Sunday 14 November 2010

Manifesto Para o Assalto à Realidade

«Vamos dar algo à cultura que ela não seja capaz de engolir»
Grant Morrison

Posso dizer que este blog foi criado em particular para este post. Após a leitura de 'Os Invisíveis', como já aqui tive oportunidade de dizer, um multiverso de coisas parece ter explodido em minha mente. A mente foi reabastecida, rejuvenescida, renascida. Sentiu vida.

Como Neo, tomei o comprimido vermelho e desde então comecei caíndo, rapidamente, na toca do coelho. Diria que não terei ainda ido muito longe, mas Morrison me trouxe Robert Anton Wilson, que trouxe Leary, Alfred Korzybski, Buckminster Fuller, McKenna, Crowley e muitos mais.

Essa palestra de Morrison me introduziu ao conceito de mágicka crowleyana, e todo um multiverso se abriu perante mim. Foi então que li numa entrevista de Terence McKenna o seguinte trecho:

«Nós precisamos criar uma linguagem emocional mais rica (...) Tem havido períodos na língua inglesa em que certas emoções não existem mais, porque as palavras para as descrever se perderam. Isso chega muito perto daquela noção de que nossa realidade é criada pela linguagem. Conseguiremos recuperar uma emoção perdida, através da criação de uma palavra para ela? Existem cores que não existem mais porque as palavras se perderam. Estou pensando por exemplo na palavra "jacinth", que descrevia um certo tipo de laranja. Quando você sabe a palavra "jacinth", você sempre é capaz de reconhecer a cor, mas se você não a tem, então essa cor é apenas um laranja mais escuro. Nós nunca tentámos evoluir nossa linguagem conscientemente, apenas a deixamos evoluir, mas hoje temos esse nível cultural e de perceção onde podemos planear quando as novas palavras devem ser geradas. Existem áreas onde nos devíamos livrar de certas palavras, pois elas fortalecem o pensamento politicamente errado. Os propagandistas e fascistas já compreenderam isso, eles sabem que se você tornar algo "indizível", isso o torna também impensável. (...) Portanto a evolução planeada da linguagem é o caminho para o qual acelerar na direção de expressar as fronteiras da consciência

O que esse texto despertou em mim várias coisas: primeira - me fez lembrar todo o semanticismo referido por Robert Anton Wilson deixado por Korzybski, do E-Prime. O E-Prime pode se considerar como a primeira tentativa consciente de fazer evoluir a linguagem. Quando você começa utilizando o E-Prime, primeiro na escrita e depois na oralidade, você experiencia um aumento da inteligência.

Segunda: Essa coisa de os propagandistas e fascistas já terem compreendido a importância do controle da linguagem. Aí você lembra da Novilíngua (Newspeak) de 1984 e compreende o quão assustador se pode tornar o controle da linguagem.

Terceira: A questão da realidade criada pelas palavras. Qualquer pessoa bilíngue que esteja lendo o blog lembrará quão difícil se torna tentar explicar para alguém que fale outra língua - que não o português - a palavra saudade. Mas você, com a linguagem operando em seu cérebro, sabe as sensações que a palavra evoca. Já uma pessoa que fale japonês, inglês ou mesmo espanhol - uma língua semelhante ao português - não. Podemos ir mais longe: a linguagem pode definir mesmo a forma de viver de um povo. Veja nisso, pouca gente gosta de estar só. Eu acho que isso não é um problema do animal humano, mas da linguagem. Na língua inglesa existem duas palavras para definir o ato de estar só: loneliness e solitude. Loneliness equivale exatamente à "solidão" presente na língua portuguesa, uma coisa terrível, exasperante. Mas e solitude? Solitude simboliza um acto voluntário de estar só, uma coisa positiva, um encontro consigo mesmo. Se isso não define um "povo", o que define então?

Mesmo antes de ler Buckminster Fuller, já tinha tomado uma decisão: abolir do meu vocabulário o verbo acreditar e crença. Porque "acreditar" implica assumir uma verdade sem qualquer prova. Como "acreditar em Deus". Posso admitir a possibilidade da existência de Deus, mas não posso simplesmente acreditar. Posso confiar em alguém, acreditar não.

Não sou crente portanto. No entanto, acho esse trecho bíblico uma das passagens literárias mais poderosas de todos os tempos:


"No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas coisas foram feitas por meio dele; e sem ele nada do que foi feito se fez. nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens. E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam."

