Thursday 14 April 2011

Lendo os Evangelhos Gnósticos

Depois de VALIS e d'Os Invisíveis, tinha de ir pegar nisso. Já deve ter ouvido falar neles. Se tratam dos evangelhos desaparecidos - e em parte propositadamente pela Igreja Católica - que acabaram sendo encontrados num local em Nag Hammadi, no Egito. Não foi ao acaso que esses evangelhos foram mantidos em segredo pelo Vaticano, já que a imagem de Cristo que venderam ao mundo pode se refutar facilmente recorrendo a eles. Horselover Fat menciona partes deles em VALIS.

Comecemos. Você já deve ter ouvido falar em "O Reino de Deus", um conceito e frase frequente em sermões religiosos. Normalmente nos apresentam isso como se tratando de um local, de um lugar, de um espaço. Mas de acordo com os evangelhos gnósticos, não me parece bem isso. Vejamos essa passagem, como exemplo, do Evangelho de Tomás.

«Se aqueles que te lideram disserem 'O Reino de Deus' é no Paraíso, para lá irão os pássaros em primeiro lugar. Se eles disserem 'fica no mar', para lá nadarão primeiro os peixes. Mas o Reino de Deus habita em seu coração e em toda sua volta; quando você se conhece a si mesmo também você será conhecido!»

Essa passagem apenas questiona alguns preconceitos religiosos. Quando o narrador (Cristo) diz "Se aqueles que te lideram disserem..." ele questiona automaticamente toda a autoridade religiosa que tenta (e muitas vezes consegue) manipular e convencer as pessoas sobre noções não muito claras presentes nos evangelhos.

Essa noção de "Reino de Deus" exemplifica isso mesmo, de que as coisas podem merecer diversas interpretações - que ao dogma não interessam. A autoridade religiosa vê o "Reino de Deus" como um lugar, mas Cristo diz que ele "habita em seu coração e em toda sua volta". Isso me parece muito mais budista do que cristão. Mas convenhamos, os cristãos de ontem pareciam ser muito diferentes dos atuais.

Se o "Reino de Deus" habita em seu coração, pode ele ser antes descrito como um "estado neurolôgico" e não um espaço ou lugar?

"Quando você se conhece a si mesmo também você será conhecido!"

Na grande maioria dos evangelhos gnósticos existem chamadas de atenção de Cristo para que os homens se conheçam a si mesmos, e fazendo isso eles acabem por encontrar o tal "Reino de Deus". Da maneira como vejo isso, o "Reino de Deus" pode significar um estado de felicidade absoluta, como o "Nirvana" do budismo, e não um lugar.

Cristo continua sendo visto pela sociedade em geral como alguém que pretende(ia) trazer paz ao mundo. Mas de acordo com o que ele diz no Evangelho da Tomás, isso deve ser questionado:

«Os homens acreditam que vim ao mundo para trazer paz, mas eles não compreendem que eu vim trazer divisão na Terra; fogo, luta e conflito»

Continuo achando a primeira parte desse excerto do Evangelho de Tomás algo enigmática:

«Os seus discípulos perguntaram, "Em que dia tu te darás a conhecer a nós?" Jesus respondeu, "Quando vocês se livrarem da culpa e vergonha e rasgarem seus velhos trapos e os espezinharem como crianças»

Que quererão eles dizer com Cristo se dar a conhecer? Porque não o conheciam já eles? Ou se o conheciam, será que falavam de uma outra face, talvez apenas visível aqueles que chegassem naquele estado chamado de "Reino de Deus?" A resposta de Cristo, essa sim, parece ecoar do espírito da última frase de Os Invisíveis, ("Nossa Sentença Terminou!") e acaba desafiando a mesma igreja que promoveu Cristo como messias. Quem mais tem promovido culpa e vergonha que a religião?

Outra passagem no Evangelho de Tomás que me faz questionar se o Reino de Deus/Reino Paradisíaco não se trata do estado mental em que o ser humano se encontra após a destruição do ego. Encare essa metáfora:

«O Reino Paradisíaco é como um bravo soldado desejando matar um gigante. Ele tira sua espada em casa e a faz atravessar a parede para testar sua confiança. Depois disso, ele vai e mata o gigante»

Mas avancemos agora. Você já ouviu falar no conceito de 'pecado', não? Claro que já, organizações religiosas o usam para manipular tudo e todos, dizendo o que todos podem ou não fazer. Leis absurdas. Leis que não são dos homens. No Evangelho de Maria Madalena (sim, existe um, lá iremos mais para o final) Pedro pergunta a Cristo qual é o pecado do mundo. Eis a resposta:

«O pecado não existe realmente! São vocês que criam o pecado, quando fazeis ações como adultério, que são chamadas de pecaminosas. Por isso o Bem entra em seu coração para fazer você voltar à sua origem»

Ui que merda. Então o pecado "não existe realmente?" Não segundo Cristo, o próprio.

Ouvimos frequentemente nos Evangelhos Gnósticos Cristo alertando os homens para o auto-conhecimento e contra a ignorância como caminhos para esse "Reino de Deus":

« Vos digo que o filho do homem está dentro de todos vós! Procurem ele lá dentro! Aqueles que procuram sem cessar e seriamente acabarão por encontrá-lo. Depois saiam e proclamem a verdade do Reino àqueles com ouvidos para ouvir. Não inventem regras além dessas que vos dei. Não façam leis como os fazedores de leis fazem ou isso os deixará para trás»

Eu interpretei isso da seguinte forma: aprendam a como chegar nesse estado a que Cristo chama de "O Reino" e depois ensine aos restantes. De salientar o alerta para que seus seguidores não façam leis. Mas eles acabaram por fazer. Os dogmas se tratam disso mesmo.

Outro aspecto curioso dos Evangelhos Gnósticos passa pelo Evangelho de Maria Madalena. Ele mostra que não só Maria Madalena não se tratava de uma 'prostituta' como era aliás um discípulo de Jesus - o seu favorito. Essa visão da mulher propagandeada pela Igreja de Pedro pode ser vista na atitude do seu criador, que age sempre contra Maria Madalena de uma forma misógina:

«Pedro disse, "Ele (Cristo) falou mesmo com Maria, uma mulher, sem nosso conhecimento? Porque devemos ouvir o que ela diz? Ele a favoreceu mais do que a nós?"»

Mas Mateus adverte Pedro:

«Você sempre se enraivece rápido de mais. Te vejo agora duvidando de uma mulher tão valorosa como Maria. Quem tu pensas que és para disputar seu testemunho, como um inimigo? Se Jesus a fez justa, quem somos nós para a desonrar? Jesus a conhecia bem, por isso ele a amava mais do que a nós»


Nota final: Não me vejo como alguém religioso mas me identifico com alguma componente filosófica/mística apresentada por Jesus Cristo. A interpretação desses textos foi minha apenas e cada um poderá fazer a sua. Com minha interpretação pretendi, antes de mais, clarificar que a palavra do homem que certas organizações religiosas apresentam como seu messias me parece bem diferente daquilo que na generalidade as pessoas pertencentes a essas organizações fazem. Se a Bíblia e outros livros religiosos não fossem levados ao fanatismo talvez esse mundo estivesse bem melhor.

Monday 28 March 2011

Frases #1

«Nós nascemos para cooperar, como pés, como mãos, como pálpebras, como os dentes de cima e de baixo. Portanto trabalhar em oposição uns aos outros é contra a natureza: e raiva ou rejeição são oposições»

Marco Aurélio, Meditações

Wednesday 23 March 2011

Uma Teoria Tecno-Evolucionária



Nesse vídeo, Amber Case menciona muitas coisas, algumas das quais me encontro em completo acordo; em outras, discordo completamente. Nos tornamos ciborgues? Se não, devemos estar bem perto disso. Em minhas leituras de McKenna e Morrison, passando pela mente bicameral de Julian Jaynes, venho pensando numa teoria onde algumas de suas idéias acabem por convergir.

Amber case se refere à internet no final do vídeo como parecendo algo mais orgânico do que tecnológico. Aqui me parece residir um erro. Falamos sempre de tecnologia como algo criado pelo homem; mas se a natureza cria os organismos, não podemos falar também desses como tecnologia? Talvez lhes devamos dar um novo nome, como organotecnologia.

Mas o problema principal da palestra de Amber Case reside no fato de ela caminhar no caminho do medo e paranóia das novas tecnologias. Isso me parece assustador, quando seres supostamente inteligentes vêem a mudança tecnológica como algo de mau. Ela se encontra realmente preocupada com o fato de nos encontrarmos perdendo défices de atenção e portanto nos tornando menos conscientes devido ao uso da internet.

Da mesma forma que Sócrates falou contra os livros porque pensava que os seres humanos ficariam menos inteligentes - pena que ele não contou com Gutenberg. A tecnologia nos separa dos animais. Através de nossa criação tecnológica, ultrapassamos nossas barreiras biológicas.

