Wednesday 23 March 2011

Uma Teoria Tecno-Evolucionária



Nesse vídeo, Amber Case menciona muitas coisas, algumas das quais me encontro em completo acordo; em outras, discordo completamente. Nos tornamos ciborgues? Se não, devemos estar bem perto disso. Em minhas leituras de McKenna e Morrison, passando pela mente bicameral de Julian Jaynes, venho pensando numa teoria onde algumas de suas idéias acabem por convergir.

Amber case se refere à internet no final do vídeo como parecendo algo mais orgânico do que tecnológico. Aqui me parece residir um erro. Falamos sempre de tecnologia como algo criado pelo homem; mas se a natureza cria os organismos, não podemos falar também desses como tecnologia? Talvez lhes devamos dar um novo nome, como organotecnologia.

Mas o problema principal da palestra de Amber Case reside no fato de ela caminhar no caminho do medo e paranóia das novas tecnologias. Isso me parece assustador, quando seres supostamente inteligentes vêem a mudança tecnológica como algo de mau. Ela se encontra realmente preocupada com o fato de nos encontrarmos perdendo défices de atenção e portanto nos tornando menos conscientes devido ao uso da internet.

Da mesma forma que Sócrates falou contra os livros porque pensava que os seres humanos ficariam menos inteligentes - pena que ele não contou com Gutenberg. A tecnologia nos separa dos animais. Através de nossa criação tecnológica, ultrapassamos nossas barreiras biológicas.

Os homens das cavernas viveram nelas talvez porque as condições meteorológicas não lhes eram favoráveis. Mas depois ele usou peles de animais e criou roupas; cortou árvores e fez casas; e assim levou a caverna consigo para todo o lado - a tecnologia o fez ultrapassar essa barreira biológica. O homem manufatura. Faz coisas para que assim possa sobreviver. Mas nunca sem um propósito.

Depois de Jaynes, VALIS e Morrison, venho pensando que aquilo que temos como consciência comum não passa de uma ilusão. Talvez nós pensamos que "existimos". A ilusão não reside em pensarmos que existimos, mas na assunção que "somos" indivíduos. Se Jaynes estiver certo, e a consciência não passar de uma coisa cultural em vez de evolucionária, então a individualidade faz parte dessa ilusão; se pegarmos na teoria de Grant Morrison de que "somos" seções através do tempo, partes de um todo, ramos da mesma árvore humana (que nunca vêem toda a árvore e portanto acham que apenas eles existem), então de novo a individualidade ganha força como se tratando de uma ilusão. Uma mentira. Nossos sentidos nos mentem em pensarmos que "somos" separados, individuais.

A consciência nos faz viver dentro de nossas cabeças em vez de fora delas. E porque pensamos que vivemos no interior, julgamos que existe algo chamado o "lá fora", o "exterior", o "estrangeiro". E essa se trata de uma outra ilusão ainda - essa bem mais perigosa - de que vivemos fora da natureza. E voltando a Morrison, bem, a natureza inclui tudo. Carros, edifícios, microondas, bomba atômica, garfos, roupas, tudo.

A criação humana não passa de biologia tecnologicamente modificada - mas não podemos deixar de lhe chamar natureza. E agora se voltarmos a Terence McKenna e a sua teoria de que a natureza nos usa para se transformar, chego num ponto em que começo a duvidar desse fenômeno chamado "poluição". Porque se a natureza pretende que nós a alteremos, essa coisa de poluição não existe. A chamamos de poluição porque estamos danificando o habitat de certos organismos biológicos, que dependem de oxigênio para viver.

Mas como provam as recentes descobertas da NASA, talvez nem todos os organismos precisem de oxigênio para viver. As árvores, por exemplo, respiram dióxido de carbono. Chamamos esse fenômeno de poluição porque não o entendemos. E se estivermos de fato mudando o mundo através dessa chamada "poluição"? E se o novo mundo que criarmos for um mundo em que nós mesmos teremos de ser recriados?

Se a teoria de McKenna de que a natureza através da inteligência artificial quer que nos tornemos em máquinas for verdade, essa poluição não nos fará grande mal. As máquinas não respiram, portanto não têm grandes problemas nesse aspeto. Pelo contrário, para as máquinas algo verdadeiramente hostil se trata da água, que enferruja seus metais - para nós seres biológicos, pelo contrário, a água se mostra essencial.

Mas e se o homem deixar de ser biológico e passar a máquina? Fico algo desesperado, isso sim, quando vejo seres supostamente inteligentes se comportando de forma estúpida. Pessoas que não conseguem ver mais adiante porque lhes falta imaginação. Pois que se possuíssem imaginação, não enviariam uma nave para o espaço com música e livros relacionados com a natureza humana para o espaço, na esperança de que algum extra-terrestre a encontrasse.

Porque se tivessem imaginação logo compreenderiam que se esses extra-terrestres evoluíram de forma completamente diferente da nossa, possivelmente terão à sua disposição outro tipo de sentidos e talvez não sejam capazes sequer de sentir essas coisas que a natureza humana sente. Tente explicar filosofia para uma mosca - ela não entende, porque seus sentidos não foram feitos para compreender a natureza humana, da mesma forma que os seres humanos não entendem porque a mosca come merda.

Como Robert Anton Wilson explica em seu Gatilho Cósmico, talvez mesmo aqui, em nosso planeta, existam "aliens". Seres que não consigamos sentir com nossos sentidos normais. E talvez eles também não saibam de nossa "existência" porque seu sistema perpecional "é"diferente do nosso. Porque a realidade em que vivem se trata de outra. Se isso não se pode chamar de prisão, o que pode?

Agora para minhas alegações finais: partindo do princípio de que através da consciência desenvolvemos a individualidade e isso nos levou a virar as costas uns aos outros, a matar incessantemente, a destruir, a natureza nos voltou a colocar no caminho devido, através da internet. E disso proliferam palavras positivas como "partilha". Uma vez que parecemos ter perdido ou nos tornado biologicamente ignorantes da ligação existente na nossa espécie, de que todos partimos da mesma fonte, de que todos somos partes da mesma máquina, a internet nos veio lembrar que não estamos sós. Que somos irmãos.

E então, todos os dias pessoas trabalham para que tenhamos sistemas cada vez mais avançados de tradução linguística que em vinte, quarenta ou sessenta anos tornarão as linguagens obsoletas. Se as linguagens se tornarem obsoletas e todos se compreenderem, as nações entrarão em colapso. E isso nos levará ao inevitável destino que muitos temem sem razão: a Nova Ordem Mundial. Exceto que se trata de uma coisa boa. Um mundo onde todo o mundo se compreende, se escuta. O mundo pelo qual tenho esperado. O mundo como devia "ser".


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