Na tradução portuguesa, a palavra logos aparece traduzida como Verbo, quando aliás, devia vir como Palavra. Como na versão da bíblia de King James, por exemplo:

"In the beginning was the Word, and the Word was with God, and the Word was God. The same was in the beginning with God. All things were made by him; and without him nothing was made. In him was life, and life was the light of men. And the light shineth in the darkness, and the darkness comprehended it not."

Exclua desse trecho bíblico as considerações religiosas e pense nele livremente. O que nele me supreende é a possível noção de que a palavra equivale a Deus. Não à divindade da mitologia cristã, mas uma força universal. Para mim essa passagem diz respeito não ao nascimento/aparecimento de Deus (como divindade) mas ao aparecimento da linguagem nos humanos, e como ela se tornou Deus, uma força invisível e que, sem ela, nada poderia ser feito. E se cada palavra for um deus?

Um dia desses, abri o I Ching para colocar uma questão que todos nós colocamos a nós mesmos : "Qual é o meu propósito nesta vida?". O livro me respondeu com o Hexagrama 7, "O Exército". Não acredito no I Ching, mas minha mente aberta me permite experimentar. O livro tem sido utilizado pela cultura chinesa por milênios, e sempre que o utilizei se mostrou supreendemente acertado. Aí achei ter compreendido a mensagem.

Reunir um exército. Não literalmente, não um grupo de militares, mas um grupo de pessoas que esteja disposto a lutar por algo, sem que lutar seja recorrer a qualquer violência.

Então lembrei das palavras de Grant Morrison nessa palestra:
"Vamos dar algo à cultura que ela não seja capaz de engolir".

E por fim, eis o que proponho:

O oposto da Novilíngua Orwelliana. Um dicionário ativo, vivo, completo, diário, de todos, para todos. Novas palavras, novos significados, sendo criados, todos os dias, pelas pessoas. Se os fascistas querem limitar as palavras, nós as multiplicaremos ao infinito. Proponho um leviatã lexical, capaz de ultrapassar as barreiras de cultura, raça e nacionalidade. Adoção de palavras de outras línguas que não existam nesta é essencial. Criação de outras palavras, outras realidades, a pedra base desse projeto. A palavra grega para grande é "makros". Para já, lhe chamemos o Makrolexicon.

Agora vocês, amigos que lêem o blogue, entendam isso como uma convocação. Seremos o exército invisível do caos e anarquia, soldados-poetas armados de canetas-armas tendo a realidade quântica como alvo primário? Demoliremos ideologias, demagogias e os demais auto-destruidores sistemas operativos cerebrais? Daremos à cultura algo que ela seja incapaz de engolir?

Se lembre que nosso mundo precisa de novas e boas palavras. Portanto, é caso para dizer...

Benvindos ao apocalipse. Linguístico? Podem apostar.

Quem alinha?


Friday 12 November 2010

O Modelo de 8 Circuitos da Inteligência Humana- Parte II

Continuando:

"A função evolutiva do circuito VI passa por nos permitir comunicar a relatividades Einsteinianas e acelerações neuro-elétricas, não usando símbolos laríngico-manuais do terceiro circuito mas diretamente via experiência, telepatia e link-up computacional. Os sinais neuro-elétricos irão consequentemente substituir o "discurso" (grunhidos de hominídeo) depois da migração para o espaço.

Quando os humanos tiverem deixado o poço atmosférico-gravitacional da vida terrestre, a conteligência acelerada do circuito VI tornará possível comunicação de alta energia com "Inteligências Superiores", ou seja, nós-no-futuro e outras raças pós-terrestres.

A rutura neurosomática do Circuito V nos prepara para o próximo passo em nossa evolução: migração do planeta. Circuito VI nos prepara para o passo depois disso, comunicação interespécies com entidades avançadas possuindo túneis-de-realidade eletrônicos (pós verbais).

O Circuito VI pode se definir como o "tradutor universal" imaginado pelos escritores de ficção científica, já escrito nos nossos cérebros pela fita do DNA. Assim como os circuitos da futura borboleta já se encontram escritos na lagarta.