Os homens das cavernas viveram nelas talvez porque as condições meteorológicas não lhes eram favoráveis. Mas depois ele usou peles de animais e criou roupas; cortou árvores e fez casas; e assim levou a caverna consigo para todo o lado - a tecnologia o fez ultrapassar essa barreira biológica. O homem manufatura. Faz coisas para que assim possa sobreviver. Mas nunca sem um propósito.

Depois de Jaynes, VALIS e Morrison, venho pensando que aquilo que temos como consciência comum não passa de uma ilusão. Talvez nós pensamos que "existimos". A ilusão não reside em pensarmos que existimos, mas na assunção que "somos" indivíduos. Se Jaynes estiver certo, e a consciência não passar de uma coisa cultural em vez de evolucionária, então a individualidade faz parte dessa ilusão; se pegarmos na teoria de Grant Morrison de que "somos" seções através do tempo, partes de um todo, ramos da mesma árvore humana (que nunca vêem toda a árvore e portanto acham que apenas eles existem), então de novo a individualidade ganha força como se tratando de uma ilusão. Uma mentira. Nossos sentidos nos mentem em pensarmos que "somos" separados, individuais.

A consciência nos faz viver dentro de nossas cabeças em vez de fora delas. E porque pensamos que vivemos no interior, julgamos que existe algo chamado o "lá fora", o "exterior", o "estrangeiro". E essa se trata de uma outra ilusão ainda - essa bem mais perigosa - de que vivemos fora da natureza. E voltando a Morrison, bem, a natureza inclui tudo. Carros, edifícios, microondas, bomba atômica, garfos, roupas, tudo.

A criação humana não passa de biologia tecnologicamente modificada - mas não podemos deixar de lhe chamar natureza. E agora se voltarmos a Terence McKenna e a sua teoria de que a natureza nos usa para se transformar, chego num ponto em que começo a duvidar desse fenômeno chamado "poluição". Porque se a natureza pretende que nós a alteremos, essa coisa de poluição não existe. A chamamos de poluição porque estamos danificando o habitat de certos organismos biológicos, que dependem de oxigênio para viver.

Mas como provam as recentes descobertas da NASA, talvez nem todos os organismos precisem de oxigênio para viver. As árvores, por exemplo, respiram dióxido de carbono. Chamamos esse fenômeno de poluição porque não o entendemos. E se estivermos de fato mudando o mundo através dessa chamada "poluição"? E se o novo mundo que criarmos for um mundo em que nós mesmos teremos de ser recriados?

Se a teoria de McKenna de que a natureza através da inteligência artificial quer que nos tornemos em máquinas for verdade, essa poluição não nos fará grande mal. As máquinas não respiram, portanto não têm grandes problemas nesse aspeto. Pelo contrário, para as máquinas algo verdadeiramente hostil se trata da água, que enferruja seus metais - para nós seres biológicos, pelo contrário, a água se mostra essencial.

Mas e se o homem deixar de ser biológico e passar a máquina? Fico algo desesperado, isso sim, quando vejo seres supostamente inteligentes se comportando de forma estúpida. Pessoas que não conseguem ver mais adiante porque lhes falta imaginação. Pois que se possuíssem imaginação, não enviariam uma nave para o espaço com música e livros relacionados com a natureza humana para o espaço, na esperança de que algum extra-terrestre a encontrasse.

Porque se tivessem imaginação logo compreenderiam que se esses extra-terrestres evoluíram de forma completamente diferente da nossa, possivelmente terão à sua disposição outro tipo de sentidos e talvez não sejam capazes sequer de sentir essas coisas que a natureza humana sente. Tente explicar filosofia para uma mosca - ela não entende, porque seus sentidos não foram feitos para compreender a natureza humana, da mesma forma que os seres humanos não entendem porque a mosca come merda.

Como Robert Anton Wilson explica em seu Gatilho Cósmico, talvez mesmo aqui, em nosso planeta, existam "aliens". Seres que não consigamos sentir com nossos sentidos normais. E talvez eles também não saibam de nossa "existência" porque seu sistema perpecional "é"diferente do nosso. Porque a realidade em que vivem se trata de outra. Se isso não se pode chamar de prisão, o que pode?

Agora para minhas alegações finais: partindo do princípio de que através da consciência desenvolvemos a individualidade e isso nos levou a virar as costas uns aos outros, a matar incessantemente, a destruir, a natureza nos voltou a colocar no caminho devido, através da internet. E disso proliferam palavras positivas como "partilha". Uma vez que parecemos ter perdido ou nos tornado biologicamente ignorantes da ligação existente na nossa espécie, de que todos partimos da mesma fonte, de que todos somos partes da mesma máquina, a internet nos veio lembrar que não estamos sós. Que somos irmãos.

E então, todos os dias pessoas trabalham para que tenhamos sistemas cada vez mais avançados de tradução linguística que em vinte, quarenta ou sessenta anos tornarão as linguagens obsoletas. Se as linguagens se tornarem obsoletas e todos se compreenderem, as nações entrarão em colapso. E isso nos levará ao inevitável destino que muitos temem sem razão: a Nova Ordem Mundial. Exceto que se trata de uma coisa boa. Um mundo onde todo o mundo se compreende, se escuta. O mundo pelo qual tenho esperado. O mundo como devia "ser".


Monday 21 March 2011

A Prisão de Ferro? #1













"Em Civilização e Seus Descontentamentos, Sigmund Freud sugere que o homem criou uma civilização que acabou por se tornar uma prisão; ela exige que ele constantemente reprima desejos que são naturais aos animais selvagens."

Thursday 17 March 2011

The Buddha is in the park




















Se torna difícil, após e durante a leitura de VALIS, descrever de que o livro se trata. Ficção científica ou especulativa? Tratado filosófico? Talvez ambos?

Seja como for, quando o terminei de ler, houve algo que tive de imediato a certeza - que estava na presença de um grande livro.

VALIS, para começar, se trata do primeiro livro em que vejo o conflito de personalidade do autor espelhado no texto. Com alguns de vocês já devem saber, o personagem principal, de seu nome Horselover Fat, se trata de uma espécie de tradução do nome do autor, Philip K. Dick.

Isso porque muitas das coisas presentes no livro terão acontecido com Dick, entre a "realidade" e a "alucinação". Esse conflito de personalidade começa logo no início do livro e até cerca da página cinquenta, Dick vai se referindo a Horselover Fat ora na primeira pessoa, ora na terceira. Isso porque talvez fosse para ele difícil separar Horselover Fat de si próprio, o que quer que isso seja.

Para quem já leu alguns livros de Robert Anton Wilson e Grant Morrison, VALIS se caracteriza por um autêntico orgasmo de sincronicidades. Como o Synthzoid já mencionou aqui nesse post, começamos (alguns de nós) por ter sintomas de apofenia, algo que Philip K. Dick já devia conhecer bem.

Alguns exemplos disso são, na conversa de Horselover Fat com Dr. Stone, o fato de Fat dizer que as origens da humanidade se encontram perto da estrela Sirius. Já em Gatilho Cósmico, Robert Anton Wilson havia referido a mesma coisa, com base no livro de Robert K. G. Temple "O Mistério de Sirius". Fat refere também a tribo Dogon do Mali como origem do cristianismo, uma vez que eles usam o símbolo do peixe (o Vesica Piscis) etc. Uff. Tem sincronicidade demais. Se eu fosse referir todas a que o livro me leva, estaria aqui séculos.

Mas posso dar como exemplo - e porque também tenho minha dose de apofenia - que Sirius se encontra na constelação Canis Major ou O Grande Cão. Daí lembro que o cão se trata talvez do único animal a ter uma relação especial com o ser humano e que a palavra "cão" em inglês se traduz para "dog" e se lida ao contrário... vira "god". Os mais afetados chegam a pensar que os cães são extra-terrestres enviados para ajudar os humanos, nossos vizinhos num planeta perto de Sirius. Eu, por motivos de sanidade mental, não irei tão longe. Sincronicidade é foda.

Voltando a VALIS, Horselover Fat apresenta uma série de teorias em grande consonância com Os Invisíveis e capazes de deixar qualquer um, como diria, entre o confuso e a sensação de que ele fala de qualquer coisa que parece fazer sentido.

Em primeiro lugar, imagine nosso universo como um computador. Esse computador tem um vírus e o vírus se chama irracionalidade. Numa tentativa de corrigir esse universo, VALIS injeta no universo o "logos", um ser de pura informação e como tal racional, que assume uma simbiose com um ser humano - nesse caso o ser humano se tratou de Jesus Cristo. O "Logos", conhecemo-lo vulgarmente por outros nomes, como o Espírito Santo.

