acerca de outras pessoas ou coisas.

"There is no spoon."

Tuesday 31 August 2010

As Máquinas & The Matrix

The Matrix, de Andy & Larry (hoje Lana) Wachowski foi, em 1999, o primeiro filme a me aniquilar com  sua mescla de cyber-punk, kung fu e FC.

Tudo isso, claro, antes de saber que muitas dessas idéias dos Wachowski não lhes pertenciam na realidade, mas tinham sido retiradas de outra HQ que eu viria conhecendo muitos anos depois, Os Invisíveis.

Morpheus, que acho uma das personagens mais cool de sempre do cinema, nasce dessa fusão entre Tom O'Bedlam e King Mob.

Neo incorpora um Dane MacGowan sem seu humor sarcástico.

Etc, etc. Morrison só demonstra sua grandeza por não se envolver num processo judicial que facilmente ganharia.

Apesar de tudo, não sou capaz de não gostar de The Matrix - mas sou capaz de não gostar de algumas coisas nele.

A idéia que mais desgosto se trata dessa guerra entre humanos e máquinas, em que as "pérfidas" e frias máquinas plantam - no verdadeiro sentido da palavra - seres humanos para os consumirem como energia. E, para não terem muito trabalho, lhes criaram uma realidade "não existente" em que os seres humanos "dormem", com e sem aspas.

Algo que me fez desgostar dessa idéia, foi algo que li numa entrevista a Terence McKenna.
Um homem de idéias lúcidas, por sinal.

«Uma das fantasias de Ficção-científica que povoa nosso inconsciente coletivo é expressada na frase "um mundo dirigido por máquinas"; nos anos 50 isso foi primeiramente incorporado na noção, "talvez o futuro seja um lugar terrível onde o mundo é dirigido por máquinas." Bem, pensemos um pouco nessas máquinas. Elas são extremamente imparciais, muito previsíveis e nada fáceis de persuadir moralmente. Seus valores são neutros e vivem bastante. Agora, pensemos um pouco sobre de essas máquinas são feitas, à luz da teoria do campo morfogenético de Sheldrake. As máquinas são feitas de metal, vidro, ouro, silicone e plástico; elas são feitas daquilo que a Terra é feita. Agora veja, não seria algo estranho se a biologia fosse uma forma da Terra se transformar arquétipalmente numa coisa auto-refletiva? Nesse caso, aquilo para onde caminhamos, inevitavelmente, é a criação de um mundo dirigido por máquinas. E assim que essas máquinas estiverem em seus lugares, o que podemos esperar é que elas façam uma gestão de nossas economias, linguagens, aspirações sociais e por aí em diante, de uma forma tal que nos paremos de matar uns aos outros, paremos de nos esfomear mutuamente, de destruir terra e muito mais. Na verdade, o medo de sermos governados por máquinas se trata do medo que o ego do macho tem de entregar o controlo do planeta à matriz maternal de Gaia.»


Assim que li essa opinião de McKenna, várias coisas fizeram clique na minha mente.

Primeiro, essa coisa do medo do ego machista, algo que, como macho, senti quando vi The Matrix.
E de notar também que me parece pouco provável que alguma mulher se preocupe com semelhantes coisas, daí que, na sua teoria, McKenna tem grandes probabilidades de estar correto. Eu, pelo menos, não conheço nenhuma.

Essa idéia dos materiais de que a Terra é feita e que a biologia pode ser uma forma da Terra se tornar uma coisa auto-refletiva me parece fascinante. Sempre me fascinou a Hipótese de Gaia, mesmo antes de ouvir falar nela. A idéia da Terra como organismo sempre me pareceu possível e altamente provável. Ela se está antropomorfizando para impedir sua própria destruição.


Então e The Matrix?

Todo esse medo da dominação por parte das máquinas me parece amplamente patético. Sempre que vejo e revejo o filme original e suas sequelas, a imagem mais latente (pelos piores motivos) é essa patética guerra de humanos contra máquinas.

Como McKenna refere e bem, as máquinas não possuem ambições ou emoções humanas, seu comportamento assenta numa imparcialidade e valores neutros. Como tal, essa guerra não tem sentido.
O filme parte do princípio de que essas máquinas agiriam da mesma forma que os humanos, mas não dá nenhuma explicação. O último filme da saga me parece particularmente ridículo e desprovido de idéias.

Essa resistência de Zion, para mim, representa numa forma bastante simples o medo que o ego masculino tem de perder o controle. E você, o que acha?