VII. O Circuito Neurogenético. o sétimo cérebro entra em ação quando o sistema nervoso começa recebendo sinais de dentro do neurônio individual, do diálogo DNA-RNA. Os primeiros a atingir essa mutação falam de "memórias de vidas passadas", "reencarnação," "imortalidade," etc. Que esses peritos estavam gravando algo real pode se provar pelo fato de muitos deles (em especial Hindus e Sufis) deram visões poéticas certíssimas acerca da evolução humana 1000 ou 2000 anos antes de Darwin, e previram a Superhumanidade antes de Nietzsche.

Exercícios específicos para despoletar o circuito VII não se encontram no ensino do ioga; normalmente ocorre, após largos anos de rajah ioga, em que esse circuito se desenvolve.

O neurotransmissor específico do circuito VII se trata, obviamente, do LSD. (Peyote e psilocibina produzem algumas experiências de circuito VII também.)

O Circuito VII deve se considerar como os arquivos genéticos, ativados por proteínas anti-histona. A memória DNA serpenteando de volta ao amanhecer da humanidade. Uma sensação de inevitabilidade da imortalidade e simbiose interespécies vem a todos os mutantes do Circuito VII; agora todos conseguimos ver que isso se trata, sobretudo, de uma previsão evolutiva, uma vez que nos encontramos agora à porta da longevidade que levará à imortalidade.


VIII. O Circuito Neuro-atômico.

A consciência provavelmente precede a unidade biológica ou fita do DNA. "Projeção astral", contato com 'entidades' alienígenas (extra-terrestres?) ou com uma Supermente Galática, etc., como eu tenho experienciado, têm sido relatadas por milhares de anos, não meramente pelos ignorantes, os supersticiosos, os crédulos, mas frequentemente pelas melhores mentes entre nós - Sócrates, Giordano Bruno, Thomas Edison, Buckminster Fuller, etc.)

O Dr. Leary sugere que o circuito VIII se trata literalmente de algo neuro-atômico - infra, supra e meta-fisiológico - um sistema de comunicação quanto-mecânico que não requer recipiente biológico.

Quando o sistema nervoso se liga a esse circuito de nível quântico, o tempo-espaço se oblitera. A barreira einsteiniana da velocidade da luz se transcende; na metáfora do Dr. Sarfatti, escapamos do "chauvinismo eletromagnético".

A conteligência dentro da cabine de projeção quântica é o cérebro local guiando a evolução planetária. Como Lao-Tse disse da sua perspetiva de circuito VIII, "o maior se encontra no mais pequeno".

O circuito VIII se despoleta através da ketamina, um neuro-químico alvo de pesquisa pelo Dr. John Lilly, que também os astronautas recebem para os preparar para o espaço.

Esta conteligência neuro-atômica se encontra quatro mutações adiante da domesticidade terrestre. Quando nossa necessidade de maior inteligência, mais rico envolvimento no manuscrito cósmico, uma futura transcendência não ficará mais satisfeita com corpos físicos, nem mesmo com corpos imortais galopando através do espaço-tempo a Warp 9. Novos universos e realidades.

Se mostra portanto possível que as misteriosas "entidades" monótonamente relatadas por visionários do circuito VIII sejam membros de raças já evoluídas a este nível. Mas também se mostra possível, como sugeriram recentemente Leary e Sarfatti, que eles se tratam de nós mesmos no futuro.

Os circuitos terrestres do lobo-esquerdo contêm as lições aprendidas de nosso passado evolutivo (e presente). O lobo-direito e seus circuitos extra-terrestres se tratam de nosso manuscrito evolutivo para o futuro.

Uma teoria mais plausível, elaborada pelo psiquiatra Norman Zinberg através do trabalho de Marshall McLuhan, diz que os média eletrônicos modernos mudaram de tal forma os parâmetros de nosso sistema nervoso que os jovens não mais encontram nada de especial em drogas "lineares" como álcool e encontram significado apenas nas "não-lineares" maconha e psicodélicos.

A série Star Trek se trata de um melhor guia para a emergente realidade que qualquer coisa na New York Review of Books. O engenheiro de suporte-vital e sistema de defesas Scotty, representa o Circuito I; o emocional-sentimental Dr. McCoy representa o Circuito II, o lógico oficial-científico Mr Spock representa o Circuito III e o alternadamente paternalista e romântico Capitão Kirk representa o Circuito IV. Sua Enterprise viaja perpetuamente através de nossa futura história neurológica, encontrando inteligências de circuitos V, VI, VII e VIII.