VALIS: "an informational anti-toxin"

Essa percepção de Fat do nosso universo como irracional me assalta todos os dias como contendo uma verdade assombrosa. Só assim se explica que aqueles que se dizem "crentes" em Jesus Cristo não liguem porra nenhuma aos seus ensinamentos morais mas façam antes exatamente o contrário de tudo aquilo que ele tentava ensinar. Só assim se explica que assassinemos Ghandi, Cristo e John Lennon e se venere Bush, Khadafi e Hitler. Que há algo de irracional nesse universo me parece coisa certa. Por assim dizer, Cristo se carateriza como um antivírus contra a irracionalidade.

«The Empire never ended»

Mas continuando: segundo Fat, após a morte de Cristo, o "plasmate" (o Logos) escapou do "Império" e se refugiou em Nag Hammadi até 1974 de onde terá saído para destronar o representante do "Império" Richard Nixon, com o escândalo Watergate. Também de acordo com Fat, o tempo só recomeçou em 1974.

A queda do Império Romano também se encontra referenciada nessa série de vídeos de Terence Mckenna. Mais sincronicidade e apofenia.

Acho essa noção do Logos como um ser de pura informação que terá saído de Nag Hammadi "angry as a mother fucker" muito curiosa. Pois acontece que dois anos depois, em 76, Steve Jobs funda a Apple e hoje, em 2011, não podíamos estar mais num mundo de pura informação que esse. E um mundo onde há mais informação, pode dizer-se, trata-se de um mundo mais racional. Será coincidência apenas que a internet tenha ajudado a despoletar revoluções no Egito, Tunísia e Líbia; que o Wikileaks esteja tendo um papel essencial na divulgação de crimes governamentais? Talvez a loucura de Dick e Horselover Fat fosse antes uma "super-sanidade".

VALIS dava matéria para dezenas de posts, talvez dê ainda. Mas nesse momento em que escrevo o post não consigo retirar na cabeça as fantásticas teorias de Fat, que quase tornam o cristianismo uma religião interessante. Penso que à semelhança de Fat, que vive nesse túnel de realidade em que tudo isso parece fazer sentido, também outras realidades existem neste mundo, na cabeça de cada um.

Já vivi num túnel de realidade paranóico, pessimista, crente que existiam uns Illuminatti que tinham um plano secreto para dominar o mundo e instalar uma "Nova Ordem Mundial". Alguns de vós poderão mesmo viver parcialmente nesse túnel, mas tenho de dizer, prefiro esse em que hoje vivo.

Ele se descreve assim: satírico, otimista, com a consciência de que todas as realidades devem se entender como relativas e nunca absolutas. Que a morte deve ser entendida como inevitável parte da natureza e não a devemos julgar pela informação que dela obtemos por nossos sentidos. Tenho, sobretudo, esperança na humanidade. Como McKenna, como Morrison, como Dick. Esperança na abolição do sofrimento e no derrube desses mundos que chamamos de nações e que nos unamos de novo como irmãos que somos e sempre fomos, do mesmo passado para o mesmo futuro. A internet veio para nos unir, e desta vez o Império não nos conseguirá separar.

O Buda está aqui, e desta vez, somos muitos.

Monday 27 December 2010

Mudança Cerebral Induzida

Mudando seu cérebro, pode mudar muita coisa em você. O cérebro humano opera em dois hemisférios, direito e esquerdo. Veja esse vídeo:



Se você conseguir ver a bailarina dançando no sentido dos ponteiros do relógio, você opera com o lado direito do cérebro. Se for no sentido contra os ponteiros do relógio, opera o esquerdo. Meu lado esquerdo se afirmou mais dominante do que o direito. Nenhum dos lados se pode classificar como sendo melhor ou pior que o outro - o segredo, para mim, reside no equilíbrio entre as duas partes.

Uma mudança cerebral pode se tornar um processo longo, e que ao final dele, você nem note diferença nenhuma. No entanto, pessoas que não o/a vejam durante alguns anos irão notar a diferença. Você pode mudar seu cérebro de muitas maneiras. O iôga, drogas psicodélicas ou alimentação - todos eles podem mudar a forma como seu cérebro opera.

Desde a escola nos ensinam que devemos escrever usando apenas uma mão. Conheço várias pessoas que, antes dos professores os limitarem a usar uma mão, usavam ambas. Adquirir ambidextria pode significar mais do que a habilidade de escrever usando as duas mãos - significa também o uso dos dois hemisférios cerebrais. Aleister Crowley aconselhava muitas vezes seus alunos a adquirirem a habilidade de escrever de igual forma com ambas as mãos, ou não tivesse Crowley também incorrido numa profunda mudança cerebral. O vídeo seguinte descreve de alguma forma como e de que se compõem os dois hemisférios cerebrais.





O ponto descrito com a transição das sociedades antigas, onde existia não apenas um equilíbrio das partes como uma dominância do hemisfério direito, mostra como a supressão de nosso lado feminino aconteceu. O lado esquerdo do cérebro, como o vídeo descreve, originou uma sociedade patriarcal, assente no desprezo pela mulher. Mas não apenas a mulher, o lado feminino que em todos nós existe. E a supressão do lado feminino produz agressividade. Essa agressividade pode ser vistam, por exemplo, no comportamento homofóbico e machismo.

Isso mostra que a mudança cerebral (qualquer que ela seja) pode operar também ela mudanças profundas numa sociedade.

Algumas técnicas que você pode utilizar e que poderão operar mudanças no modo de funcionamento do seu cérebro:

- Pranayama, uma técnica de controle respiratório. Robert Anton Wilson aconselha vivamente a respiração de narinas alternadas (inspirar por uma narina, expirar pelas duas, e inspirar pela outra, expirar pelas duas). O exercício, quanto mais tempo por dia for praticado, melhores os resultados. Para começar, 7 a 10 minutos chegam;

- Meditação - Quatro sessões diárias de 15 minutos (manhã, depois de almoço, final de tarde, noite) fazem seu cérebro funcionar melhor;

- Exercício físico - sim, o exercício físico importa. Segundo a New Scientist, algum exercício físico ajuda a circulação sanguínea e como tal ao sangue chegar em melhores condições ao cérebro;

- Alimentação - Você se torna naquilo que come. Mas alguns alimentos se mostram particularmente bons para o cérebro. Mirtilos, cajus, alimentos contendo hidratos de carbono, frutos - todos eles contribuem para um cérebro melhor. Substituição do açúcar comum por mel ou frutos também importante.

- Ambidextria - a tecnologia parece estar fazendo isso por nós, com a introdução do teclado.
Em "A Ascensão de Prometeus", Robert Anton Wilson aborda as diferenças entre os hemisférios direito e esquerdo do cérebro humano, e sua relação com a escrita:

"Neurologia recente nos tem mostrado que nossa tendência a ser destros se encontra intimamente ligada com o fato de usarmos mais o hemisfério esquerdo do cérebro que o direito. De fato, tão raramente usamos o hemisfério direito que ele era antigamente descrito como o hemisfério silencioso.
Portanto, existe uma preferência genética na maioria dos humanos para manipulações destras e execuções esquerdinas. Essas coneções parecem intimamente envolvidas no nosso circuito verbal e semântico, porque o hemisfério esquerdo é o cérebro "falante". Se pode descrever como linear, analítico, computacional e bastante verbal. Portanto, existe uma base neurológica para a ligação entre mapeamento e manipulação. A mão direita manipula o universo (e faz artefatos) e o cérebro esquerdo mapeia os resultados num modelo, o que permite previsões acerca de comportamentos futuros dessa parte do universo. (...)
Os esquerdinos (canhotos), pelo contrário, se especializam em funções do cérebro direito, que se descrevem como holísticas, supra-verbais, "intuitivas", musicais e "místicas". Leonardo da Vinci, Beethoven e Nietzsche, por exemplo, escreviam todos com a mão esquerda. Tradicionalmente, os canhotos têm sido alvo de medo e reverência - descritos como esquisitos, xamânicos e provavelmente capazes de comunicar com "Deus" ou "o Diabo"."
Você pode fazer uma pesquisa e notar facilmente que as percentagens de "gênios" que escrevem com a mão esquerda se mostra superior aos que escrevem com a mão direita. Isso deve se considerar mais que mera coincidência.

Elaborei essa lista após leituras de Robert Anton Wilson, Chrisopher Hyatt e alguns artigos na New Scientist. Não importa se você pensa que isso irá ou não funcionar, experimente e logo verá. Como diz Crowley, ao fazer certas coisas, certos resultados se seguirão.

Wednesday 15 December 2010

Religião e a Mente Bicameral

Um dos responsáveis pela minha recente alteração de posição relativamente ao papel da religião na sociedade humana - Alister Hardy. Tudo por causa da entrevista que dele ouvi nesse site.

