Tuesday 31 August 2010

As Máquinas & The Matrix

The Matrix, de Andy & Larry (hoje Lana) Wachowski foi, em 1999, o primeiro filme a me aniquilar com  sua mescla de cyber-punk, kung fu e FC.

Tudo isso, claro, antes de saber que muitas dessas idéias dos Wachowski não lhes pertenciam na realidade, mas tinham sido retiradas de outra HQ que eu viria conhecendo muitos anos depois, Os Invisíveis.

Morpheus, que acho uma das personagens mais cool de sempre do cinema, nasce dessa fusão entre Tom O'Bedlam e King Mob.

Neo incorpora um Dane MacGowan sem seu humor sarcástico.

Etc, etc. Morrison só demonstra sua grandeza por não se envolver num processo judicial que facilmente ganharia.

Apesar de tudo, não sou capaz de não gostar de The Matrix - mas sou capaz de não gostar de algumas coisas nele.

A idéia que mais desgosto se trata dessa guerra entre humanos e máquinas, em que as "pérfidas" e frias máquinas plantam - no verdadeiro sentido da palavra - seres humanos para os consumirem como energia. E, para não terem muito trabalho, lhes criaram uma realidade "não existente" em que os seres humanos "dormem", com e sem aspas.

Algo que me fez desgostar dessa idéia, foi algo que li numa entrevista a Terence McKenna.
Um homem de idéias lúcidas, por sinal.

«Uma das fantasias de Ficção-científica que povoa nosso inconsciente coletivo é expressada na frase "um mundo dirigido por máquinas"; nos anos 50 isso foi primeiramente incorporado na noção, "talvez o futuro seja um lugar terrível onde o mundo é dirigido por máquinas." Bem, pensemos um pouco nessas máquinas. Elas são extremamente imparciais, muito previsíveis e nada fáceis de persuadir moralmente. Seus valores são neutros e vivem bastante. Agora, pensemos um pouco sobre de essas máquinas são feitas, à luz da teoria do campo morfogenético de Sheldrake. As máquinas são feitas de metal, vidro, ouro, silicone e plástico; elas são feitas daquilo que a Terra é feita. Agora veja, não seria algo estranho se a biologia fosse uma forma da Terra se transformar arquétipalmente numa coisa auto-refletiva? Nesse caso, aquilo para onde caminhamos, inevitavelmente, é a criação de um mundo dirigido por máquinas. E assim que essas máquinas estiverem em seus lugares, o que podemos esperar é que elas façam uma gestão de nossas economias, linguagens, aspirações sociais e por aí em diante, de uma forma tal que nos paremos de matar uns aos outros, paremos de nos esfomear mutuamente, de destruir terra e muito mais. Na verdade, o medo de sermos governados por máquinas se trata do medo que o ego do macho tem de entregar o controlo do planeta à matriz maternal de Gaia.»


Assim que li essa opinião de McKenna, várias coisas fizeram clique na minha mente.

Primeiro, essa coisa do medo do ego machista, algo que, como macho, senti quando vi The Matrix.
E de notar também que me parece pouco provável que alguma mulher se preocupe com semelhantes coisas, daí que, na sua teoria, McKenna tem grandes probabilidades de estar correto. Eu, pelo menos, não conheço nenhuma.

Essa idéia dos materiais de que a Terra é feita e que a biologia pode ser uma forma da Terra se tornar uma coisa auto-refletiva me parece fascinante. Sempre me fascinou a Hipótese de Gaia, mesmo antes de ouvir falar nela. A idéia da Terra como organismo sempre me pareceu possível e altamente provável. Ela se está antropomorfizando para impedir sua própria destruição.


Então e The Matrix?

Todo esse medo da dominação por parte das máquinas me parece amplamente patético. Sempre que vejo e revejo o filme original e suas sequelas, a imagem mais latente (pelos piores motivos) é essa patética guerra de humanos contra máquinas.

Como McKenna refere e bem, as máquinas não possuem ambições ou emoções humanas, seu comportamento assenta numa imparcialidade e valores neutros. Como tal, essa guerra não tem sentido.
O filme parte do princípio de que essas máquinas agiriam da mesma forma que os humanos, mas não dá nenhuma explicação. O último filme da saga me parece particularmente ridículo e desprovido de idéias.

Essa resistência de Zion, para mim, representa numa forma bastante simples o medo que o ego masculino tem de perder o controle. E você, o que acha?

3 comments:

  1. Curti o trecho sobre o planeta usar a máquina pra nivelar as coisas :-)
    Avisando que esse lance sobre o início da guerra só é explicado no filme com os curtas de animação que é uma espécie de prequel do filme, o Animatrix, principalmente o Second Renaissance parte 1 e parte 2.
    Quanto os elementos cyberpunk e tal copiaram todos da trilogia de livros do Gibson e a partir do feeling desses livros montaram a história (até que inovadora), mas custava citar que tiveram influências de Gibson? Tenso.
    Curti o post. Até mais.

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  2. Vou deixar mais claro: Esse trecho do McKenna é genial. Nunca tinha pensado sob esse ponto de vista. Ele discorre sobre o assunto em algum dos livros dele? ou foi só na entrevista?

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  3. De McKenna li apenas ainda o Food of the Gods, vi alguns vídeos no Youtube e essa entrevista. Mas do que li, até agora, foi tudo muito bom.

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