Em resumo, os vários níveis de consciência e circuitos que vimos discutindo e ilustrando, se tratam todos de impressões bioquímicas na evolução do sistema nervoso. Cada impressão cria um maior túnel-de-realidade. Nós estamos portanto evoluindo para inteligência-estudando-inteligência (o sistema nervoso estudando o sistema nervoso) e temos maior e mais capacidade de acelerar nossa evolução.

A Lei dos Oitavos foi sugerida em primeiro por Pitágoras na antiga Grécia. Leary, Crowley e Buckminster Fuller se descreveram como Pitagóricos modernos.

R. Buckminster Fuller, em sua geometria sinergética-energética, reduz todo o fenômeno a arquiteturas geométrico-energéticas baseadas no tetrahedron (de 4 lados), o "octet truss" (de 8 lados) e o coupler (8-faces com 24 fases). Fuller discute especificamente que o coupler de 8-faces e 24 fases estão na base da divisão em oito partes dos elementos químicos na Tabela Periódica de Mendeleyev.

Em 1973, inconsciente do coupler de Fuller - Dr leary começou dividindo seus oito circuitos em uma Tabela Periódica da Evolução, distribuída por 24 estágios. Leary também tentou correlacionar isso com a tabela periódica dos elementos na química.
As oito famílias de elementos:

1. Alcalis
2. Alcalinos
3. Borons.
4. Carbonos
5. Nitrogénios
6. Oxigénios
7. Halogénios
8. Gases nobres

As primeiras quatro famílias, segundo Leary, são terrestres; ou seja, têm peso e tendência para cair na Terra. As segundas quatro famílias são extraterrestres; ou seja, tendem a voar para o espaço. Da mesma forma, ele afirma, os primeiros quatro circuitos do sistema nervoso são terrestres, sua função passa por controlar a sobrevivência e reprodução no fundo do poço gravitacional de 4 mil milhas em que vivemos. Os segundos quatro circuitos se tratam portanto de extraterrestres; eles entrarão em jogo apenas quando vivermos normalmente em gravidade-zero - no espaço."

O Modelo de 8 Circuitos da Inteligência Humana- Parte I

Segundo Robert Anton Wilson e Timothy Leary, retirado de Gatilho Cósmico:

"Para que entendamos o espaço neurológico, Timothy Leary nos diz que o sistema nervoso humano consiste de oito circuitos potenciais.

I. O Circuito de Bio-Sobrevivência. Este cérebro invertebrado se tratou do primeiro a evoluir (2 a 3 bilhões de anos atrás) e se activa pela primeira vez quando a criança humana nasce. Ele programa a perceção para reações de positivas a coisas de alimentação-ajuda e negativas a coisas nocivas-perigosas. A impressão deste circuito cria a atitude básica de verdade ou suspeição que dura para o resto da vida. Também identifica qualquer estímulo externo, que criará uma reação ora de aproximação ou fuga.

II. O Circuito Emocional. Este segundo bio-computador, mais avançado, se formou quando apareceram os primeiros vertebrados e começaram a competir por território. No indivíduo, este grande túnel-de-realidade se activa quando o DNA despoleta a metamorfose de gatinhar para caminhar. Como todos os pais têm conhecimento, a criança que começa a andar deixa sua atitude passiva (de bio-sobrevivência) para se tornar num político mamífero, repleto de exigências territoriais físicas e psíquicas, que rapidamente influenciam o negócio familiar e decisões. De novo, a primeira impressão desse circuito permanece constante por toda a vida e identifica o estímulo que irá despoletar automaticamente um comportamento dominante, agressivo, submissivo ou cooperante. Quando dizemos que uma pessoa se comporta emocionalmente, de modo egoísta ou como "um menino de dois anos," queremos dizer que ele/ela se encontra seguindo cegamente um dos túneis-de-realidade impressos neste circuito.

III. O Circuito de Destreza e Simbolismo. Este terceiro cérebro se formou quando os vários tipos de hominídeo se começaram a diferenciar de outros primatas e se activa quando a criança mais velha começa a lidar com artefatos e enviando/recebendo sinais da laringe (unidades de discurso humano). Se o seu ambiente for estimulante para o terceiro circuito, a criança recebe uma impressão "esperta" e se torna habilidosa e articulada; Se o ambiente estiver repleto de pessoas "estúpidas", a criança recebe uma impressão "estúpida", ou seja, permanece mais ou menos num estado de como se tivesse cinco anos, desajeitada com artefatos e cega na leitura de símbolos.