De fato muito se tem dito que a religião se trata de um problema, mas como diz Hardy, "O homem é um animal religioso".

Em A Origem da Consciência no Colapso da Mente Bicameral, Julian Jaynes mostra como a religião sempre foi um meio de organização social, e que as perspectivas sobre os deuses nem sempre foram as mesmas. A idéia principal do livro se mostra efetivamente apocalíptica. Tal qual como afirma William Harrington na contracapa do livro, a obra de Jaynes torna "estantes inteiras de livros obsoletas". E talvez sim.

A idéia principal passa pelo seguinte: e se o homem nem sempre tiver tido consciência de suas ações? E se a consciência não for, como pensava Darwin, um fator evolutivo, mas cultural? Através de diversos relatos e provas consistentes, Jaynes mostra que a consciência humana não terá começado até à cinco mil anos atrás. E o que aconteceu portanto, à cerca de cinco mil anos?
A resposta é, a invenção da escrita.

Então o que haveria antes disso? Segundo Jaynes, antes do "eu", havia a mente bicameral.
A mente bicameral, ou mente de duas câmeras, consistia no seguinte: consciência se dividia em duas partes distintas, o deus e o homem. A parte direita do cérebro alucinava o "deus" (que sempre representava uma entidade superior ao que tinha a alucinação) e a parte esquerda recebia as ordens dessa alucinação. Os homens não pensavam no sentido que hoje entendemos. Respondiam simplesmente a estímulos alucinatórios.

Jaynes dá o exemplo da Ilíada, em que nenhum dos personagens pensa ou interioriza o pensamento, mas simplesmente obedece aos deuses. Temos vivendo interpretando os deuses como uma coisa exterior, mas e se representarem antes uma coisa interior?

O livro de Jaynes faz qualquer pessoa como eu, que duvida da religião, pensar duas vezes. E à medida que se lê, se compreende o porquê das coisas terem chegado ao ponto que chegaram. Quando a mente bicameral deu origem à consciência moderna, houve caos.
Muita gente morreu. As pessoas não compreendiam porquê os "deuses" as tinham "abandonado" e se gerou na mente coletiva o pensamento de que os deuses partiram porque a humanidade tinha feito algo de incorreto. Aí se geraram esses conceitos de pecado, das coisas que os deuses querem que façamos e não façamos. Se gerou o mito de que os deuses tinham partido para uma morada "no céu" e então se geraram os intermediários alados entre deuses e homens, também chamados de anjos. Tudo isso faz enorme sentido.

Se compreende então também o porquê da existência da autoridade religiosa, como padres. No momento do colapso da mente bicameral, nem todos os homens a perderam. Durante talvez um milênio continuaram a existir este tipo de mente, mas em menor escala. Estas mentes talvez fossem tidas como "oráculos" e lhes era dada uma autoridade religiosa. Em suas mentes bicamerais, eles conseguiam ainda "contactar" com os deuses, e as pessoas, sofrendo o choque de uma alteração mental, procuravam essas pessoas para orientação.

Existem fatos bastante curiosos sobre a posição dos deuses em relação aos homens há cinco mil anos. Na Suméria, desenhos representativos dos homens e deuses nunca mostravam os homens como hoje, se ajoelhando perante os deuses, lhes pedindo clemência. Pelo contrário, o homem era visto antes de pé, sendo que o deus se sentava numa cadeira o aconselhando sobre o que fazer. Com o colapso da mente bicameral, se originou no mundo o que temos hoje. A noção de pecado, de penitência.

O que o colapso da mente bicameral coloca em xeque? Uma série de coisas. Por exemplo, na minha opinião, a história se torna obsoleta. Sim. Nos ensinaram que "a história se repete". Mas e se não repetir? Se a consciência humana for sempre sofrendo alterações, a história dos homens nunca se repetirá. Mais: me parece inútil olhar para exemplos históricos passados porque suas circunstâncias devem se entender sempre como diferentes das nossas. O que eu acho que esse colapso nos ensina sim algo que há muito devíamos ter aprendido, a viver no presente.

Isso pode indicar que outros colapsos, ao longo da história, irão existir. O colapso de 2012 indicado por McKenna e narrado em Os Invisíveis por Grant Morrison pode acontecer. "O complexo de múltipla personalidade como opção de vida", pode se tornar algo real.

E agora voltando a Alister Hardy, ele fala nessa entrevista de coisas bastante curiosas. Por exemplo, como o homem parece sempre procurar aconselhamento em algum ser superior. Com o colapso da mente bicameral, e na ausência de alucinações, a noção de "deus" se tornou abstracta. "Deus" perdeu sua antropomorfização e se tornou para a mente humana uma entidade diferente, mais complexa. Hardy compara a relação dos homens com "deus" com a relação que o cão tem com os homens. Esta é uma relação sobre a qual sei muito pouco, mas me parece muito curioso, como indica Hardy, que a certa altura os cães terem deixado de seguir o líder de sua matilha para seguir um ser de outra espécie. Isso me parece muito curioso.

Muito curioso também as palavras inglesas para cão e deus (dog e god) se mostrarem uma inversão uma da outra. Mera coincidência? Eu lhe chamaria sincronicidade.

No discurso de Hardy se encontra algo que comecei a pensar recentemente. Que o problema da religião não está na religião em si, mas nos seus líderes. E realmente, a diferença entre um Papa e um Dalai Lama me parece atroz. Como diz Hardy, "se Jesus Cristo vivesse hoje em dia, dificilmente seria um cristão". Mas esse fenômeno, a que chamarei a decadência das elites, existe em todas as outras áreas.

Gosto do que Alain de Botton diz nessa palestra no Ted Talks. Que pela primeira vez na história, vivemos numa sociedade em que o homem se venera a si mesmo. Esta nova religião, também conhecida como narcisismo, talvez seja um dos motivos de nossa decadência. Ela deu origem à aberração da chamada "celebridade", mas nem todos os egos parecem estar preparados para enfrentar semelhante coisa. Portanto, alguns entram em decadência.

This is my truth, tell me yours.

Friday 10 December 2010

Makrolexicon, parte I

Para estruturar o Makrolexicon, que anunciei no post anterior, será necessária alguma pesquisa, não apenas minha como dos leitores, para sugestões que tornem esse um projeto mais ambicioso. As palavras nos parecem 'coisas' tão óbvias, tão reais, que nunca pensámos que elas pudessem ser criadas. E das maiores dificuldades com que já me deparei foi sobretudo essa: como criar palavras?

Em "A Origem da Consciência no Colapso da Mente Bicameral" (tradução minha), Julian Jaynes tem um livro de idéias absolutamente apocalípticas e que devia ser lido por todos os que pretendem ter outra perspectiva sobre a origem das religiões, fora de conspirações e coisas do gênero. Mais tarde farei um post sobre ele. Mas logo no início do livro, Jaynes nos fornece algumas dicas sobre a criação da linguagem que penso se mostrarão essenciais. Senão vejamos:

"Metáfora e Linguagem

Falemos então de metáforas. A mais fascinante propriedade da linguagem é sua capacidade de fazer metáforas. Mas isto é minimizar tudo isso! Pelo que a metáfora não é apenas um mero truque extra da linguagem como é comum ser descrita nos velhos livros escolares, mas o verdadeiro assento da linguagem. Eu estou usando a metáfora aqui no sentido mais geral: o uso de um termo por uma coisa para descrever outra porque existe algum tipo de semelhança entre elas ou entre suas relações com outras coisas. Existem portanto sempre dois termos numa metáfora, a coisa a ser descrita - a que chamarei o metaphrand - e a coisa ou relação usada para a elucidar, à qual chamarei o metaphier. A metáfora é sempre um conhecido metaphier operando num metaphrand menos conhecido. Inventei esses termos híbridos simplesmente para fazer eco da multiplicação onde o multiplicador opera num multiplicando.
É pela metáfora que a linguagem cresce. A resposta comum à questão "O que é isso?" é, quando a resposta é difícil ou a experiência algo de único, "Bem, é como --." Em estudos laboratoriais, quando ambos crianças e adultos descrevem objetos absurdos (ou metaphrands) a outras pessoas que não os conseguem ver, usam metaphiers que com a repetição se acabam por transformar em rótulos. A grande e vigorosa função da metáfora é a geração de nova linguagem quando ela é precisa, à medida que a cultura humana se torna mais e mais complexa."

Esse excerto deve servir como introdução. Aqui Jaynes nos anuncia que a metáfora não só se usa como ferramenta linguística como é a verdadeira base de toda a linguagem. E nos adianta dois termos:
- Metaphrand - A coisa/ação/acontecimento/sensação a ser descrita
- Metaphier - A relação utilizada para descrever.
Seguimos com mais um excerto do livro de Jaynes.

