Monday 8 November 2010

Fernando Pessoa e a dissolução do ego

Intermináveis vezes se fala de Fernando Pessoa e o descrevem ora como um gênio, ora como um louco. Como se os adjetivos chegassem para descrever semelhante ser humano. Para além de gênio e/ou louco, que "era" Pessoa? Qual sua "mensagem", aquando de sua passagem pelo mundo?

Desde sempre senti uma atração por sua obra, por sua tendência para a despersonalização. E após as leituras de Os Invisíveis, onde Grant Morrison defende a personalidade múltipla como opção de vida; A Ascensão de Prometeus e Psicologia Quântica de Robert Anton Wilson, compreendendo que a personalidade não funciona como algo estático e o ego pode ser abandonado em favor de uma multiplicidade de "eu". Como acrescenta RAW em A Ascensão de Prometeus, nossas sociedades são organizadas pelo modelo dos insectos, em que cada um deles tem uma função e sempre deverá desempenhar a mesma. Mas nós, da classe dos hominídeos, funcionamos de forma diferente dos insectos. Porquê então copiar os modelos falhados e outras espécies e não apostar num modelo civilizacional mais de acordo com nossa natureza?

De fato, Pessoa me parece ter compreendido como ninguém a multiplicidade do ser humano. Se costuma dizer que em todos nós existe o potencial para ator. E porquê isso? Porque dependendo das circunstâncias, você poderia "ser" um milhão de pessoas diferentes, mas se tornou naquilo que hoje descreve como "eu". Pessoa ficou também marcado pelo seu interesse no ocultismo, algo que geralmente passa ignorado. Mas não será bem mais que uma coincidência o fato de Pessoa se ter encontrado em Lisboa com Aleister Crowley, ocultista inglês que acabou por influenciar Robert Anton Wilson, Timothy Leary e Grant Morrison?


«Ah não ser eu tôda a gente e tôda a parte!», assim termina Álvaro de Campos a Ode Triunfal.
E que mais não representa Álvaro de Campos senão essa necessidade de expandir, aumentar, estender o potencial humano ao infinito?

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