Em termos evolutivos, a "consciência" do primeiro cérebro se define como basicamente invertebrada, flutuando passivamente na direção de alimento e recuando perante qualquer perigo. O segundo cérebro, "ego", se classifica de mamífero, sempre lutando por estatuto na ordem da tribo onde vive. O terceiro cérebro, "mente", tem origem paleolítica. Tem tendência para se viciar na cultura humana e lidar com a vida através de uma matriz de ferramentas e simbolismo criado por humanos. O quarto cérebro se deve classificar como pós-hominídeo, especificamente caraterístico do Homo Sapiens:

IV. O Circuito Sócio-Sexual. Este quarto cérebro se formou quando bandos de hominídeos evoluíram para sociedades e programaram papéis sexuais específicos para seus membros. Este circuito fica activo na puberdade, quando os sinais de DNA despoletam uma libertação de neuroquímicos sexuais e a metamorfose para o estado adulto se inicia. Os primeiros orgasmos ou experiências de acasalamento imprimem um papel sexual caraterístico que, de novo, se encontra ligado bioquimicamente e permanece constante por toda vida, a não ser que se consiga alguma forma de lavagem cerebral ou re-impressão química.
Em discurso corrente, as impressões e túneis-de-realidade do quarto circuito ficaram conhecidos como "personalidade adulta."

Normalmente estes quatro circuitos são todos os que o cérebro alguma vez vai ativar. Isso acontece por uma razão - Leary lhes chama "terrestres". Eles evoluíram e têm sido formados por condições gravitacionais, climáticas e energéticas, que determinam sobrevivência e reprodução neste tipo de planeta que orbita este tipo específico de estrela.

Organismos inteligentes nascidos no espaço, que não vivam num poço de gravidade, que não entrem em competição por território numa superfície planetária finita, não limitados pelos parâmetros de vida terrestre frente-trás, cima-baixo ou direita-esquerda, iriam inevitavelmente desenvolver circuitos diferentes, imprimidos de diferente forma, não tão inflexivemente Euclidianos.

Frente-trás se trata da escolha digital básica programada pelo bio-computador operando no Circuito I: Avançar, ir à frente, cheirar, tocar, provar, morder - ou retirar, se afastar, fugir, escapar.

Cima-baixo, o sentido gravitacional básico, aparece em todos os relatórios etológicos de combate animal. Inchar o corpo para o tamanho máximo, grunhir, uivar, guinchar - ou se tornar servil, murmurar suavemente, se esconder, gatinhar e diminur o tamanho corporal. Esses sinais de dominação e submissão acontecem também na iguana, cão, pássaro e gerente do banco local. Esses reflexos fazem o circuito II "ego".

Direita-esquerda deve se ver como algo básico à polaridade do desenho-corporal na superfície planetária. Domínio da mão direita, e preferência associada com as funções lineares do lobo esquerdo do cérebro, determinam nossos modos normais de manufatura de artefatos e pensamento concetual, ou seja, a "mente" do terceiro circuito.

Uma vez que cada um desses túneis-de-realidade consiste de impressões bioquímicas ou matrizes no sistema nervoso, cada um delespode ser especificamente despoletado por neuro-transmissores ou outras drogas.

  • Para ativar o primeiro cérebro tome um opiáceo. A mãe ópio e irmã morfina o levam de volta à inteligência celular, passividade bio-sobrevivente, à consciência flutuante do recém-nascido. (Por isso Freudianos relacionam a viciação em ópio com o desejo de voltar à infância);
  • Para ativar o segundo túnel-de-realidade tome uma quantidade abundante de álcool. Os padrões territoriais dos vertebrados e as políticas emocionais tipicamente mamíferas aparecerão quando o álcool lhe "subir à cabeça". De resto, como Thomas Nashe compreendeu ao adjetivar os vários estados alcoólicos com nomes de animais: "bebâdo burro", "bêbado urso","bêbado porco" etc;
  • Para ativar o terceiro circuito tente café ou chá, uma dieta elevada em proteínas, cocaína ou speed;
  • O neurotransmissor específico para o circuito número quatro ainda não se encontra sintetizado, mas é gerado pelas glândulas depois da puberdade e flui vulcanicamente através das veias dos adolescentes.
Nenhuma dessas drogas terrestres mudam impressões bioquímicas básicas.