"Mesmo uma palavra que soe tão pouco metafórica quanto o verbo 'to be' (ser e/ou estar) foi gerado por uma metáfora. Ela vem do Sânscrito bhu, "crescer, ou fazer crescer," enquanto que as formas inglesas de 'am' e 'is' evoluíram da mesma raíz que o Sânscrito asmi, "respirar". (...)
As palavras abstractas são moedas antigas cujas imagens concretas, no atribulado dá-e-toma da conversa se gastaram com o uso. (...)
Porque durante nossas breves vidas nós captamos tão pouco da vastidão da história, tendemos a pensar na linguagem como algo sólido como um dicionário, de uma permanência granítica, em vez do mar sem descanso de metáfora que na realidade ela é. (...) Mas se alguma vez atingirmos uma linguagem que tenha o poder de exprimir tudo, então a metáfora não mais será possível. (...) O léxico da linguagem é, então, um conjunto finito de termos que através da metáfora conseguimos esticar até um conjunto infinito de circunstâncias, criando mesmo novas circunstâncias. "


E agora para dois termos essenciais para completar uma metáfora e portanto criar linguagem - os paraphiers e paraphrands.

"Paraphiers e Paraphrands

Se olharmos com maior cuidado para a natureza da metáfora (notando a natureza metafórica de quase tudo o que dizemos), nós descobrimos que é composta de um metaphier e metaphrand. Existem também na sua base as mais complexas associações metafóricas ou atributos do metaphier, aos quais chamarei paraphiers. E esses paraphiers se projetam no metaphrand naquilo que eu chamarei os paraphrands do metaphrand. Algo confuso, mas absolutamente necessário se quisermos ser claros sobre nossos referentes. (...)
Considere a metáfora que a neve cobre o chão num manto.
O metaphrand é algo acerca da plenitude e mesmo grossura com que o chão é coberto de neve. O metaphier é o manto cobrindo uma cama.
Mas as nuances agradáveis desta metáfora estão nos paraphiers do metaphier, manto. Estas são sobre proteção, aquecimento e sono até o acordar. Estas associações de manto então se tornam automaticamente as associações ou paraphrands do metaphrand original, a forma como a neve cobre o chão. E assim criámos através desta metáfora a idéia da terra dormindo e protegida pela neve até seu acordar na Primavera. Tudo isso empacotado no simples uso da palavra 'manto' para descrever a forma que a neve cobre o chão."

Portanto:
- Metaphrand - A coisa/ação/acontecimento/sensação a ser descrita - Neve cai no chão.
- Paraphrands - Associações feitas a partir do metaphrand - a forma como a neve cai.
- Metaphier - A relação utilizada para descrever - Neve cobrindo o chão como o manto cobre uma cama.
- Paraphiers - Sensações provocadas pelo metaphier - proteção, segurança, aquecimento, etc.

E assim sugiro isso como ponto de partida para a criação de cada palavra. Cada palavra deve ser entendida, antes de mais como uma metáfora de uma realidade percepcionada. Olhemos outra metáfora, de Camões:

"Amor é fogo que arde sem se ver"

Você pode descrever um amor que sente/sentiu de outra qualquer maneira, mas o que aqui importa é a descrição de amor dada pelo poeta. Portanto:

- Metaphrand - Amor.
- Paraphrand - A forma como se sente o amor.
- Metaphier - Amor como fogo invisível.
- Paraphier - Calor, segurança, conforto, dor.

Precisamente nos paraphiers do metaphier reside a força da metáfora. Porque o fogo, podendo ser algo que dá aquecimento e conforto, pode também se tornar uma força destrutiva, que consome.

Mas você pode dizer: isso são apenas palavras. Eu lhe respondo que talvez não. Porque pensamos pela palavra, e se estivermos ela em nosso controle, controlamos o pensamento. Como diz Jaynes em seu livro:

"(...) mudanças de palavras são também mudanças concetuais e mudanças concetuais são mudanças comportamentais. Toda a história das religiões e política e mesmo ciência é testemunha disso mesmo. Sem palavras como alma, liberdade ou verdade, o aparato dessa condição humana teria sido preenchido com diferentes papéis, diferentes clímaxes. E assim também com as palavras que temos designado como hipóstases pré-conscientes, que pelo processo gerador de metáforas ao longo dos séculos se uniram naquilo que chamamos operador da consciência."

Portanto já temos alguma noção de como criar palavras. Agora outra parte: como as tornar em linguagem corrente? Em Caminho Crucial, um dos livros de Buckminster Fuller, ele refere a história de um rapaz de dez anos chamado Michael que lhe escreveu uma carta perguntando se ele se achava "um fazedor ou pensador." Ele respondeu o seguinte:

"Caro Michael,
Muito obrigado pela sua carta mais recente dizendo respeito ao tema "pensadores e fazedores."
As coisas a fazer são: as coisas que são necessárias fazer; aquilo que você vê que precisa ser feito, e que mais ninguém consegue ver que precisa ser feito. Depois você vai conceber sua própria forma de fazer aquilo que precisa ser feito - algo que ninguém lhe disse para ou como fazer. Isso fará desabrochar seu verdadeiro eu que normalmente se encontra enterrado dentro na personalidade, que adquiriu uma grande camada de comportamentos superficiais induzidos ou impostos ao indivíduo por outros.
Tente fazer experiências de qualquer coisa que você concebe e se encontra intensamente interessado. Não fique desapontado se algo não funcionar. Isso é o que você quer saber - a verdade sobre todas as coisas - e depois a verdade sobre as combinações das coisas. Algumas combinações têm tal lógica e integridade que elas podem funcionar coerentemente apesar de elementos no seu sistema que não funcionam na perfeição.
Quando você encontrar uma palavra com a qual você não tem familiaridade, encontre-a no dicionário e escreva uma frase que use essa nova palavra. As palavras são ferramentas - e uma vez que você tenha aprendido a utilizar uma ferramenta você nunca mais o irá esquecer. Procurar apenas o que a palavra significa não é suficiente. Se seu vocabulário é extenso, você pode conter nele pequenos e grandes padrões da experiência.
Você tem o que mais importa na vida - iniciativa. E por causa disso, você me escreveu. estou lhe respondendo no melhor das minhas capacidades. Você encontrará o mundo respondendo às suas sérias iniciativas.

Cumprimentos,

Buckminster Fuller."


Sugiro portanto que a idéia de Fuller para as palavras existentes seja aplicada às palavras criadas para e através do Makrolexicon. Para cada palavra nova, para cada nova realidade, você deve fazer uma frase, um poema, ou um texto grande, em que a use. Assim ela passará a fazer sentido.

Me tenho questionado sobre qual a melhor maneira de fazer isso funcionar.
O ideal, penso, seria um site do género desse, com um índice alfabético onde as novas palavras seriam colocadas pelos utilizadores registados.

O problema maior se prende com o fato de eu não ter menor idéia de como fazer uma coisa dessas. Se algum dos leitores souber, e pudermos aplicá-lo a algo como um blogue, que deixe algo na caixa de comentários.

Talvez por agora as novas palavras que começarmos a criar possam ficar pelo twitter. Usando a hashtag (# seguido de palavra) #Makrolexicon, cada um pode lançar uma nova palavra. Cada sequência de vinte palavras será publicada aqui no blogue sobre forma de post.

Para os tweets sugiro a seguinte fórmula:

"#Makrolexicon + PALAVRA (em maiúsculas) + classificação gramatical + definição"

Em matéria de classificação gramatical acho melhor se utilizar a fórmula do dicionário, que opera com abreviaturas: adj. para adjetivo; v. para verbo; adv. para advérbio, etc.

Portanto aqui fica o exemplo de um tweet do Makrolexicon, se o neologismo fosse "verdade":

"#Makrolexicon VERDADE s.f. - conformidade da idéia com o objeto, realidade"

E pronto, por hoje ficamos por aqui. Para inspiração, deixo mais um excerto do livro de Julian Jaynes, sobre o papel dos poetas na antiga Grécia:

"A primeira coisa a dizer acerca deles (poetas) é que eles não são simplesmente poetas como hoje os vemos. Como grupo, eles são algo como os seus contemporâneos profetas de Israel, professores sagrados de homens, chamados por reis para resolver disputas e liderar exércitos, se assemelhando de alguma forma suas funções aos xamãs das culturas tribais contemporâneas".

Sunday 14 November 2010

Manifesto Para o Assalto à Realidade

«Vamos dar algo à cultura que ela não seja capaz de engolir»
Grant Morrison

Posso dizer que este blog foi criado em particular para este post. Após a leitura de 'Os Invisíveis', como já aqui tive oportunidade de dizer, um multiverso de coisas parece ter explodido em minha mente. A mente foi reabastecida, rejuvenescida, renascida. Sentiu vida.

Como Neo, tomei o comprimido vermelho e desde então comecei caíndo, rapidamente, na toca do coelho. Diria que não terei ainda ido muito longe, mas Morrison me trouxe Robert Anton Wilson, que trouxe Leary, Alfred Korzybski, Buckminster Fuller, McKenna, Crowley e muitos mais.

Essa palestra de Morrison me introduziu ao conceito de mágicka crowleyana, e todo um multiverso se abriu perante mim. Foi então que li numa entrevista de Terence McKenna o seguinte trecho:

«Nós precisamos criar uma linguagem emocional mais rica (...) Tem havido períodos na língua inglesa em que certas emoções não existem mais, porque as palavras para as descrever se perderam. Isso chega muito perto daquela noção de que nossa realidade é criada pela linguagem. Conseguiremos recuperar uma emoção perdida, através da criação de uma palavra para ela? Existem cores que não existem mais porque as palavras se perderam. Estou pensando por exemplo na palavra "jacinth", que descrevia um certo tipo de laranja. Quando você sabe a palavra "jacinth", você sempre é capaz de reconhecer a cor, mas se você não a tem, então essa cor é apenas um laranja mais escuro. Nós nunca tentámos evoluir nossa linguagem conscientemente, apenas a deixamos evoluir, mas hoje temos esse nível cultural e de perceção onde podemos planear quando as novas palavras devem ser geradas. Existem áreas onde nos devíamos livrar de certas palavras, pois elas fortalecem o pensamento politicamente errado. Os propagandistas e fascistas já compreenderam isso, eles sabem que se você tornar algo "indizível", isso o torna também impensável. (...) Portanto a evolução planeada da linguagem é o caminho para o qual acelerar na direção de expressar as fronteiras da consciência

O que esse texto despertou em mim várias coisas: primeira - me fez lembrar todo o semanticismo referido por Robert Anton Wilson deixado por Korzybski, do E-Prime. O E-Prime pode se considerar como a primeira tentativa consciente de fazer evoluir a linguagem. Quando você começa utilizando o E-Prime, primeiro na escrita e depois na oralidade, você experiencia um aumento da inteligência.

Segunda: Essa coisa de os propagandistas e fascistas já terem compreendido a importância do controle da linguagem. Aí você lembra da Novilíngua (Newspeak) de 1984 e compreende o quão assustador se pode tornar o controle da linguagem.

Terceira: A questão da realidade criada pelas palavras. Qualquer pessoa bilíngue que esteja lendo o blog lembrará quão difícil se torna tentar explicar para alguém que fale outra língua - que não o português - a palavra saudade. Mas você, com a linguagem operando em seu cérebro, sabe as sensações que a palavra evoca. Já uma pessoa que fale japonês, inglês ou mesmo espanhol - uma língua semelhante ao português - não. Podemos ir mais longe: a linguagem pode definir mesmo a forma de viver de um povo. Veja nisso, pouca gente gosta de estar só. Eu acho que isso não é um problema do animal humano, mas da linguagem. Na língua inglesa existem duas palavras para definir o ato de estar só: loneliness e solitude. Loneliness equivale exatamente à "solidão" presente na língua portuguesa, uma coisa terrível, exasperante. Mas e solitude? Solitude simboliza um acto voluntário de estar só, uma coisa positiva, um encontro consigo mesmo. Se isso não define um "povo", o que define então?

Mesmo antes de ler Buckminster Fuller, já tinha tomado uma decisão: abolir do meu vocabulário o verbo acreditar e crença. Porque "acreditar" implica assumir uma verdade sem qualquer prova. Como "acreditar em Deus". Posso admitir a possibilidade da existência de Deus, mas não posso simplesmente acreditar. Posso confiar em alguém, acreditar não.

Não sou crente portanto. No entanto, acho esse trecho bíblico uma das passagens literárias mais poderosas de todos os tempos:


"No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas coisas foram feitas por meio dele; e sem ele nada do que foi feito se fez. nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens. E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam."

Na tradução portuguesa, a palavra logos aparece traduzida como Verbo, quando aliás, devia vir como Palavra. Como na versão da bíblia de King James, por exemplo:

"In the beginning was the Word, and the Word was with God, and the Word was God. The same was in the beginning with God. All things were made by him; and without him nothing was made. In him was life, and life was the light of men. And the light shineth in the darkness, and the darkness comprehended it not."

Exclua desse trecho bíblico as considerações religiosas e pense nele livremente. O que nele me supreende é a possível noção de que a palavra equivale a Deus. Não à divindade da mitologia cristã, mas uma força universal. Para mim essa passagem diz respeito não ao nascimento/aparecimento de Deus (como divindade) mas ao aparecimento da linguagem nos humanos, e como ela se tornou Deus, uma força invisível e que, sem ela, nada poderia ser feito. E se cada palavra for um deus?

Um dia desses, abri o I Ching para colocar uma questão que todos nós colocamos a nós mesmos : "Qual é o meu propósito nesta vida?". O livro me respondeu com o Hexagrama 7, "O Exército". Não acredito no I Ching, mas minha mente aberta me permite experimentar. O livro tem sido utilizado pela cultura chinesa por milênios, e sempre que o utilizei se mostrou supreendemente acertado. Aí achei ter compreendido a mensagem.

Reunir um exército. Não literalmente, não um grupo de militares, mas um grupo de pessoas que esteja disposto a lutar por algo, sem que lutar seja recorrer a qualquer violência.

Então lembrei das palavras de Grant Morrison nessa palestra:
"Vamos dar algo à cultura que ela não seja capaz de engolir".

E por fim, eis o que proponho:

O oposto da Novilíngua Orwelliana. Um dicionário ativo, vivo, completo, diário, de todos, para todos. Novas palavras, novos significados, sendo criados, todos os dias, pelas pessoas. Se os fascistas querem limitar as palavras, nós as multiplicaremos ao infinito. Proponho um leviatã lexical, capaz de ultrapassar as barreiras de cultura, raça e nacionalidade. Adoção de palavras de outras línguas que não existam nesta é essencial. Criação de outras palavras, outras realidades, a pedra base desse projeto. A palavra grega para grande é "makros". Para já, lhe chamemos o Makrolexicon.

Agora vocês, amigos que lêem o blogue, entendam isso como uma convocação. Seremos o exército invisível do caos e anarquia, soldados-poetas armados de canetas-armas tendo a realidade quântica como alvo primário? Demoliremos ideologias, demagogias e os demais auto-destruidores sistemas operativos cerebrais? Daremos à cultura algo que ela seja incapaz de engolir?

Se lembre que nosso mundo precisa de novas e boas palavras. Portanto, é caso para dizer...

Benvindos ao apocalipse. Linguístico? Podem apostar.

Quem alinha?


Friday 12 November 2010

O Modelo de 8 Circuitos da Inteligência Humana- Parte II

Continuando:

"A função evolutiva do circuito VI passa por nos permitir comunicar a relatividades Einsteinianas e acelerações neuro-elétricas, não usando símbolos laríngico-manuais do terceiro circuito mas diretamente via experiência, telepatia e link-up computacional. Os sinais neuro-elétricos irão consequentemente substituir o "discurso" (grunhidos de hominídeo) depois da migração para o espaço.

Quando os humanos tiverem deixado o poço atmosférico-gravitacional da vida terrestre, a conteligência acelerada do circuito VI tornará possível comunicação de alta energia com "Inteligências Superiores", ou seja, nós-no-futuro e outras raças pós-terrestres.

A rutura neurosomática do Circuito V nos prepara para o próximo passo em nossa evolução: migração do planeta. Circuito VI nos prepara para o passo depois disso, comunicação interespécies com entidades avançadas possuindo túneis-de-realidade eletrônicos (pós verbais).

O Circuito VI pode se definir como o "tradutor universal" imaginado pelos escritores de ficção científica, já escrito nos nossos cérebros pela fita do DNA. Assim como os circuitos da futura borboleta já se encontram escritos na lagarta.

VII. O Circuito Neurogenético. o sétimo cérebro entra em ação quando o sistema nervoso começa recebendo sinais de dentro do neurônio individual, do diálogo DNA-RNA. Os primeiros a atingir essa mutação falam de "memórias de vidas passadas", "reencarnação," "imortalidade," etc. Que esses peritos estavam gravando algo real pode se provar pelo fato de muitos deles (em especial Hindus e Sufis) deram visões poéticas certíssimas acerca da evolução humana 1000 ou 2000 anos antes de Darwin, e previram a Superhumanidade antes de Nietzsche.

Exercícios específicos para despoletar o circuito VII não se encontram no ensino do ioga; normalmente ocorre, após largos anos de rajah ioga, em que esse circuito se desenvolve.

O neurotransmissor específico do circuito VII se trata, obviamente, do LSD. (Peyote e psilocibina produzem algumas experiências de circuito VII também.)