Mas todo este robotismo pavloviano-skinneriano muda drástica e dramaticamente quando ligamos o lobo direito, os circuitos futuros e químicos extraterrestres.


V. O Circuito Neurosomático. Quando este quinto "cérebro-corpo" se ativa, todas as configurações Euclideanas explodem multi-dimensionalmente. Os Gestalts mudam, em terminologia de McLuhan, de espaço visual linear para um espaço sensorial. Uma ligação hedônica ocorre, um divertimento arrebatador, um distanciamento do mecanismo previamente compulsivo dos primeiros quatro circuitos. Eu liguei este circuito com maconha e tantra.

A abertura e impressão deste circuito tem sido uma das preocupações dos "técnicos do oculto" - xamãs tântricos e hatha yogis. Enquanto o quinto túnel-de-realidade pode ser atingido por privação sensorial, isolação social, estresse fisiológico ou choque severo, tem sido tradicionalmente reservado à aristocracia educada de sociedades que já resolveram os primeiros quatro problemas de sobrevivência terrestres.

Não se trata porventura de um acidente o fato de o maconheiro, em inglês, definir seu estado como "high" (alto) ou "spaced-out" (fora, no espaço). A transcendência das orientações planetárias - gravitacional, digital, linear ou aristotélica, newtoniana e euclideana (circuitos I-IV) - se trata de, numa perspetiva evolutiva, parte de nossa preparação neurológica para a inevitável migração do nosso planeta atual , começando já. Por isso muitos maconheiros também adoram Star Trek e se vêem como amantes de Ficção-Científica.


VI. O Circuito Neuro-elétrico. O sexto cérebro consiste do sistema nervoso se tornando consciente de si mesmo à parte dos mapas-de-realidade gravitacionais imprimidos (circuitos I-IV) e mesmo à parte da fuga-corporal (circuito V). Alfred Korzybski, o semanticista, chamou este estado "consciência da abstração". O doutor John Lilly chama isso de "metaprogramação", ou seja, consciência da programação de seus próprios programas. Este circuito reconhece, por exemplo, que os mapas-de-realidade aristotélicos, euclideanos ou newtonianos se tratam apenas de três entre bilhões de possíveis programas ou modelos para a experiência humana.

- Este circuito pode ser ligado com peyote, LSD e os metaprogramas de mágicka de Crowley.

Não existe ainda um químico disponível que ative especificamente o sexto circuito, mas psicodélicos fortes como a mescalina e psilocibina abrem o sistema nervoso a uma série de canais de Circuito V e VI. Se dá apropriadamente o nome "tripping" em inglês, que significa "viajando", que se distingue dos nomes do circuito V, "turning on" (se ligando) ou "getting high" (subindo no alto).

A supressão da pesquisa científica nesta área teve como infeliz resultado a criminalização da cultura das drogas, retornando as pessoas ao hedonismo do quinto circuito e túneis-de-realidade pré-científicos. Sem suficiente disciplina e metodologia, poucos podem com sucesso descodificar os normalmente assustadores signais metaprogramadores do circuito número seis. Os cientistas que continuam a estudar esse assunto não se atrevem a publicar seus resultados (ilegais) e discutem esses túneis-de-realidade cada vez mais vastos apenas em conversas privadas - como os cientistas da Era Inquisitorial."

Continua no próximo post.


Monday 8 November 2010

Fernando Pessoa e a dissolução do ego

Intermináveis vezes se fala de Fernando Pessoa e o descrevem ora como um gênio, ora como um louco. Como se os adjetivos chegassem para descrever semelhante ser humano. Para além de gênio e/ou louco, que "era" Pessoa? Qual sua "mensagem", aquando de sua passagem pelo mundo?

Desde sempre senti uma atração por sua obra, por sua tendência para a despersonalização. E após as leituras de Os Invisíveis, onde Grant Morrison defende a personalidade múltipla como opção de vida; A Ascensão de Prometeus e Psicologia Quântica de Robert Anton Wilson, compreendendo que a personalidade não funciona como algo estático e o ego pode ser abandonado em favor de uma multiplicidade de "eu". Como acrescenta RAW em A Ascensão de Prometeus, nossas sociedades são organizadas pelo modelo dos insectos, em que cada um deles tem uma função e sempre deverá desempenhar a mesma. Mas nós, da classe dos hominídeos, funcionamos de forma diferente dos insectos. Porquê então copiar os modelos falhados e outras espécies e não apostar num modelo civilizacional mais de acordo com nossa natureza?