O Circuito VII deve se considerar como os arquivos genéticos, ativados por proteínas anti-histona. A memória DNA serpenteando de volta ao amanhecer da humanidade. Uma sensação de inevitabilidade da imortalidade e simbiose interespécies vem a todos os mutantes do Circuito VII; agora todos conseguimos ver que isso se trata, sobretudo, de uma previsão evolutiva, uma vez que nos encontramos agora à porta da longevidade que levará à imortalidade.


VIII. O Circuito Neuro-atômico.

A consciência provavelmente precede a unidade biológica ou fita do DNA. "Projeção astral", contato com 'entidades' alienígenas (extra-terrestres?) ou com uma Supermente Galática, etc., como eu tenho experienciado, têm sido relatadas por milhares de anos, não meramente pelos ignorantes, os supersticiosos, os crédulos, mas frequentemente pelas melhores mentes entre nós - Sócrates, Giordano Bruno, Thomas Edison, Buckminster Fuller, etc.)

O Dr. Leary sugere que o circuito VIII se trata literalmente de algo neuro-atômico - infra, supra e meta-fisiológico - um sistema de comunicação quanto-mecânico que não requer recipiente biológico.

Quando o sistema nervoso se liga a esse circuito de nível quântico, o tempo-espaço se oblitera. A barreira einsteiniana da velocidade da luz se transcende; na metáfora do Dr. Sarfatti, escapamos do "chauvinismo eletromagnético".

A conteligência dentro da cabine de projeção quântica é o cérebro local guiando a evolução planetária. Como Lao-Tse disse da sua perspetiva de circuito VIII, "o maior se encontra no mais pequeno".

O circuito VIII se despoleta através da ketamina, um neuro-químico alvo de pesquisa pelo Dr. John Lilly, que também os astronautas recebem para os preparar para o espaço.

Esta conteligência neuro-atômica se encontra quatro mutações adiante da domesticidade terrestre. Quando nossa necessidade de maior inteligência, mais rico envolvimento no manuscrito cósmico, uma futura transcendência não ficará mais satisfeita com corpos físicos, nem mesmo com corpos imortais galopando através do espaço-tempo a Warp 9. Novos universos e realidades.

Se mostra portanto possível que as misteriosas "entidades" monótonamente relatadas por visionários do circuito VIII sejam membros de raças já evoluídas a este nível. Mas também se mostra possível, como sugeriram recentemente Leary e Sarfatti, que eles se tratam de nós mesmos no futuro.

Os circuitos terrestres do lobo-esquerdo contêm as lições aprendidas de nosso passado evolutivo (e presente). O lobo-direito e seus circuitos extra-terrestres se tratam de nosso manuscrito evolutivo para o futuro.

Uma teoria mais plausível, elaborada pelo psiquiatra Norman Zinberg através do trabalho de Marshall McLuhan, diz que os média eletrônicos modernos mudaram de tal forma os parâmetros de nosso sistema nervoso que os jovens não mais encontram nada de especial em drogas "lineares" como álcool e encontram significado apenas nas "não-lineares" maconha e psicodélicos.

A série Star Trek se trata de um melhor guia para a emergente realidade que qualquer coisa na New York Review of Books. O engenheiro de suporte-vital e sistema de defesas Scotty, representa o Circuito I; o emocional-sentimental Dr. McCoy representa o Circuito II, o lógico oficial-científico Mr Spock representa o Circuito III e o alternadamente paternalista e romântico Capitão Kirk representa o Circuito IV. Sua Enterprise viaja perpetuamente através de nossa futura história neurológica, encontrando inteligências de circuitos V, VI, VII e VIII.

Em resumo, os vários níveis de consciência e circuitos que vimos discutindo e ilustrando, se tratam todos de impressões bioquímicas na evolução do sistema nervoso. Cada impressão cria um maior túnel-de-realidade. Nós estamos portanto evoluindo para inteligência-estudando-inteligência (o sistema nervoso estudando o sistema nervoso) e temos maior e mais capacidade de acelerar nossa evolução.

A Lei dos Oitavos foi sugerida em primeiro por Pitágoras na antiga Grécia. Leary, Crowley e Buckminster Fuller se descreveram como Pitagóricos modernos.

R. Buckminster Fuller, em sua geometria sinergética-energética, reduz todo o fenômeno a arquiteturas geométrico-energéticas baseadas no tetrahedron (de 4 lados), o "octet truss" (de 8 lados) e o coupler (8-faces com 24 fases). Fuller discute especificamente que o coupler de 8-faces e 24 fases estão na base da divisão em oito partes dos elementos químicos na Tabela Periódica de Mendeleyev.

Em 1973, inconsciente do coupler de Fuller - Dr leary começou dividindo seus oito circuitos em uma Tabela Periódica da Evolução, distribuída por 24 estágios. Leary também tentou correlacionar isso com a tabela periódica dos elementos na química.
As oito famílias de elementos:

1. Alcalis
2. Alcalinos
3. Borons.
4. Carbonos
5. Nitrogénios
6. Oxigénios
7. Halogénios
8. Gases nobres

As primeiras quatro famílias, segundo Leary, são terrestres; ou seja, têm peso e tendência para cair na Terra. As segundas quatro famílias são extraterrestres; ou seja, tendem a voar para o espaço. Da mesma forma, ele afirma, os primeiros quatro circuitos do sistema nervoso são terrestres, sua função passa por controlar a sobrevivência e reprodução no fundo do poço gravitacional de 4 mil milhas em que vivemos. Os segundos quatro circuitos se tratam portanto de extraterrestres; eles entrarão em jogo apenas quando vivermos normalmente em gravidade-zero - no espaço."

O Modelo de 8 Circuitos da Inteligência Humana- Parte I

Segundo Robert Anton Wilson e Timothy Leary, retirado de Gatilho Cósmico:

"Para que entendamos o espaço neurológico, Timothy Leary nos diz que o sistema nervoso humano consiste de oito circuitos potenciais.

I. O Circuito de Bio-Sobrevivência. Este cérebro invertebrado se tratou do primeiro a evoluir (2 a 3 bilhões de anos atrás) e se activa pela primeira vez quando a criança humana nasce. Ele programa a perceção para reações de positivas a coisas de alimentação-ajuda e negativas a coisas nocivas-perigosas. A impressão deste circuito cria a atitude básica de verdade ou suspeição que dura para o resto da vida. Também identifica qualquer estímulo externo, que criará uma reação ora de aproximação ou fuga.

II. O Circuito Emocional. Este segundo bio-computador, mais avançado, se formou quando apareceram os primeiros vertebrados e começaram a competir por território. No indivíduo, este grande túnel-de-realidade se activa quando o DNA despoleta a metamorfose de gatinhar para caminhar. Como todos os pais têm conhecimento, a criança que começa a andar deixa sua atitude passiva (de bio-sobrevivência) para se tornar num político mamífero, repleto de exigências territoriais físicas e psíquicas, que rapidamente influenciam o negócio familiar e decisões. De novo, a primeira impressão desse circuito permanece constante por toda a vida e identifica o estímulo que irá despoletar automaticamente um comportamento dominante, agressivo, submissivo ou cooperante. Quando dizemos que uma pessoa se comporta emocionalmente, de modo egoísta ou como "um menino de dois anos," queremos dizer que ele/ela se encontra seguindo cegamente um dos túneis-de-realidade impressos neste circuito.

III. O Circuito de Destreza e Simbolismo. Este terceiro cérebro se formou quando os vários tipos de hominídeo se começaram a diferenciar de outros primatas e se activa quando a criança mais velha começa a lidar com artefatos e enviando/recebendo sinais da laringe (unidades de discurso humano). Se o seu ambiente for estimulante para o terceiro circuito, a criança recebe uma impressão "esperta" e se torna habilidosa e articulada; Se o ambiente estiver repleto de pessoas "estúpidas", a criança recebe uma impressão "estúpida", ou seja, permanece mais ou menos num estado de como se tivesse cinco anos, desajeitada com artefatos e cega na leitura de símbolos.

Em termos evolutivos, a "consciência" do primeiro cérebro se define como basicamente invertebrada, flutuando passivamente na direção de alimento e recuando perante qualquer perigo. O segundo cérebro, "ego", se classifica de mamífero, sempre lutando por estatuto na ordem da tribo onde vive. O terceiro cérebro, "mente", tem origem paleolítica. Tem tendência para se viciar na cultura humana e lidar com a vida através de uma matriz de ferramentas e simbolismo criado por humanos. O quarto cérebro se deve classificar como pós-hominídeo, especificamente caraterístico do Homo Sapiens:

IV. O Circuito Sócio-Sexual. Este quarto cérebro se formou quando bandos de hominídeos evoluíram para sociedades e programaram papéis sexuais específicos para seus membros. Este circuito fica activo na puberdade, quando os sinais de DNA despoletam uma libertação de neuroquímicos sexuais e a metamorfose para o estado adulto se inicia. Os primeiros orgasmos ou experiências de acasalamento imprimem um papel sexual caraterístico que, de novo, se encontra ligado bioquimicamente e permanece constante por toda vida, a não ser que se consiga alguma forma de lavagem cerebral ou re-impressão química.
Em discurso corrente, as impressões e túneis-de-realidade do quarto circuito ficaram conhecidos como "personalidade adulta."