De fato, Pessoa me parece ter compreendido como ninguém a multiplicidade do ser humano. Se costuma dizer que em todos nós existe o potencial para ator. E porquê isso? Porque dependendo das circunstâncias, você poderia "ser" um milhão de pessoas diferentes, mas se tornou naquilo que hoje descreve como "eu". Pessoa ficou também marcado pelo seu interesse no ocultismo, algo que geralmente passa ignorado. Mas não será bem mais que uma coincidência o fato de Pessoa se ter encontrado em Lisboa com Aleister Crowley, ocultista inglês que acabou por influenciar Robert Anton Wilson, Timothy Leary e Grant Morrison?


«Ah não ser eu tôda a gente e tôda a parte!», assim termina Álvaro de Campos a Ode Triunfal.
E que mais não representa Álvaro de Campos senão essa necessidade de expandir, aumentar, estender o potencial humano ao infinito?

Sunday 7 November 2010

O Cogumelo do Espaço

Em 'O Revivalismo Arcaico', Terence McKenna (entre outras tantas teorias) explicita uma de que hoje vou falar. Um ávido explorador no campo das 'drogas' psicodélicas e alucinógenas, McKenna fala de que, numa das suas 'viagens' sob o efeito de psilocibina, teve uma espécie de diálogo com uma suposta inteligência contida no cogumelo Psylocibe cubensis.

Sim, leram bem, inteligência no cogumelo. E sim, diálogo. Loucura? Veremos mais à frente. Continuemos. Nessa viagem, McKenna fica a saber (pela inteligência no cogumelo) que esse mesmo teve origem extraterrestre. Uma idéia facilmente descrita como louca, mas não aconteceu a mesma coisa a Charles Darwin? Ainda mais, McKenna apresenta razões plausíveis para sua teoria.

Para McKenna, o cogumelo Psylocibe cubensis se trata de um simbiote que procura cria uma relação de profundidade com a raça humana. O cogumelo sempre foi visto como uma parte saudável da alimentação humana, até sua demonização pela Igreja Católica. Não por acaso, obviamente. Descobrindo a Santa Sé a existência de um cogumelo no Novo Mundo a quem os nativos chamavam teonanacatl (carne dos deuses) ela se apressou a demonizá-lo o mais que pudesse. Senão vejamos, que há de mais ameaçador para os comandantes de uma organização religiosa que uma substância que lhes retira a importância, uma substância que permite um contato imediato com uma entidade a quem alguns chamariam "Deus"? Decerto sua posição hipócrita, de intermediários entre os homens e Deus, cairia por terra.

Uma das sustentações que McKenna apresenta para sua teoria se prende com o fato de não existir qualquer registo de fungos fossilizados com idades superiores a 40 milhões de anos. A explicação mais ortodoxa defende que isso acontece pelo fato do cogumelo possuir um corpo suave que não ajuda a fossilização. Mas como se explica o fato de se encontrarem fósseis de larvas - que também possuem corpos moles - com mais de um bilhão de anos?

McKenna não defende que aquilo que o cogumelo lhe 'diz' seja a verdade, o que quer que isso seja. Terence não pode se descreve como um cientista, antes um explorador, o equivalente de um Sócrates ou Platão. Quando, em transe, o cogumelo lhe disse que se tratava de um extraterrestre, ele ficou sem compreender se o extraterrestre 'é' de fato o cogumelo em si ou este funciona apenas como um transmissor inter-espécies para contatar outras inteligências do Universo.

Nos anos setenta e oitenta tudo isso que McKenna falou não passou dessa conotação mesmo - loucura. Ainda assim, ao ler seus escritos, não consigo deixar de ter um certo fascínio e otimismo de que grande parte de suas idéias (mesmo o Apocalipse) se venham a concretizar. E daí encontro o seguinte vídeo no Ted Talks. Paul Stamets, um micólogo estadunidense que vem alertando para os potenciais usos dos cogumelos, até hoje ignorados. Tudo aquilo que McKenna fala, Paul Stamets explica numa linguagem própria de um cientista. O cogumelo parece ser bastante mais do que aparenta.