Normalmente estes quatro circuitos são todos os que o cérebro alguma vez vai ativar. Isso acontece por uma razão - Leary lhes chama "terrestres". Eles evoluíram e têm sido formados por condições gravitacionais, climáticas e energéticas, que determinam sobrevivência e reprodução neste tipo de planeta que orbita este tipo específico de estrela.

Organismos inteligentes nascidos no espaço, que não vivam num poço de gravidade, que não entrem em competição por território numa superfície planetária finita, não limitados pelos parâmetros de vida terrestre frente-trás, cima-baixo ou direita-esquerda, iriam inevitavelmente desenvolver circuitos diferentes, imprimidos de diferente forma, não tão inflexivemente Euclidianos.

Frente-trás se trata da escolha digital básica programada pelo bio-computador operando no Circuito I: Avançar, ir à frente, cheirar, tocar, provar, morder - ou retirar, se afastar, fugir, escapar.

Cima-baixo, o sentido gravitacional básico, aparece em todos os relatórios etológicos de combate animal. Inchar o corpo para o tamanho máximo, grunhir, uivar, guinchar - ou se tornar servil, murmurar suavemente, se esconder, gatinhar e diminur o tamanho corporal. Esses sinais de dominação e submissão acontecem também na iguana, cão, pássaro e gerente do banco local. Esses reflexos fazem o circuito II "ego".

Direita-esquerda deve se ver como algo básico à polaridade do desenho-corporal na superfície planetária. Domínio da mão direita, e preferência associada com as funções lineares do lobo esquerdo do cérebro, determinam nossos modos normais de manufatura de artefatos e pensamento concetual, ou seja, a "mente" do terceiro circuito.

Uma vez que cada um desses túneis-de-realidade consiste de impressões bioquímicas ou matrizes no sistema nervoso, cada um delespode ser especificamente despoletado por neuro-transmissores ou outras drogas.

  • Para ativar o primeiro cérebro tome um opiáceo. A mãe ópio e irmã morfina o levam de volta à inteligência celular, passividade bio-sobrevivente, à consciência flutuante do recém-nascido. (Por isso Freudianos relacionam a viciação em ópio com o desejo de voltar à infância);
  • Para ativar o segundo túnel-de-realidade tome uma quantidade abundante de álcool. Os padrões territoriais dos vertebrados e as políticas emocionais tipicamente mamíferas aparecerão quando o álcool lhe "subir à cabeça". De resto, como Thomas Nashe compreendeu ao adjetivar os vários estados alcoólicos com nomes de animais: "bebâdo burro", "bêbado urso","bêbado porco" etc;
  • Para ativar o terceiro circuito tente café ou chá, uma dieta elevada em proteínas, cocaína ou speed;
  • O neurotransmissor específico para o circuito número quatro ainda não se encontra sintetizado, mas é gerado pelas glândulas depois da puberdade e flui vulcanicamente através das veias dos adolescentes.
Nenhuma dessas drogas terrestres mudam impressões bioquímicas básicas.

Mas todo este robotismo pavloviano-skinneriano muda drástica e dramaticamente quando ligamos o lobo direito, os circuitos futuros e químicos extraterrestres.


V. O Circuito Neurosomático. Quando este quinto "cérebro-corpo" se ativa, todas as configurações Euclideanas explodem multi-dimensionalmente. Os Gestalts mudam, em terminologia de McLuhan, de espaço visual linear para um espaço sensorial. Uma ligação hedônica ocorre, um divertimento arrebatador, um distanciamento do mecanismo previamente compulsivo dos primeiros quatro circuitos. Eu liguei este circuito com maconha e tantra.

A abertura e impressão deste circuito tem sido uma das preocupações dos "técnicos do oculto" - xamãs tântricos e hatha yogis. Enquanto o quinto túnel-de-realidade pode ser atingido por privação sensorial, isolação social, estresse fisiológico ou choque severo, tem sido tradicionalmente reservado à aristocracia educada de sociedades que já resolveram os primeiros quatro problemas de sobrevivência terrestres.

Não se trata porventura de um acidente o fato de o maconheiro, em inglês, definir seu estado como "high" (alto) ou "spaced-out" (fora, no espaço). A transcendência das orientações planetárias - gravitacional, digital, linear ou aristotélica, newtoniana e euclideana (circuitos I-IV) - se trata de, numa perspetiva evolutiva, parte de nossa preparação neurológica para a inevitável migração do nosso planeta atual , começando já. Por isso muitos maconheiros também adoram Star Trek e se vêem como amantes de Ficção-Científica.


VI. O Circuito Neuro-elétrico. O sexto cérebro consiste do sistema nervoso se tornando consciente de si mesmo à parte dos mapas-de-realidade gravitacionais imprimidos (circuitos I-IV) e mesmo à parte da fuga-corporal (circuito V). Alfred Korzybski, o semanticista, chamou este estado "consciência da abstração". O doutor John Lilly chama isso de "metaprogramação", ou seja, consciência da programação de seus próprios programas. Este circuito reconhece, por exemplo, que os mapas-de-realidade aristotélicos, euclideanos ou newtonianos se tratam apenas de três entre bilhões de possíveis programas ou modelos para a experiência humana.

- Este circuito pode ser ligado com peyote, LSD e os metaprogramas de mágicka de Crowley.

Não existe ainda um químico disponível que ative especificamente o sexto circuito, mas psicodélicos fortes como a mescalina e psilocibina abrem o sistema nervoso a uma série de canais de Circuito V e VI. Se dá apropriadamente o nome "tripping" em inglês, que significa "viajando", que se distingue dos nomes do circuito V, "turning on" (se ligando) ou "getting high" (subindo no alto).

A supressão da pesquisa científica nesta área teve como infeliz resultado a criminalização da cultura das drogas, retornando as pessoas ao hedonismo do quinto circuito e túneis-de-realidade pré-científicos. Sem suficiente disciplina e metodologia, poucos podem com sucesso descodificar os normalmente assustadores signais metaprogramadores do circuito número seis. Os cientistas que continuam a estudar esse assunto não se atrevem a publicar seus resultados (ilegais) e discutem esses túneis-de-realidade cada vez mais vastos apenas em conversas privadas - como os cientistas da Era Inquisitorial."

Continua no próximo post.


Monday 8 November 2010

Fernando Pessoa e a dissolução do ego

Intermináveis vezes se fala de Fernando Pessoa e o descrevem ora como um gênio, ora como um louco. Como se os adjetivos chegassem para descrever semelhante ser humano. Para além de gênio e/ou louco, que "era" Pessoa? Qual sua "mensagem", aquando de sua passagem pelo mundo?

Desde sempre senti uma atração por sua obra, por sua tendência para a despersonalização. E após as leituras de Os Invisíveis, onde Grant Morrison defende a personalidade múltipla como opção de vida; A Ascensão de Prometeus e Psicologia Quântica de Robert Anton Wilson, compreendendo que a personalidade não funciona como algo estático e o ego pode ser abandonado em favor de uma multiplicidade de "eu". Como acrescenta RAW em A Ascensão de Prometeus, nossas sociedades são organizadas pelo modelo dos insectos, em que cada um deles tem uma função e sempre deverá desempenhar a mesma. Mas nós, da classe dos hominídeos, funcionamos de forma diferente dos insectos. Porquê então copiar os modelos falhados e outras espécies e não apostar num modelo civilizacional mais de acordo com nossa natureza?

De fato, Pessoa me parece ter compreendido como ninguém a multiplicidade do ser humano. Se costuma dizer que em todos nós existe o potencial para ator. E porquê isso? Porque dependendo das circunstâncias, você poderia "ser" um milhão de pessoas diferentes, mas se tornou naquilo que hoje descreve como "eu". Pessoa ficou também marcado pelo seu interesse no ocultismo, algo que geralmente passa ignorado. Mas não será bem mais que uma coincidência o fato de Pessoa se ter encontrado em Lisboa com Aleister Crowley, ocultista inglês que acabou por influenciar Robert Anton Wilson, Timothy Leary e Grant Morrison?


«Ah não ser eu tôda a gente e tôda a parte!», assim termina Álvaro de Campos a Ode Triunfal.
E que mais não representa Álvaro de Campos senão essa necessidade de expandir, aumentar, estender o potencial humano ao infinito?